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População no Equador está 'em pânico' com explosões e ameaças de traficantes nas redes sociais

Uma recente onda de violência deixou pelo menos dez pessoas mortas no Equador. O presidente Daniel Noboa declarou estado de "conflito armado interno" e enviou as forças armadas para as ruas depois que traficantes armados invadiram uma estação de televisão ao vivo. Segundo Luis Cordova Alarcon, coordenador do Programa de Investigação, Ordem, Conflito e Violência da Universidade Central do Equador, "o medo de espalha", com vídeos de gangues ameaçando sequestrar policiais.

O Equador, sob pressão das gangues do narcotráfico, encontra-se sitiado: soldados patrulham a área da prisão El Inca, em Quito, em 9 de janeiro de 2023.
O Equador, sob pressão das gangues do narcotráfico, encontra-se sitiado: soldados patrulham a área da prisão El Inca, em Quito, em 9 de janeiro de 2023. AP - Dolores Ochoa
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Para Luis Cordova Alarcon, o problema autal é a "evidência concreta de que o governo equatoriano, diante da incapacidade de fazer uma reforma policial eficaz, se depara com instituições totalmente infiltradas pelo crime organizado". 

"O Estado equatoriano é incapaz de implementar as decisões tomadas pelo governo. É por isso que o líder dos Lobos foi preso e já está foragido da prisão de Riobamba, e o líder dos Choneros também saiu da prisão há mais de uma semana e o governo só descobriu recentemente. Evidentemente, a sociedade está mais uma vez em pânico porque há atos terroristas, carros incendiados, explosões em passarelas de pedestres em pelo menos 10 cidades do país. Somam-se a isso vídeos que as próprias gangues divulgaram nas redes sociais, ameaçando sequestrar policiais. O medo está se espalhando", afirmou em entrevista à RFI.

Mortes

"Oito pessoas foram mortas" em ataques no porto de Guayaquil, no sudoeste do país, segundo informações um chefe de polícia local. As autoridades também disseram que dois policiais foram "cruelmente assassinados por criminosos armados" na cidade vizinha de Nobol.

O presidente Daniel Noboa decretou na terça-feira (9) "conflito armado interno", em meio a um estado de emergência de 60 dias que ele havia promulgado na segunda-feira (8), quando começaram os sequestros de policiais, os ataques à imprensa e as rebeliões nas prisões.

O presidente de 36 anos também ordenou que as forças armadas "realizassem operações militares (...) para neutralizar" cerca de 20 grupos criminosos, que ele descreveu como "organizações terroristas e atores não estatais beligerantes".

O novo decreto veio depois que homens armados e encapuzados entraram no canal TC Televisión em Guayaquil, enquanto os jornalistas transmitiam um noticiário ao vivo. A invasão gerou um dramático impasse que durou pelo menos 30 minutos antes da intervenção da polícia. "Não atire, por favor, não atire", gritou uma mulher, em meio aos tiros.

Antes de as luzes se apagarem, os homens encapuzados foram vistos empunhando uma granada, apontando armas para os trabalhadores da TV e colocando o que parecia ser um bastão de dinamite no casaco de uma pessoa.

Um jornalista do TC enviou mensagens de WhatsApp a um repórter da agência AFP dizendo: "Por favor, eles vieram para nos matar. Deus queira que isso não aconteça. Os criminosos estão no ar". A polícia pôs fim ao ataque e prendeu 13 pessoas.

Em março, cinco envelopes contendo pen drives carregados com explosivos foram enviados a jornalistas de vários meios de comunicação. Uma das explosões feriu levamente uma pessoa.

Medo nas ruas

A situação gerou pânico em várias cidades, com lojas fechando mais cedo e ruas cheias de pessoas correndo para casa. As aulas foram trocadas de presenciais para on-line até sexta-feira (12). O Brasil, a Colômbia, o Chile, a Venezuela, a República Dominicana e os Estados Unidos expressaram apoio a Quito e rejeitaram a violência.

O Peru declarou estado de emergência ao longo de sua fronteira com o Equador e intensificará a vigilância, informou seu governo. A embaixada chinesa em Quito e seu consulado em Guayaquil anunciaram que suspenderão temporariamente seus serviços ao público a partir desta quarta-feira, sem especificar quando serão reabertos.

Nos últimos dois dias, o Equador viveu momentos de terror após a fuga de Adolfo Macías, conhecido como Fito, líder de Los Choneros, a principal gangue criminosa do país. Ele estava detido em uma prisão em Guayaquil.

Em resposta à fuga de Fito, Noboa decretou na segunda-feira o estado de emergência em todo o território, inclusive nas prisões, e um toque de recolher de seis horas a partir das 23h locais.

Também na terça-feira, Fabricio Colón Pico, um dos chefes do Los Lobos, preso na sexta-feira (5) por sequestro e suposto envolvimento em um plano para assassinar o procurador-geral, fugiu.

A onda de violência atinge várias cidades, incluindo Quito. Na capital, sete policiais foram sequestrados, houve explosões contra uma delegacia de polícia e em frente à casa do presidente da Suprema Corte de Justiça, e veículos foram incendiados. Três dos policiais "foram libertados e levados para um local seguro", informou a polícia no X.

Em prisões de cinco localidades, 139 guardas e funcionários administrativos estão sendo mantidos por prisioneiros, informou a agência de prisões (SNAI).

Vídeos não verificados que circulam nas mídias sociais mostraram supostos prisioneiros sendo ameaçados com facas e a suposta execução de pelo menos dois guardas, com tiros e enforcamento.

"Atos sangrentos e sem precedentes"

Fito estava cumprindo uma sentença de 34 anos na prisão regional de Guayaquil por crime organizado, tráfico de drogas e assassinato. Os Choneros estão lutando com cerca de 20 outras gangues pelas rotas do tráfico de drogas, em uma guerra que está fragilizando o país.

Noboa atribui o ataque a uma retaliação por suas ações para "recuperar o controle" das prisões e advertiu que não negociará com "terroristas".

Os criminosos "cometeram atos sangrentos sem precedentes na história do país, mas, apesar de sua brutalidade, essa tentativa fracassará", disse o almirante Jaime Vela, chefe do comando conjunto das forças armadas, aos repórteres após uma reunião do conselho de segurança em Quito, presidida por Noboa.

Localizado entre a Colômbia e o Peru, os maiores produtores de cocaína do mundo, o Equador deixou de ser uma ilha de paz para se tornar um reduto da guerra às drogas. O ano de 2023 encerrou com mais de 7.800 homicídios e 220 toneladas de drogas apreendidas, novos recordes na nação de 17 milhões de habitantes.

Desde 2021, os confrontos entre prisioneiros deixaram mais de 460 mortos no Equador. Além disso, os homicídios de rua entre 2018 e 2023 cresceram quase 800%, de 6 para 46 por 100.000 habitantes.

(Com AFP)

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