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Estudantes brasileiros buscam maneiras de ficar nos EUA mesmo com nova restrição de Trump a estrangeiros

O governo de Donald Trump impôs mais uma restrição à entrada de estrangeiros nos Estados Unidos, desta vez tendo estudantes como alvo. As restrições se aplicam aos vistos F1 (cursos acadêmicos) e M1 (cursos profissionalizantes). A medida, divulgada na segunda-feira (6), indica que os estudantes internacionais cujas escolas tiverem apenas aulas online no segundo semestre deverão voltar aos seus países de origem.

A estudante brasileira Ana Carolina Ribeiro Candeo cursou Odontologia na Harvard Medical School.
A estudante brasileira Ana Carolina Ribeiro Candeo cursou Odontologia na Harvard Medical School. © Arquivo Pessoal
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Paula Moura, correspondente da RFI em Nova York

A norma afeta cerca de 1,5 milhão de estudantes no país, segundo dados do governo americano em 2018. Destes, 37,845 são brasileiros. O país era o sétimo na lista dos dez maiores “exportadores” de estudantes, atrás de China e Índia, entre outros.

“Foi um choque, a gente fica meio perdida sobre o que fazer, pois a data para aplicar seria até o final deste mês e estou esperando minha faculdade se posicionar, pois não sei muito o que fazer”, diz Amanda Bianchi Noto, de 26 anos, brasileira de São Paulo que morou nos Estados Unidos como au pair e está prestando Contabilidade no Delaware Community College, no estado de Delaware.

Caso a faculdade que escolheu e onde já fez alguns cursos não oferecer o modelo híbrido de presencial e online exigido pelo governo, ela vai ter que procurar outro curso ou voltar para o Brasil. “Com todas essas mudanças na parte de imigração é um medo muito grande de que eu tenha que desistir do meu sonho”.

No breve período em que ficou no Brasil, após trabalhar como babá nos Estados Unidos, ela teve dificuldade de encontrar trabalho. No Brasil, ele fez o curso de tecnóloga em economia. “Eu tenho medo de Trump não voltar atrás de tudo o que ele está fazendo, mesmo quando a pandemia acabar porque ele sempre quis fazer tudo isso mesmo antes da pandemia e acho que ele achou uma desculpa perfeita.”

A estudante brasileira Amanda Bianchi Noto cursa Contabilidade no Delaware Community College, no estado de Delaware.
A estudante brasileira Amanda Bianchi Noto cursa Contabilidade no Delaware Community College, no estado de Delaware. © Arquivo Pessoal

Reservar empregos aos americanos

Ativistas de imigração concordam com ela e têm questionado as medidas do governo durante a pandemia. A plataforma em que Trump foi eleito foi anti-imigração e o presidente americano tem agido em diversas frentes para reduzir o número de estrangeiros com a justificativa de reservar empregos para os americanos já que a economia dos Estados Unidos tem sido afetada fortemente pela pandemia. No mês passado, o governo também cancelou a emissão de novos visto de residência, ou greencards, e de au pair, até 31 de dezembro.

“Eles perderem os brasileiros será muito ruim financeiramente para as escolas”, diz Agda Bariani, assessora de imigração em Nova York. Ela tem falado com várias escolas em que há maior porcentagem de alunos brasileiros, o que ocorre especialmente na Flórida, Califórnia e Nova York. “Eles estão realmente correndo atrás de tudo para poder seguir o protocolo”, diz ela sobre essas escolas.

Agda Bariani, assessora de imigração em Nova York.
Agda Bariani, assessora de imigração em Nova York. © arquivo pessoal

O Departamento de Comércio dos Estados Unidos estima que estudantes internacionais renderam US$ 45 bilhões para o país em 2018. Geralmente, eles pagam mensalidades mais caras. Muitas escolas já anunciaram que mudaram os planos para o segundo semestre para incluir aulas presenciais.

Agda recomenda que os estudantes comuniquem por e-mail com as escolas para perguntar sobre mudanças no modelo de ensino. Mas, se as aulas continuarem apenas online e os alunos não mudarem de escola, correm o risco de serem deportados, num processo que advogados estimam que poderia durar três meses.

"De mãos atadas"

Ana Carolina Ribeiro Candeo, de 33 anos, de São Paulo, mora em Nova York. Dentista no Brasil, ela fez um curso rápido em Odontologia na Harvard Medical School e decidiu melhorar o inglês. Ela começou suas aulas de inglês e negócios na New York Institute of English and Business em meados de maio, durante a pandemia.

“A gente fica de mãos atadas, sem saber o que fazer porque a gente não tem controle da escola”, diz, contando que ela e os amigos na mesma situação ficaram desesperados. “Ficou um mandando mensagem para o outro, minha mãe me ligou, minha família me ligou. Foi uma coisa muito súbita.”

“A gente fica de mãos atadas, sem saber o que fazer porque a gente não tem controle da escola”, afirma a estudante brasileira Ana Carolina Ribeiro Candeo.
“A gente fica de mãos atadas, sem saber o que fazer porque a gente não tem controle da escola”, afirma a estudante brasileira Ana Carolina Ribeiro Candeo. © Arquivo Pessoal

Ao contrário da escola de Amanda, o reitor da escola de Ana Carolina foi mais rápido e já enviou mensagem dizendo que ia oferecer aulas pessoalmente também. Apesar de aliviada com a notícia, ela diz que fica na incerteza sobre o futuro, pois podem vir outras mudanças.

Agora, o primeiro passo é enfrentar o receio de contaminação com o coronavírus. Por enquanto, a escola ainda não mandou todos os detalhes de como vai se preparar.

“Estou com medo da aula presencial porque tem várias pessoas na sala, não sei como vai ser esse método de distanciamento, vai ter álcool na sala, todo mundo vai ter que usar máscara, mas a gente fica com medo de ficar quatro horas de aula junto com várias pessoas”, desafaba a brasileira.

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