Acessar o conteúdo principal

EUA: 100 anos após massacre de Tulsa, três sobreviventes exigem justiça

Considerado como um dos piores ataques de brancos contra negros, o massacre de Tulsa, no sul dos Estados Unidos, matou entre 100 e 300 pessoas, em 1921. Os três únicos sobreviventes da matança exigem reparação da parte do governo. 

Manifestantes reunidos em um ato para marcar o aniversário de 100 anos do massacre de Tulsa, em Oklahoma, 31 de maio de 2021.
Manifestantes reunidos em um ato para marcar o aniversário de 100 anos do massacre de Tulsa, em Oklahoma, 31 de maio de 2021. ANDREW CABALLERO-REYNOLDS AFP
Publicidade

Anne Corpet, correspondente da RFI em Washington

Nesta terça-feira (1°), o presidente Joe Biden visitará Tulsa, em um momento em que os afroamericanos continuam sendo vítimas de violência em todo o país. Há dez dias, diante do Congresso americano, uma das sobreviventes do massacre, Violet Fletcher, 107 ans, convocou as autoridades a reagirem.

"Estou aqui para pedir justiça e pedir que meu país reconheça o que ocorreu em Tulsa em 1921. Jamais esquecerei a violência dessa multidão branca quando deixamos a nossa casa. Até hoje lembro desses homens negros sendo alvejados, esses corpos negros empilhados na rua. Ainda sinto o cheiro de fumaça e lembro dos incêndios, as lojas da comunidade negra queimando, ouço os gritos. Eu revivo esse massacre a cada dia", declarou. 

Além de Fletcher e seu irmão, Hughes Van Ellis, apenas outra sobrevivente da matança está viva hoje: Lessie Benningfield Randle, de 106 anos. Em diversas entrevistas à imprensa americana nos últimos dias, eles reiteram os apelos por justiça.

Até 2001, os números oficiais apontavam para 45 mortos no massacre de Tulsa. Foi apenas após um relatório elaborado pela Comissão de Oklahoma sobre as violências raciais que a quantidade de vítimas foi revisada para entre 100 e 300 óbitos. O número oficial, no entanto, jamais será conhecido, já que vários corpos foram atirados no rio Arkansas, que atravessa a cidade, queimados ou enterrados em covas anônimas.

Nenhuma compensação para as vítimas 

Cem anos após a matança, nenhuma vítima ou descendentes recebeu qualquer compensação por parte do governo. A cada aniversário do massacre, ONGs como a Human Rights Watch voltam a exigir reparação por parte da prefeitura de Tulsa ou do estado de Oklahoma. As autoridades municipais preferiram se concentrar na construção de um centro histórico, o Greenwood Rising, que custou mais de US$ 30 milhões. 

Para a Human Rights Watch, esse dinheiro poderia ter sido gasto de outra forma. A ONG denuncia a exploração da trágica história da comunidade negra pela prefeitura de Tulsa e a falta de esforço da parte das autoridades para qualquer indenização.

Em 2021, a questão da desigualdade racial continua a atingir os afrocamericanos, enquanto as feridas de ataques como os de Tulsa e tantos outros que marcaram a história dos Estados Unidos ainda não cicatrizaram.  

O que foi o massacre de Tulsa

O estopim desta que é considerada uma das piores agressões contra a comunidade negra dos Estados Unidos ocorreu em 30 de maio de 1921. Dick Rowland, um engraxate afroamericano de 19 anos, entrou em um elevador de um prédio de Tulsa. Segundo relatos, ele teria se desequilibrado e, para não cair, se apoiou na ascensorista, Sarah Page, de 17 anos. A jovem gritou, assustando Rowland, que correu, quando o elevador abriu. 

Pessoas que estavam no local concluíram que Page havia sido assediada. O garoto foi preso e a notícia se espalhou rapidamente pela cidade. No dia seguinte, um jornal local informava que Rowland havia tentado estuprar a jovem. Diante do tribunal de Tulsa, centenas de homens brancos anunciaram o linchamento do rapaz, violência comum, cuja prática se perpetuou até os anos 1960 nos Estados Unidos. 

Um grupo de veteranos negros da Primeira Guerra Mundial, alguns deles armados, se mobilizou para tentar proteger Rowland. A tensão aumentou, e houve troca de tiros. Parte da população afroamericana da cidade resolveu se refugiar no distrito de Greenwood, conhecido na época por sua prosperidade econômica e pelos negócios conduzidos pela comunidade negra.

Descontrolados, os agressores resolveram perseguir os moradores negros. Em Greenwood, eles saquearam e incendiaram os prédios, perseguindo e violentando a população afroamericana local. 

Os ataques não ocorreram apenas por terra, alguns pilotos sobrevoavam o local e lançaram dinamites no bairro. A polícia americana não apenas não interveio, como se juntou à destruição. Além da grande quantidade de mortos, cerca de 10 mil pessoas perderam suas casas. 

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.