"Melhor momento da democracia na América do Sul foi sob governos socialistas", diz Lula em Buenos Aires
O ex-presidente afirmou, em discurso na emblemática Praça de Maio, em Buenos Aires, que o período de 2000 a 2012 foi o melhor na região devido aos presidentes de esquerda. Em entrevista, Lula também disse esperar que a América do Sul esteja próxima de uma nova onda progressista.
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Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que progressistas, socialistas e humanistas foram os responsáveis pelo melhor momento da Democracia na América Latina, quando os governos priorizavam a integração regional por cima do vínculo com os Estados Unidos.
"Os companheiros progressistas, socialistas e humanistas fizeram parte do melhor momento de Democracia da nossa pátria grande, a nossa querida América Latina", afirmou Lula durante em discurso na Praça de Maio na noite desta sexta-feira (10) diante de uma multidão. Lula participou do Dia da Democracia e dos Direitos Humanos, promovido pelo governo argentino em comemoração aos 38 anos da recuperação da Democracia no país.
"Posso afirmar a todos aqui presentes que a nossa América do Sul viveu o melhor período de 2000 a 2012, quando nós governamos todos os países da América do Sul", garantiu Lula, citando exemplos de prioridade na integração regional.
"Foi quando expulsamos a ALCA e firmamos o Mercosul, quando criamos a Unasul, a Celac, que era uma instituição multilateral, a primeira na que participava Cuba e não participava nem os Estados Unidos nem o Canadá", apontou.
A Área de livre comércio das Américas, um projeto dos Estados Unidos para estabelecer uma zona do Alasca à Terra do Fogo, foi rejeitada em 2005, quando o Brasil de Lula, a Argentina de Néstor Kirchner e a Venezuela de Hugo Chávez decidiram priorizar o comércio sul-sul e viram na iniciativa norte-americana um projeto de desindustrialização da região.
A criação da União de nações sul-americanas (Unasul) e da Comunidade de Estados latino-americanos e caribenhos (Celac) visaram a integração regional, sendo a segunda um espaço que inclui Cuba e exclui Estados Unidos e Canadá para rivalizar com a Organização dos Estados americanos, órgão que a esquerda latino-americana considera dominado pelos interesses norte-americanos.
Lula citou vários ex-presidentes "com os quais teve a felicidade de governar" no período do auge da região. A lista inclui o casal argentino Néstor e Cristina Kirchner, o boliviano Evo Morales, os uruguaios Tabaré Vázquez e José 'Pepe' Mujica, o paraguaio Fernando Lugo, os chilenos Michelle Bachelet e Ricardo Lagos, o equatoriano Rafael Correa e o venezuelano Hugo Chávez.
Nova onda de esquerda na América do Sul
Em entrevista ao canal argentino IP Notícias, Lula disse desejar que, a partir de 2022, a América do Sul experimente uma nova onda de governos progressistas, a exemplo do recente período marcado por presidentes de esquerda.
"Espero que venha uma segunda onda de governos progressistas porque o melhor momento econômico, político e social da América do Sul foi quando os países estavam governados por presidentes progressistas, preocupados com uma forte inclusão social das pessoas mais pobres", disse Lula.
A eleição de Lula em dezembro de 2002 marcou o começo de uma inédita sucessão de governos de esquerda na região. Depois de Lula, vieram o argentino Néstor Kirchner (2003), o uruguaio Tabaré Vázquez (2005), o boliviano Evo Morales (2006), o equatoriano Rafael Correa (2007), o paraguaio Fernando Lugo (2008), entre outros.
O auge eleitoral da esquerda ficou associado ao "boom" das commodities que permitiram a maior bonança econômica na região desde a Segunda Guerra Mundial. Com o fim dos altos preços e com o desgaste de reeleições, algumas vezes por tempo indefinido, a região viveu uma onda à direita a partir de 2015, com a chegada ao poder do argentino Mauricio Macri.
Desde então, com exceção do argentino Alberto Fernández em 2019, do boliviano Luis Arce em 2020 e do peruano Pedro Castillo em junho passado, todas as eleições tiveram vitória da direita, tendência que Lula pretende romper se confirmar a sua candidatura às eleições brasileiras de outubro de 2022, reinaugurando uma nova onda, 20 anos depois.
Próximo presidente do Brasil
Em Buenos Aires, Lula tem sido tratado como o próximo presidente do Brasil pelas lideranças sociais e políticas da Argentina.
"Apresento-lhes o meu querido companheiro Lula que vai ser o presidente do Brasil", anunciou o ex-presidente do Uruguai, José 'Pepe' Mujica (2010-2015), ao passar a palavra a Lula no discurso na Praça de Maio.
"Eu sei que Deus nos escutará para que Lula volte a ser presidente do Brasil", clamou a atual vice-presidente da Argentina e ex-presidente (2007-2015), Cristina Kirchner.
Antes do ato na Praça de Maio, representantes de organizações de direitos humanos também apontaram a Presidência do Brasil como o próximo passo de Lula. Foi durante a entrega dos Prêmios pela trajetória a favor da democracia e dos direitos humanos.
"Esperemos que Lula volte a ser presidente do Brasil", disse Taty Almeida, líder das Mães da Praça de Maio.
"A Presidência tem de vir a qualquer custo. Nós vamos ajudá-lo, vamos acompanhá-lo", acrescentou, dirigindo-se a Lula, a líder das Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto.
Adolfo Pérez Esquivel, prêmio Nobel da Paz em 1980 e uma das personalidades que mais reivindicou a liberdade de Lula durante os 580 dias que o brasileiro ficou preso, também disse "esperar que Lula, no próximo ano, seja o Presidente do Brasil"
"Espero que aconteça, Lula, para o Brasil e para toda a América Latina", afirmou Pérez Esquivel, depois de receber o agradecimento do ex-presidente brasileiro pela ajuda durante o período de cárcere.
Lula recebeu uma placa comemorativa "pela sua trajetória a favor dos direitos humanos dos povos e pela sua contribuição à construção e unidade da Pátria Grande", como os líderes de esquerda da região chamam a integração latino-americana.
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