A crise no Partido Republicano não diminui nem com as mudanças no comando da campanha feitas pelo pré-candidato do partido à presidência, o bilionário Donald Trump. Os oposicionistas estão penando para conseguir convencer estrelas do partido a comparecerem à convenção de Cleveland, que em julho tornará a indicação de Trump oficial.
Eduardo Graça, correspondente da RFI em Nova York
Doadores tradicionais não estão abrindo suas carteiras. O candidato não ajuda, cometendo uma gafe atrás da outra e a eleição só não parece perdida de vez porque a desaprovação à ex-secretária de Estado Hillary Clinton, a virtual candidata democrata à sucessão de Barack Obama, é quase tão alta quanto a de Trump.
Não é um exagero afirmar que os republicanos vêem novembro chegando cada vez mais desesperados com o candidato que escolheram para a presidência. Ontem, o guru dos números da política aqui nos EUA, Nate Silver, calculou em 79% as chances de Hillary vencer as eleições. O site Politico, por sua vez, contatou 50 governadores, senadores, deputados e prefeitos republicanos e a falta de interesse deles foi completa em ocupar um dos sempre disputados postos de oradores na convenção.
Doadores tradicionais do partido decidiram não colaborar com Trump e no último dia de maio, enquanto Hillary tinha US$ 42 milhões amealhados em doações, Trump não chegava a US$ 1,5 milhão. E se ainda não recebeu o apoio oficial do senador Bernie Sanders, Hillary passou o fim de semana ao lado uma das principais lideranças da esquerda do partido, a senadora Elizabeth Warren, que participou, entusiasmada, de comício ao lado da democrata.
Hillary ainda não dispara nas pesquisas
Ontem à noite a Universidade Quinnipiac, aqui do estado vizinho de Connecticut, respeitada por seu centro de pesquisas de opinião, divulgou consulta nacional de eleitores em que Hillary tem 42% das intenções de votos no contra 40% de Trump. 18% dos entrevistados afirmam não votar de jeito nenhum nos dois nomes majoritários. Clinton lidera disparado entre mulheres, negros, eleitores de origem latino-americana e jovens. Já Trump aparece à frente entre homens, caucasianos e eleitores com mais de 65 anos.
Na terça-feira, Trump anunciou a criação de de uma plataforma econômica mais próxima do interesse dos eleitores de classe média-baixa, que nas últimas décadas votaram quase sempre em candidatos democratas. O novo comando da campanha Trump parece ter entendido que não há possibilidade de vitória em novembro a não ser que ele conquiste a quase totalidade do voto dos eleitores caucasianos, de todas as classe sociais.
Trump também defendeu teses alienígenas ao conservadorismo republicano, como o reerguimento da indústria siderúrgica, agora voltada para projetos de infraestrutura, gerando milhares de empregos no país. Também bateu duro no Nafta, e na parceria econômica com o Canadá e o México, de olho no resultado do referendo britânico da semana passada. Trump aposta que pode conseguir atrair para sua campanha um eleitor parecido com o dos rincões ingleses: mais preocupado com a oposição entre multiculturalismo e globalização do que com esquerda versus direita.
Na pesquisa de ontem, Hillary é considerada a candidata mais inteligente e bem-preparada para governar o país, mas quando perguntados sobre quem defenderia melhor os EUA contra o terrorismo, Trump vence de goleada.
Ataque terrorista é explorado por republicano
Ontem o republicano declarou que “ou bem reagimos de forma mais dura às ameaças ou não recuperaremos nosso país”. Clinton, que é das mais intervencionistas entre os democratas afirmou, por sua vez, que o atentado é, também, um lembrete de que os EUA não podem recuar no tabuleiro internacional. Em entrevista ao canal PBS, ontem de noite, o diretor da CIA, John O. Brennan, afirmou que seus pares nos comandos das agências de inteligência mundo afora têm demonstrado preocupação com a possibilidade de um governo Trump no que diz respeito à reação à ameaça terrorista.c
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