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Disputa entre Maduro e oposição pode paralisar política venezuelana

Ao contrário do que fez a oposição venezuelana em todas as eleições que perdeu desde a chegada de Hugo Chávez ao poder, em 1998, Nicolás Maduro aceitou a derrota nas últimas eleições legislativas, que garantiram à oposição dois terços do Parlamento.  Mas isso não deve diminuir as tensões na Venezuela. Lideranças da nova Assembleia falam abertamente da vontade de encurtar o mandato do presidente que, por sua vez, descarta qualquer possibilidade de anistiar 75 opositores que continuam presos no país.

O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, discursa para partidários diante do palácio de Miraflores, em Caracas
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, discursa para partidários diante do palácio de Miraflores, em Caracas REUTERS/Miraflores Palace/Handout via Reuters
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"Não aceitarei nenhuma lei de anisita porque (esses prisioneiros) violaram direitos humanos", declarou Maduro em um discurso difundido na última edição de seu programa semanal. "A cada medida que a Assembleia tomar, nós teremos uma reação constitucional, revolucionária e, acima de tudo, socialista", garantiu o presidente. Na quarta-feira à noite, diante de centenas de militantes do partido bolivariano PSUV, fundado por Chávez, ele se disse disposto a comandar uma "revolução radical".

"Ou saímos deste lamaçal pela via revolucionária ou a Venezuela vai entrar em um enorme conflito que vai afetar toda a região da América Latina e do Caribe", discursou. Diante de partidários, ele recuperou a energia que pareceu perdida durante o pronunciamento de domingo em que reconheceu a derrota eleitoral. A oposição, reunida em uma coalizão de direita liberal, impôs a mais dura derrota ao chavismo, aproveitando-se de um contexto de crise econômica, agravada pela queda no preço do petróleo e uma inflação artificial do preço das importações, perpetrada por um empresariado abertamente hostil ao bolivarianismo.

Resistência interna a Maduro

O descontentamento, no entanto, não deriva somente da oposição tradicional de classe média, mas das próprias fileiras chavistas, como aponta a popularidade historicamente baixa do presidente. A impressão geral é que, se Hugo Chávez estivesse no comando, "as coisas seriam diferentes", como avaliou Omar Ochoa, funcionário da companhia petrolífera estatal PDVSA, entrevistado pela AFP durante a manifestação de apoio à revolução bolivariana diante da sede do governo. Para ele, Maduro foi negligente na gestão da crise econômica: "O chavismo tem muitos líderes, pessoas competentes, é preciso mudar, pensar em novas lideranças para salvar o projeto de Hugo Chávez.

Para alguns militantes, como Peregrina Roldan, "os eleitores se enganaram no domingo". Ela se referia ao fato de que, durante a campanha, a oposição chegou a usar a imagem ainda muito popular de Hugo Chávez, morto de câncer em 2013, para angariar votos. "(Ao votar em Maduro) eu votei por Chávez", garantiu, também em entrevista à AFP. Na quarta-feira, houve uma briga no centro de Caracas durante uma conferência de chavistas que se opõem a Maduro. Militantes "maduristas" invadiram a conferência para denunciar o que chamam de "falsos bolivarianos".

Paralisia política

Enquanto os socialistas brigam entre si, a oposição articula as medidas que tentará aprovar a partir de 5 de janeiro, quando a nova Assembleia assume suas funções. A primeira delas deve ser, justamente, a anistia do que os opositores chamam de "presos políticos". Entre eles, está Leopoldo López, líder do movimento golpista "saia agora", condenado a 14 anos de prisão por incitação à violência durante as manifestações de 2014, em que ao menos 43 pessoas morreram.

De acordo com a deputada eleita Delsa Solorzano, encarregada do projeto de anistia, a Assembleia está disposta a desconsiderar um provável veto do presidente e promulgar a lei por conta própria. Ou seja, o que se anuncia é uma sequência de quedas-de-braço que ameaçam paralisar a política venezuelana, em um movimento parecido com o que acontece hoje no Brasil. A julgar pelo caso do vizinho, Maduro pode em breve se ver obrigado a ver sua sobrevivência política no epicentro da briga parlamentar.
 

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