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Cuba: grave crise econômica marca dia de eleição parlamentar com candidatos pré-selecionados

Mais de 8 milhões de cubanos maiores de 16 anos estão habilitados a votar neste domingo (26) para renovar a Assembleia Nacional do Poder Popular. Os 470 candidatos disputam igual número de assentos. O voto não é obrigatório e a abstenção eleitoral vêm crescendo. 

Faixa convida cubanos a votar nas eleições legislativas deste domingo (26); Havana (23/03/23).
Faixa convida cubanos a votar nas eleições legislativas deste domingo (26); Havana (23/03/23). AFP - ADALBERTO ROQUE
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Da enviada especial da RFI à Havana, Stefanie Schüler, e AFP

Na ilha comunista de Cuba, dia de votação não é sinônimo de escolha entre vários candidatos de diferentes partidos. Pelo contrário, trata-se de confirmar, por mais de 50% dos votos expressos, os candidatos pré-selecionados no início do processo eleitoral, iniciado no ano passado.

Os 470 candidatos que se submetem à votação neste domingo são assim escolhidos antes do escrutínio, não havendo campanha eleitoral. Metade dos candidatos vem de comitês locais organizados em cada distrito eleitoral. A outra metade é apresentada por organizações sociais próximas ao governo.

O Parlamento assim constituído elege então o Conselho de Estado e o presidente do país. Em teoria, o sistema eleitoral permite que qualquer cidadão cubano tenha acesso à Assembleia Nacional. Mas a oposição denuncia um processo em que o Partido Comunista Cubano – com sua influência e o voto de seus militantes e simpatizantes – exclui qualquer possibilidade de eleição de um adversário.

“Estarei lá para representar o povo”

Conhecemos Ailyn Justiz Aguila no Centro Internacional de Imprensa de Havana, cujos representantes assistem à nossa entrevista. Aos 35 anos, ela é bem conhecida dos cubanos. Chefe do Centro de Física Atmosférica, ela apresenta a meteorologia diariamente na televisão estatal. Esta é a primeira vez que ela é candidata.

 

Ailyn Justiz Aguila é candidata pela primeira vez à Assembleia do Poder Popular de Cuba.
Ailyn Justiz Aguila é candidata pela primeira vez à Assembleia do Poder Popular de Cuba. © Stefanie Schüler / RFI

 

Ela admite que ainda não sabe exatamente em que consistirá seu papel como deputada. “Mas o que tenho certeza é de que estarei lá para representar o povo cubano. Independentemente das responsabilidades que me forem confiadas, irei assumi-las com determinação e dedicação preservando as conquistas da revolução para ir mais longe”.

Como todos os cubanos eleitos, Ailyn Justiz Aguila não receberá nenhum salário por seu mandato como deputada e, portanto, continuará seu trabalho como meteorologista. Ela que também é mãe, quer contribuir para o desenvolvimento do seu país, “para aliviar estes momentos de desespero que muitas pessoas vivem. Devemos mostrar às pessoas que podemos construir um programa de vida”.

Êxodo econômico

Estas são as primeiras eleições legislativas desde que o presidente Miguel Díaz-Canel chegou ao poder. Cuba atravessa uma grave crise econômica e social que, só no ano passado, provocou a saída do país de cerca de 300.000 cidadãos. Diante de condições de vida cada vez mais difíceis para a população que permanece na ilha, o poder de mobilização do governo parece estar se desgastando.

No país de 11,1 milhões de habitantes, onde o voto não é obrigatório, a participação nas eleições caiu para os níveis mais baixos desde que o sistema eleitoral entrou em vigor, em 1976.

Nas eleições municipais de novembro de 2022, a abstenção chegou a 68,5%, inferior à dos referendos sobre o Código da Família (74,12%), em setembro, e pela Constituição (90,15%), em 2019.

A abstenção pode ser o grande determinador dessa eleição, enquanto a escassez de produtos, a inflação e os cortes de energia tornam a vida cada vez mais difícil para os cubanos. Na capital, encontrar comida é agora a principal preocupação dos cidadãos.

"Como mãe, alimentar meu bebê não é fácil", diz uma mulher em Havana. “Minha família tem direito a 2,5 kg de arroz por mês, além de um pouco de feijão, açúcar e óleo. Isso não é o bastante. E muitas vezes não há leite. Estamos passando por uma crise gravíssima em nosso país”.

Delinquência sem precedentes

Desde a pandemia de Covid-19 e a reforma monetária de 2021, a escassa renda dos cubanos não é mais suficiente para atender às necessidades básicas. “Tenho três empregos”, confidencia um homem. “Mas ainda é muito difícil: por mês, ganho o equivalente a US$ 24 »

Uma precariedade que produz consequências até então desconhecidas em Cuba: os habitantes da capital constatam um claro aumento da delinquência. “Há dois meses não saio depois de escurecer porque tenho medo”, diz um morador da capital. “O crime em Cuba não tem precedentes. Eu tenho 69 anos. Nunca vi violência no meu país como hoje”.

“Estamos completamente desmotivados. Levantamos todas as manhãs para garantir que tudo corra bem. Mas assim que colocamos os pés lá fora, nossa esperança desmorona”, acrescenta o cubano.

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