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De aliados a opositores, atentado a Cristina Kirchner causa repúdio no país e no exterior

Manifestações em toda a Argentina acontecem nesta sexta-feira (2), a maior delas na Plaza de Mayo de Buenos Aires, contra o atentado fracassado contra a vice-presidente Cristina Kirchner. O ataque, realizado por um homem com nacionalidade brasileira, deixou o país em choque e gerou declarações de repúdio à violência no exterior.

Militantes fazem vigília em Buenos Aires após tentativa frustrada de assassinato da ex-presidente Cristina Kirchner.  (02/09/2022)
Militantes fazem vigília em Buenos Aires após tentativa frustrada de assassinato da ex-presidente Cristina Kirchner. (02/09/2022) REUTERS - AGUSTIN MARCARIAN
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O ataque com arma contra Kirchner, realizado a quinta (1) à noite por um homem que está sendo investigado, foi considerado pelo presidente Alberto Fernández como o incidente mais grave desde o retorno à democracia, em 1983.

O papa Francisco, ex-arcebispo de Buenos Aires, enviou a Fernandez um telegrama no qual expressou sua "solidariedade e proximidade neste momento delicado". O pontífice disse que reza para que "a harmonia social e o respeito aos valores democráticos sempre prevaleçam".

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, também condenou o ataque e pediu a rejeição da violência política e do "ódio". "Apoiamos o governo e o povo argentinos na rejeição da violência e do ódio", escreveu Blinken no Twitter.

A tentativa de assassinato foi repudiada internamente pelos principais líderes da oposição Juntos pela Mudança (centro-direita), como o ex-presidente Mauricio Macri (2015-19) e o prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta. A coalizão governista Frente de Todos (peronista, centro-esquerda) convocou uma marcha até a Plaza de Mayo "em defesa da democracia" em um dia que foi declarado feriado nacional.

"Cristina continua viva porque, por um motivo que ainda não foi confirmado tecnicamente, a arma que tinha cinco balas não disparou apesar de ter sido acionada", declarou o presidente em um discurso, à meia-noite.

O homem, identificado como Fernando André Sabag Montiel, foi preso depois de apontar uma arma à queima-roupa e tentar atirar no rosto de Kirchner na porta de sua casa, no bairro da Recoleta, em Buenos Aires. O agressor avançou em meio à multidão de militantes que a esperavam para prestar solidariedade à ex-presidente (de 2007 a 2015), em uma manifestação que se repete todas as noites, desde 22 de agosto, quando o Ministério Público pediu doze anos de prisão para ela em um julgamento em que é acusada de fraude e corrupção.

Investigações

A juíza María Eugenia Capuchetti e o promotor Carlos Rivolo, encarregado das investigações, fizeram uma inspeção esta manhã na área onde ocorreu o ataque. O tribunal começou a receber as primeiras declarações de testemunhas, além de policiais e membros da custódia da vice-presidente, de 69 anos. Mais tarde, a juíza foi à casa de Kirchner para ouvi-la.

A Polícia Federal invadiu um apartamento nos arredores de Buenos Aires, que o agressor aluga há oito meses, segundo o proprietário. Duas caixas com 50 balas cada foram encontradas no local, disse uma fonte policial à imprensa.

O detido, de 35 anos, é de nacionalidade brasileira, de mãe argentina e pai chileno. Ele reside na Argentina desde 1993. Ele já havia sido detido em 17 de março de 2021 por porte de armas não convencionais, segundo fontes policiais citadas pela agência de notícias oficial Télam. O homem tem um símbolo nazista tatuado no cotovelo, segundo imagens em suas redes sociais.

“Não sabemos quase nada sobre as motivações deste homem. Mas o fato é que a sociedade argentina está profundamente dividida, com uma situação social e econômica deteriorada e instituições que têm uma dificuldade de assegurar a calma”, analisou o sociólogo Denis Merklen, diretor do Instituto de Altos Estudos sobre a América Latina (IHEAL), em Paris, e professor na Sorbonne Nouvelle.

“A Cristina divide opiniões pelo seu estilo de governo, pelo que ela representa ao evocar Eva Perón, que também era detestada pelas classes médias, oligarquias e a direita do país”, observa o professor, ressaltando que, desde a grave crise no país a partir de 2001, a sociedade argentina nunca mais conseguiu se reorganizar – abrindo espaço para a profunda polarização vista hoje.

“Em vez de a Justiça acontecer nos tribunais, ela ocorre na imprensa, com declarações incendiárias de advogados, de procuradores. Isso não incita as pessoas a terem confiança nas instituições do país”, comenta, ao analisar o aumento da violência política, num país marcado pelo histórico de uma ditadura brutal.

Vigília e manifestações

Nesta sexta-feira, uma vigília foi realizada no local em meio a uma forte presença policial que isolou a área. No meio da manhã, os manifestantes, convocados por partidos políticos, sindicatos, movimentos sociais e organizações de direitos humanos, começaram a se reunir nas principais cidades do país, para protestar, a partir do meio-dia.

"Estávamos esperando nossa querida Cristina. Ela desceu para cumprimentar todo mundo, como todas as noites, para cumprimentar as pessoas. E de repente, ouviu-se uma agitação, e foi aquele cara que apontou para ela. Eles o agarraram do meu lado, tenho o rosto deste infeliz pregado na minha cabeça", disse à AFP Teresa, que não quis dar seu sobrenome, em frente à casa da vice-presidente.

Martín Frías, outro admirador de Kirchner, de 48 anos, disse à AFP que, após o atentado, "o inimigo é mais conhecido, mas a luta não se abandona. Significa tomar maiores precauções, mas com as mesmas convicções de sempre".

O ataque foi repudiado por líderes latino-americanos e pelo chefe do Governo espanhol, bem como pela porta-voz do Escritório de Direitos Humanos das Nações Unidas, Ravina Shamdasani.

Com informações da AFP

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