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Rússia prende jornalista americano por espionagem e acha ‘prematuro’ falar em troca de prisioneiros

A Rússia anunciou nesta quinta-feira (30) a detenção do um jornalista americano do Wall Street Journal Evan Gershkovich por "espionagem", um caso inédito na história recente do país. Horas depois, a diplomacia russa afirmou que é “prematuro" cogitar uma eventual troca de prisioneiros com os Estados Unidos.

Agência Reuters divulgou imagem de dezembro de 2021 do repórter Wall Street Journal Evan Gershkovich, detido na Rússia sob a acusação de espionagem.
Agência Reuters divulgou imagem de dezembro de 2021 do repórter Wall Street Journal Evan Gershkovich, detido na Rússia sob a acusação de espionagem. REUTERS - OBTAINED BY REUTERS
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O jornalista foi detido na Rússia depois de ser "pego em flagrante”, conforme o serviço de segurança federal russo informou em um comunicado oficial, citado por agências russas.  "O FSB frustrou a atividade ilegal do correspondente credenciado (...) do escritório de Moscou do jornal americano Wall Street Journal, cidadão dos Estados Unidos Evan Gershkovich", explicou o texto.

"O que o colaborador da publicação americana Wall Street Journal em Ekaterimburgo fazia não tinha nenhuma relação com jornalismo", afirmou no Telegram a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova. Ela disse ainda que o repórter "não é o primeiro ocidental conhecido a ser pego em flagrante" e que outros já "utilizaram o status de 'correspondente estrangeiro' para acobertar suas atividades”.

O correspondente é "suspeito de espionar em benefício dos Estados Unidos" e de coletar informações "sobre uma empresa do complexo militar-industrial russo". O crime de espionagem pode ser punido com pena de 10 a 20 anos de prisão, segundo o artigo 276 do código penal russo.

Origem russa e família nos Estados Unidos

O jornal americano negou com veemência as acusações contra o repórter Gershkovich e pediu a sua "libertação imediata”. Antes de ingressar no diário americano em 2022, Gershkovich foi correspondente da AFP em Moscou e, anteriormente, do jornal de língua inglesa Moscow Times. Com domínio perfeito do idioma russo, o jornalista de 31 anos é de origem russa e pais dele vivem nos Estados Unidos.

O vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Riabkov, declarou que seria “prematuro" evocar uma eventual troca de prisioneiros com os Estados Unidos que pudesse beneficiar Gershkovich. “Eu não trataria a questão dessa maneira agora, porque vocês sabem que algumas trocas ocorreram no passado e envolvendo pessoas que já cumpriam penas, inclusive cidadãos americanos cujas sentenças eram muito graves”, afirmou, citado pelas agências russas. “Vamos ver como essa história evolui.”

A analista russa independente Tatiana Stanovaya, que chefia o centro de análise R.Politik, observou que a Rússia endureceu recentemente suas leis contra a espionagem desde o ataque à Ucrânia. "O problema é que a nova legislação russa (...) permite colocar na prisão por 20 anos qualquer pessoa interessada em assuntos militares, na chamada operação militar especial [na Ucrânia], em grupos militares privados [como Wagner], ou no estado do exército", escreveu ela no Facebook.

Trocas de prisioneiros

A analista também observa que o FSB pode ter feito o jornalista "refém" com vistas a uma possível troca de presos. Vários cidadãos americanos ainda estão detidos na Rússia, entre os quais Paul Whelan, que cumpre uma sentença de 16 anos de prisão por "espionagem" em um caso que a pessoa em questão e Washington consideram forjado.

Whelan foi preso em 2018 e as negociações estão em andamento há vários anos para libertá-lo. O ex-soldado de 53 anos sofre, segundo a família, de problemas de saúde na prisão, localizada na região russa de Mordóvia.

A última troca entre Moscou e Washington ocorreu em dezembro, quando a Rússia entregou a jogadora de basquete norte-americana Brittney Griner, detida por tráfico de drogas, em troca da libertação do traficante de armas Victor But, preso nos Estados Unidos.

Outro americano atualmente detido na Rússia é Marc Fogel, ex-diplomata que trabalhava como professor em uma escola americana em Moscou. Ele foi condenado em junho de 2022 a 14 anos de prisão por tráfico de maconha em "grande escala".

As autoridades russas alegaram ter encontrado maconha e óleo de haxixe em sua bagagem durante uma verificação alfandegária, quando ele chegava no aeroporto de Sheremetyevo, em Moscou.

Cerco a jornalistas

A imprensa russa e os jornalistas críticos do Kremlin são frequentemente alvo de processos criminais na Rússia, mas os jornalistas estrangeiros têm sido poupados. Moscou tem preferido expulsar os correspondentes e endurecer as regras de credenciamento.

Às vezes, os repórteres estrangeiros também são seguidos pelos serviços de segurança durante suas reportagens, especialmente fora de Moscou. Nesse contexto, muitos veículos ocidentais reduziram sua presença na Rússia desde fevereiro de 2022.

Após o lançamento da ofensiva russa contra a Ucrânia, as autoridades russas aceleraram a repressão da oposição e da mídia independente local, geralmente usando artigos do Código Penal que punem o fato de "desacreditar o exército”.

Com informações da AFP

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