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Colômbia: Consórcio internacional continua investigação contra mineradora após assassinato de jornalista

A RFI se associa ao Consórcio Internacional de investigações "Forbidden Stories" para retomar o trabalho de Rafael Moreno, jornalista colombiano assassinado há seis meses em circunstâncias ainda não elucidadas. O repórter denunciava as atividades da mineradora Serro Matoso S.A., que geram impacto ambiental para comunidades indígenas. 

O Projeto Rafael é uma investigação do Consórico "Forbidden Stories", que visa proteger material de jornalistas ameaçados em suas atividades de investigação.
O Projeto Rafael é uma investigação do Consórico "Forbidden Stories", que visa proteger material de jornalistas ameaçados em suas atividades de investigação. © Forbidden Stories
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Em 16 de outubro de 2022, um homem foi morto a tiros em seu restaurante em Montelíbano, cidade do departamento de Córdoba, no norte da Colômbia. Esse foi o último assassinato de uma longa série em uma região marcada pela violência de grupos armados. Mas neste dia, a vítima era um jornalista investigativo conhecido por suas denúncias.

Rafael Moreno, 37 anos, tinha uma página no Facebook há seis anos, onde revelava inúmeros escândalos envolvendo as elites políticas e econômicas de sua região. Usando sua experiência como ativista político local, praticou um jornalismo engajado, exigindo explicações dos governos local e nacional.

Contratos públicos duvidosos, mineração fraudulenta, violações da lei por poderosas empresas privadas, domínio de grupos criminosos: Moreno não recuou diante de nenhum assunto, apesar das inúmeras ameaças que sofreu nos últimos anos.

“Eu ainda o vejo fazendo escondido este vídeo da mina de níquel Cerro Matoso. Ele assumiu todos os riscos pelo seu trabalho”, lembra seu amigo Enyer Nieves Pinto, ativista de direitos humanos.

Maira Moreno, irmã de Rafael, assiste à cerimônia em homenagem a Rafael Moreno em Puerto Libertador, Córdoba, na Colômbia, em 26 de outubro de 2022.
Maira Moreno, irmã de Rafael, assiste à cerimônia em homenagem a Rafael Moreno em Puerto Libertador, Córdoba, na Colômbia, em 26 de outubro de 2022. © Diego Cuevas/ Cortesía El País

Projeto Rafael 

No sul de Córdoba, o clima de violência e impunidade impede que testemunhas do jornalista se apresentem aos investigadores. 

“Desde que Rafa foi morto, é como se todos tivessem se tornado honestos em Córdoba, porque ninguém ousa falar e denunciar”, lamenta o primo de Rafael, Yamir Pico, também jornalista, que pôs fim a suas investigações.

Nas semanas anteriores ao assassinato, Rafael Moreno sentiu-se mais em perigo do que de costume e começou a questionar o esquema de proteção pessoal que o acompanhava, que falhou no dia de sua morte. 

O jornalista havia se unido à rede “SafeBox” do consórcio Forbidden Stories para proteger seus inúmeros documentos e e-mails. A rede permite que as investigações não desapareçam, e tenta dissuadir os crimes contra os jornalistas, "enviando uma mensagem contundente aos inimigos da imprensa: matar o jornalista não matará a história", diz o site da iniciativa. 

O "Projeto Rafael", visa continuar o trabalho do jornalista colombiano. Seis meses depois do assassinato, 30 jornalistas coordenados por Forbidden Stories retomaram suas investigações sobre a corrupção massiva no departamento de Córdoba, revelando um sistema de favoritismo na atribuição de contratos públicos, envolvendo milhões de euros. 

Além da RFI, fazem parte do consórcio os jornais El País, Le Monde, The Guardian, Amazônia Real e Folha de São Paulo, entre outros. 

O jornalista Rafael Moreno e o primo Yamir.
O jornalista Rafael Moreno e o primo Yamir. © RFI

Mineração 

Ex-mineiro, Moreno era especialmente sensível à situação dos trabalhadores e comunidades afetadas pela atividade de grandes grupos de mineração implantados na região.

Em seus artigos, ele denunciava os estragos causados pela principal mina a céu aberto do continente, Cerro Matoso S.A.d, filial da empresa de mineração e metais com sede em Perth, na Austrália, South32. Em 2017, a Justiça colombiana intimou o grupo a limitar seu impacto, sem resultados.

Os ecossistemas continuam contaminados pelos rejeitos químicos emanados da mina, e as doenças atribuídas às atividades da Cerro Matoso S.A. estão aumentando. Quanto às medidas que o grupo deve tomar para avaliar o impacto de suas atividades no meio ambiente, sua implementação é considerada incompleta e opaca pelas comunidades.

Além disso, a região sofre com a falta de infraestrutura, principalmente hospitais, e serviços essenciais, como água potável. O Estado ausente deu lugar à “locomotiva mineradora”, deixando o território e as populações à mercê dos grupos armados.

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