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Explosão de violência no Haiti: ONU diz que pessoas são queimadas vivas pelas gangues

Mais de 600 pessoas morreram em abril em virtude da violência de grupos criminosos que controlam vários bairros da capital haitiana, alertou a Organização das Nações Unidas nesta terça-feira (9). A ONU afirma que o número de mortos pode ser ainda mais alto, alerta para o nível de violência extrema das execuções e pede o envio urgente de uma força de apoio.

Violência de grupos criminosos deixou mais de 600 mortos apenas no mês de abril na capital haitiana e arredores.
Violência de grupos criminosos deixou mais de 600 mortos apenas no mês de abril na capital haitiana e arredores. AP - Odelyn Joseph
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De acordo com um comunicado do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, “mais de 600 pessoas morreram em uma nova onda de violência extrema que atingiu vários bairros da capital”, em um balanço que se soma “ao assassinato de pelo menos 846 pessoas nos primeiros três meses de 2023, além de 393 feridos e 395 sequestrados no período".

Em entrevista à RFI, Ravina Shamdasani, porta-voz do Alto Comissariado da ONU, afirma que ainda é difícil estabelecer um balanço exato do número de vítimas. “De acordo com nossa análise, esses números estão provavelmente subestimados. Entre janeiro e março, registramos outras 846 pessoas mortas. Estamos, portanto, falando de mais de 1.440 óbitos desde o início do ano”, calcula.

Além desse quadro funesto, a identidade das vítimas ainda precisa ser verificada. “Não sabemos exatamente quem são as pessoas mortas, pois reina uma grande confusão. Entre os mortos, há pessoas apenas ligadas a grupos criminosos, outras que são membros dessas gangues e também há policiais que podem ser membros de gangues, então não está claro”, relata.Precisamos urgentemente que a comunidade internacional envie uma força de apoio de Direitos Humanos para ajudar a polícia haitiana, as autoridades judiciais e o governo a administrar esta crise”, insiste.

O Haiti, a nação mais pobre do Hemisfério Ocidental, foi devastado por sucessivas crises políticas, de segurança e saúde. Atualmente, o país é dominado por grupos armados que controlam grande parte da capital. Em um relatório trimestral (janeiro a março) publicado nesta terça-feira, a ONU destaca que a violência não só está mais extrema e frequente, como propaga-se de modo inexorável à medida que as gangues tentam expandir seu controle.

Violência sexual para impor o terror

Áreas de Porto Príncipe que antes eram consideradas seguras, como Kenscoff e Pétion Ville, assim como Artibonite, a 167 quilômetros ao norte da capital, agora são afetadas pela violência. Os sequestros – pelo menos 395 no primeiro trimestre de 2023 – aumentaram 12% em relação ao trimestre anterior, e as gangues continuam usando a violência sexual para impor o terror e fazer a população sofrer.

O relatório menciona incidentes durante os quais franco-atiradores abriram fogo de maneira indiscriminada contra pedestres e residências. Também houve casos de pessoas queimadas vivas nos transportes.

O documento aponta ainda o surgimento de grupos de autodefesa, conhecidos como "brigadas de vigilância", após apelos de políticos e jornalistas para que os cidadãos se organizem e combatam a violência dos criminosos. Estes grupos desencadearam linchamentos em massa, que resultaram na morte de pelo menos 75 pessoas, entre eles 66 membros de gangues, no primeiro trimestre, segundo o relatório da ONU.

Cadáveres de supostos membros das gangues são incendiados diante da população em um bairro de Porto Príncipe.
Cadáveres de supostos membros das gangues são incendiados diante da população em um bairro de Porto Príncipe. AP - Odelyn Joseph

O alto comissário para os Direitos Humanos, Volker Türk, denunciou "um ciclo interminável de violência no Haiti". O representante da ONU, que fez uma visita oficial ao país em fevereiro, reiterou o pedido de ajuda da comunidade internacional.

"O Estado tem a obrigação de proteger seus cidadãos. A população deve contar com a polícia e as autoridades judiciais para combater a violência das gangues", disse Türk. "Mas a realidade é que o Estado não tem capacidade de agir. A população faz a sua própria justiça, mas isso só alimenta a espiral da violência", alertou o alto comissário para os Direitos Humanos da ONU.

(Com informações da AFP)

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