Acessar o conteúdo principal
EUA/CIA

CIA reconhece que usou métodos "repugnantes" em interrogatórios

John Brennan, diretor da agência americana de inteligência, a CIA, rompeu o silêncio para fazer um "mea culpa" sobre o uso da tortura contra suspeitos de terrorismo. Durante uma entrevista coletiva na quinta-feira (11), na sede da agência, em Langley, ele admitiu que alguns agentes recorreram a métodos "repugnantes" durante interrogatórios feitos após os atentados de 11 de setembro de 2011, nos Estados Unidos.

John Brennan, diretor da CIA, responde a perguntas de jornalistas durante coletiva para falar dos métodos empregados pela agência em interrogatórios.
John Brennan, diretor da CIA, responde a perguntas de jornalistas durante coletiva para falar dos métodos empregados pela agência em interrogatórios. REUTERS/Larry Downing
Publicidade

As práticas cruéis do poderoso serviço de informação dos Estados Unidos foram reveladas nesta semana por um relatório do Senado americano. O documento considerou ainda que a CIA foi ineficaz na prevenção de atos terroristas. Durante a coletiva, Brennan tentou defender o profissionalismo da agência, mas reconheceu as falhas.

"A CIA não estava preparada para conduzir interrogatórios de prisioneiros. Em um número limitado de casos, os agentes da CIA usaram técnicas de interrogatório que não foram autorizadas e que devem ser repudiadas por todos", disse.

"Mas é importante ressaltar que os agentes envolvidos nesse programa, em sua grande maioria, foram responsáveis, não desrespeitaram a lei e cumpriram ordens", ressaltou.

Brennan afirmou "ser impossível" saber se as informações obtidas mediante técnicas de interrogatório forçadas poderiam ter sido reveladas "por outros meios".

Métodos provocaram indignação mundial

O relatório publicado pelo Senado americano, que provocou uma onda de indignação pelo mundo, descreve com detalhes como alguns presos foram tratados pelos agentes da CIA. Muitos deles ficaram pendurados durante dias no escuro, tomaram banhos de água gelada, ficaram uma semana sem poder dormir e foram submetidos a sessões de waterboarding, técnica que simula afogamentos.

Segundo o documento, Khaled Cheikh Mohammed, suspeito de ser o mentor intelectual dos atentados de 11 de setembro, ingeriu uma grande quantidade de água durante uma sessão de waterboarding, que por pouco não o matou  afogado.

Essa técnica de simulação de afogamento teria sido aprovada como método de interrogatório pelas altas instâncias do poder durante o mandato do ex-presidente George Walker Bush. O diretor da CIA não empregou em nenhum momento a palavra tortura, dizendo que cabe "a outras pessoas qualificarem essas atividades".

"Nós tínhamos pouca experiência na detenção de prisioneiros e poucos agentes tinham sido informados dos interrogatórios", afirmou o diretor, durante a coletiva de imprensa, que foi transmitida ao vivo pela televisão, um fato raro nos Estados Unidos. Segundo ele, a CIA "navegou em águas desconhecidas" depois dos ataques de setembro de 2001.

Brennan também reconheceu que o uso de tais métodos forçados tinha "grandes chances" de colher informações distorcidas. "Quando uma pessoa é submetida a este tipo de técnica, ela pode assumir qualquer coisa apenas para que chegue ao fim", declarou. Brennan informou que várias reformas estão sendo adotadas para evitar que esse tipo de situação se reproduza.

Obama considerou os métodos como tortura

John Brennan respondeu a várias perguntas dos jornalistas e pesou muito bem as palavras para não se indispor com o presidente Barack Obama. O presidente americano, que pôs fim ao programa da CIA quando chegou à Casa Branca, em 2009, julgou que os métodos usados contra os detidos, "que qualquer pessoa deveria considerar como tortura", eram contrários aos valores dos Estados Unidos.
 

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.