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Nem todos fazem como Trump: Confira como países que atraem imigrantes reagem à crise do coronavírus

Com a crise sanitária causada pelo novo coronavírus, os fluxos migratórios estão praticamente congelados em todo o mundo, principalmente por razões de saúde e administrativas. Fronteiras e consulados estão fechados, mas os governos permanecem tomando medidas a favor ou contra a imigração, como acaba de fazer o presidente americano, Donald Trump, que suspendeu por 60 dias a emissão de vistos permanentes de residência, o chamado Green Card.   

A colheita de frutas e legumes na Europa exige grande mobilização de trabalhadores sazonais.
A colheita de frutas e legumes na Europa exige grande mobilização de trabalhadores sazonais. © NICOLAS TUCAT / AFP
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Dominique Baillard, da RFI

Na avaliação de Jean Christophe Dumont, especialista em migrações na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), estabelecer um vínculo entre migração e defesa do emprego, como Trump acaba de fazer, envia um sinal forte que pode estancar o fluxo migratório de maneira duradoura para os Estados Unidos, pelo menos durante o tempo em que a crise econômica durar.

Com exceção da Coreia do Sul e do Japão, que suspenderam as emissões de todos os vistos de residência, a maioria dos países prolongou a duração das autorizações de permanência para permitir que trabalhadores estrangeiros continuem onde estão. Por outro lado, muitos já perderam o emprego, principalmente em setores onde estão muito presentes, como a construção civil ou a hotelaria, completamente paralisados ​​pelas medidas de isolamento e de distanciamento social adotadas para frear a pandemia de coronavírus.

Existem setores, como a saúde, nos quais os estrangeiros são sempre bem-vindos. Depois de deixar o hospital no Reino Unido, parcialmente recuperado do susto que levou com a Covid-19, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, agradeceu dois enfermeiros que cuidaram dele, o português Luís e a neozeolandesa Jenny. Johnson disse que devia sua vida à atenção dispensada pelos profissionais do hospital St. Thomas, em Londres. Ao perceber a extensão da crise, o governo britânico prolongou por um ano todos os vistos de estrangeiros que trabalham na saúde. E por uma boa razão: cerca de 33% dos médicos em exercício no Reino Unido e 18% das enfermeiras são imigrantes.

A dependência de mão de obra estrangeira também é muito forte na agricultura, tanto no Reino Unido quanto na maioria dos outros países membros da OCDE. Sob a pressão dos fazendeiros americanos, Trump abrandou sua decisão, e afirmou que continuará concedendo vistos temporários de trabalho.

Por outro lado, a Espanha suspendeu as 14 mil autorizações de entrada reservadas aos marroquinos, que costumam participar da colheita de frutas e legumes no país. Já a Alemanha, que inicialmente suspendeu os vistos de trabalho sazonal, autorizou no início de abril a entrada de 40 mil romenos e búlgaros para trabalhar na colheita. Outros 40 mil são esperados no mês de maio. O governo alemão tomou as precauções necessárias, transportando os trabalhadores em voos charters e impondo uma quarentena de 14 dias, antes de transferi-los para os campos.  

Na Itália, a fim de atender às necessidades urgentes nessa área, a ministra da Agricultura, Teresa Bellanova, quer a regularização de 200 mil imigrantes sem documentos. Normalmente, segundo a ministra, o país absorve 350 mil trabalhadores sazonais vindos do exterior, mas estão faltando neste ano de 250 mil a 270 mil pessoas nas plantações.

Transferências de dinheiro vitais para os países pobres

À luz do coronavírus, redescobre-se a importância da migração para o tecido econômico dos países anfitriões. Os países de origem também sofrem com a redução das transferências de dinheiro que garantem o sustento de milhares de famílias pobres.

Essas transferências teriam recuado 80% entre o Reino Unido e países do leste da África, segundo levantamento feito pela revista britânica The Economist. Os recursos enviados pelos imigrantes da Itália para a África despencaram 90%. Essa retração violenta provocou o fechamento de várias empresas de serviços financeiros. Os pagamentos realizados por meio de aplicações de smartphone caíram de 15% a 20%, mas ainda é preciso que os interessados possuam uma conta bancária.

Em comparação com a crise financeira de 2008, que registrou uma diminuição das transferências de 5%, desta vez as consequências tendem a ser mais graves. Segundo o Banco Mundial, em 2019, as transferências da mão de obra imigrante para os países de origem movimentaram US$ 715 bilhões. Um montante que deve cair vertiginosamente neste ano. Para retornar ao patamar anterior à crise sanitária serão necessários no mínimo três anos, estima o banco BBVA.

A crise econômica deixará traços duradouros nos fluxos migratórios, principalmente quando vem associada a uma crise no setor de petróleo. É provável que as pontes migratórias entre os países do Oriente Médio e da Ásia ou entre a Rússia e a Ásia Central sejam muito impactadas. Ser um duplo golpe para os países de origem, porque as dificuldades domésticas serão agravadas pela retração nos embarques de migrantes. Devido ao aumento do desemprego, a maioria dos países anfitriões deve endurecer as condições de entrada, alimentando as tensões sociais nos países mais pobres e a pressão migratória.

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