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Peru se prepara para mais um dia de protestos; manifestantes exigem renúncia da presidente

Um dia nacional de protestos foi convocado para hoje, quarta-feira (25), em todo o Peru. A presidente Dina Boluarte pediu "uma trégua nacional" na véspera, horas antes de uma grande manifestação para exigir sua renúncia terminar com duros confrontos em Lima, com pessoas feridas por projéteis e pedras.

A presidente peruana, Dina Boluarte, chega para uma entrevista coletiva à imprensa estrangeira, no Palácio do Governo, em Lima (24/01/23).
A presidente peruana, Dina Boluarte, chega para uma entrevista coletiva à imprensa estrangeira, no Palácio do Governo, em Lima (24/01/23). AP - Martin Mejia
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As manifestações não cessam em Lima, com participação de reservistas, informa o site do jornal peruano La Republica. O Exército enviou militares a Puno, no sul do país, onde a mobilização tem se intensificado.

O sexto dia de protestos convocados na terça-feira, no centro da capital, se transformou em uma batalha campal. Projéteis voaram para todos os lados, em meio a uma nuvem formada pela detonação de bombas de gás lacrimogêneo. A insurreição popular e a resposta das tropas de choque deixaram vários feridos, entre eles dois fotógrafos da imprensa internacional, incluindo um profissional da agência AFP.

As mobilizações de massa continuam marcando o ritmo cotidiano dos peruanos. Um dia nacional de manifestações e marchas foi convocado para esta quarta-feira em várias cidades do país. A crise política deflagrada pela destituição e prisão do ex-presidente socialista Pedro Castillo, acusado de fomentar um autogolpe, já causou a morte de 46 pessoas em seis semanas de protestos.

Os manifestantes têm responsabilizado a atual dirigente, que era vice de Castillo e assumiu o poder de acordo com a Constituição, pela repressão violenta. A frase "Dina assassina" é lida em faixas e entoada por manifestantes em Lima e cidades do sul dos Andes, pobres e de maioria indígena.

Presidente pede trégua

Horas antes dos confrontos em Lima, a presidente falou à imprensa estrangeira. Boluarte pediu "uma trégua nacional para poder estabelecer mesas de diálogo", num discurso em que qualificou como "radicais violentos e com agenda própria" os que relançaram os protestos no sul.

"Nós, todo o povo peruano, não vamos desistir. Não temos o que falar com a dona (Dina) Boluarte. A senhora sabe muito bem: a única coisa que o povo quer é que renuncie e que haja novas eleições", disse à AFP Carlos Avedano, um agricultor de 35 anos que chegou a Lima vindo de Andahuaylas, cidade 754 km a sudeste da capital.

A marcha convocada por universitários reuniu milhares de manifestantes no centro histórico da capital para exigir a renúncia da presidente e eleições imediatas.

A tropa de choque disparou gás lacrimogêneo para dispersar as colunas de manifestantes e impedir que se aproximassem da sede do Congresso. Os rebelados reagiram lançando pedras contra os policiais. Na Plaza San Martín, em Lima, jovens armados com escudos feitos à mão, lenços para cobrir o rosto e bombas caseiras enfrentaram a tropa de choque.  

A demissão não é uma opção para presidente

Boluarte descartou a renúncia na terça-feira, mais uma vez, e enfatizou que ocupa a presidência por mandato constitucional.

A presidente assegurou que a versão segundo a qual foi ela quem deu um golpe no ex-presidente Castillo é uma "narrativa de grupos de radicais baseados no narcotráfico, garimpo ilegal e contrabando", que, segundo ela, também estariam por trás dos protestos violentos.

"Sairei quando tivermos convocado as eleições gerais (...) Não tenho a intenção de me manter no poder", disse enfaticamente, acrescentando que o Congresso "sem dúvida" confirmará em fevereiro a antecipação das eleições, marcadas para abril de 2024.

Os protestos recomeçaram no dia 4 de janeiro, após uma pausa para as férias de final de ano. As reivindicações se concentram em direitos sociais. Os manifestantes denunciam desigualdades e a discriminação racial persistentes em áreas históricas esquecidas do Peru, de maioria indígena.

“Que ela renuncie e mude o Congresso e convoque novas eleições, queremos um governo de transição”, disse à AFP Rosa Soncco, uma indígena de 37 anos que veio de Acomayo, em Cusco, para Lima a fim de protestar na terça-feira com dezenas de camponeses.

Nesta quarta, Boluarte participará de uma sessão virtual perante a Organização dos Estados Americanos (OEA) para "informar a verdade" sobre o que o país está vivendo, segundo disse à imprensa internacional.

"Amanhã comparecerei perante a OEA para informar a verdade: o governo peruano e Dina Boluarte não têm nada a esconder, sempre falei a verdade, olhando para os meus irmãos e irmãs, são 50 pessoas mortas nesses atos de protestos, tudo isso dói, como mulher, mãe e filha, isso dói", disse ela, que é do mesmo partido do ex-presidente Castillo.

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