Presidente eleito da Guatemala, Jimmy Morales diz não ter relação com os militares

Por Carlos HerranzEm entrevista exclusiva nesta sexta-feira (6) à RFI, o presidente eleito da Guatemala, o comediante evangélico Jimmy Morales, fala sobre seus planos de governo, sobre o ex-presidente Otto Pérez, que renunciou e foi preso após um escândalo de corrupção, e sobre as supostas relações do seu partido com os militares. Morales, que se tornou o décimo presidente da era democrática do país, toma posse no dia 14 de janeiro do ano que vem, para um mandato de quatro anos (2016-2020). Leia e ouça abaixo a entrevista.

Jimmy Morales Reuters

RFI: O senhor já se acostumou com a ideia de ser presidente ou ainda é muito cedo?

Jimmy Morales: Não, ainda não (risos). Ainda não assumi o cargo, mas tenho tempo para me acostumar, ainda faltam dois meses.

RFI: Há pessoas que consideram um problema o fato de o senhor não ter experiência política e outras acham que, exatamente por não ter experiência, o senhor tem menos compromissos políticos e menos da inércia característica do poder. O senhor é o triunfo do antipolítico?

Jimmy Morales: Acho que o fato de não ter essa carga de participação na política tradicional da Guatemala foi o que me levou a ganhar as eleições. Isso, aliado a um discurso coerente sobre as coisas básicas e mínimas que nunca foram feitas na Guatemala: tornar eficiente o sistema de saúde que, atualmente, não conta nem seque com remédios. E fazer o mesmo com o sistema educativo, que continua a ser um dois piores de toda a América Latina. Se somamos a isso o fato de que tivemos êxito em várias cidadezinhas do país, tanto em nível empresarial como artístico e pessoal, acho que as pessoas confiam em nós. E hoje temos a oportunidade de chegar à administração pública sem compromisso, levando em conta que a nossa campanha foi sóbria, simples e de baixo custo.

RFI: Quais garantias o senhor oferece como presidente de que não haverá casos de corrupção no seu governo, como vimos nos mandatos anteriores?

Jimmy Morales: Eu acho que as pessoas podem ter como garantia a minha própria trajetória de vida. Ninguém nunca me acusou de ter participado de atos de corrupção. Então essa trajetória me dá a possibilidade de dar exemplo. As altas autoridades têm que ter uma solvência moral para poder exigir aos cargos mais baixos uma conduta similar. Se a isso somamos o nosso propósito de cumprimento da lei e de prestação de contas, achamos que isso se tornará uma referência de garantia de transparência e de luta contra a corrupção.

RFI: Otto Pérez Molina, o seu antecessor, está onde deve estar?

Jimmy Morales: Acho que sim. Ele está enfrentando o devido processo. Ainda não foi condenado, mas, como está indo o processo, ele deve ser condenado. Enquanto dura o processo e pela provas que foram encontradas, ele deve permanecer detido em um centro como uma forma de prevenção.

RFI: Da prisão, Otto Pérez acusou os Estados Unidos de iniciar uma nova era de ingerência na América Central interferindo na justiça com organismos internacionais anticorrupção. O senhor compartilha dessa opinião?

Jimmy Morales: Ele deveria ter dito isso quanto estava no palácio presidencial, não na prisão.

RFI: O fato de seu partido ter laços com os militares será um obstáculo para a luta contra a impunidade na Guatemala?

Jimmy Morales: Eu acho que você está equivocado porque o meu partido não tem laços com nenhuma estrutura militar. Isso foi parte de um discurso dos meus detratores políticos, que quiseram me vincular a essas estruturas. Mas convido vocês a vir à Guatemala para realizar investigações por conta própria. Senão, eu peço que não tomem isso como verdade, porque essa foi uma das mentiras utilizadas pelos nossos opositores políticos.

RFI: Qual será a sua primeira medida quando assumir o poder em 14 de janeiro?

Jimmy Morales: Obter todos os recursos necessários para que haja remédios nos hospitais.