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Linha Direta

Democratas preferem "status quo" de Biden à revolução socialista de Sanders

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Nesta terça-feira (10), serão realizadas eleições primárias do partido democrata em seis estados americanos. Depois de uma longa disputa entre vários pré-candidatos, agora os eleitores do partido que tanto promove diversidade, precisam escolher entre dois homens idosos e brancos para derrotar o septuagenário Donald Trump nas eleições de novembro. Dentro da própria legenda, há uma clara preferência pelo consensual ex-vice-presidente Joe Biden ao senador socialista Bernie Sanders.

Depois da Superterça, a briga se acirra entre Joe Biden e Bernie Sanders
Depois da Superterça, a briga se acirra entre Joe Biden e Bernie Sanders REUTERS/Jonathan Ernst
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Correspondente da RFI em Washington

Desde a Super Tuesday, na última terça-feira (3), o cenário dos pré-candidatos democratas mudou consideravelmente. Há até pouco tempo, Sanders já estava sendo considerado praticamente como o “candidato inevitável” do partido para enfrentar Trump em novembro, o que deixava uma grande parte da liderança da legenda apreensiva, pois o senador de Vermont não esconde que quer que o país passe por uma "revolução socialista".

Com a vitória em 10 estados na Super Tuesday, Biden teve sua campanha energizada. A candidatura do ex-vice de Obama já estava sendo considerada por muitos como um caso perdido, especialmente devido ao seu fraco desempenho nas primeiras eleições prévias deste ano. Mas foi a vitória de Biden na Carolina do Sul - um estado com grande população negra (cerca de 27%) - que virou o jogo. O voto desses eleitores é fundamental para que um candidato democrata consiga chegar à presidência.

Com a nova viabilidade de Biden, o bilionário Mike Bloomberg, as senadoras Elizabeth Warren (Massachusetts) e Amy Klobuchar (Minnesota) e o prefeito Pete Buttigieg (South Bend, Indiana), desistiram da corrida à Casa Branca e passaram a apoiar a candidatura do ex-vice-presidente. A batalha virou, então, um duelo intenso por delegados.

A deputada Tulsi Gabbard (Havaí), de fato, ainda está na disputa com Biden e Sanders, apesar de só ter dois delegados. Por algum motivo inexplicável, ela parece somente interessada em atacar Hillary Clinton, que, desde 2016, não disputa cargos políticos.

Mudança na dinâmica democrata

Desde a semana passada, Biden está à frente de Sanders, com 664 delegados contra os 574 do senador. Nesta terça-feira, todas as atenções estão voltadas para o Michigan, pois o vencedor neste estado levará 125 delegados, o maior número das eleições desta terça (10).

A dinâmica dos democratas deve mudar drasticamente. Até recentemente, todos os pré-candidatos focavam em criticar Trump, tentando provar que poderiam derrotá-lo. Agora, pré-candidatos que antes miravam em Biden, como a senadora Kamala Harris (Califórnia) e o senador Cory Booker (Nova Jersey), estão alinhados com a sua candidatura.

Nestes últimos dias, ficou evidente que a liderança tradicional do partido se organizou para unir forças e derrotar Sanders. Ao contrário de Biden, o senador socialista de 78 anos ainda não conseguiu o apoio oficial de nenhum dos que antes eram pré-candidatos, nem mesmo de Warren, que oferecia a plataforma mais parecida com a dele. No momento, somente a ala progressista do partido democrata apoia o revolucionário.

O repúdio a Sanders não é diferente do que sua candidatura sofreu nas eleições de 2016, quando o senador concorreu contra Hillary. Ele não é considerado um democrata legítimo, mas um independente. Sanders já está até mesmo registrado como independente para concorrer à reeleição ao senado em 2024, caso não saia vitorioso da disputa à Casa Branca este ano.

Além disso, o senador de Vermont é socialista e, apesar de tradicionalmente o partido democrata ser considerado progressista, a chamada “esquerda” tradicional americana é mais contida.

Preferência por Biden

É comum se ouvir críticas de que nos Estados Unidos só há dois partidos. No entanto, Washington é praticamente uma cidade de um partido só - que é a elite política americana. Os membros desse grupo têm muito mais a ver uns com os outros, independentemente da sua afiliação partidária, do que com o americano médio.

Apesar das aparentes constantes disputas políticas, Washington também é a capital do consenso. Não importa quem ocupe a Casa Branca, sempre há uma sintonia entre os membros do Congresso, a indústria de defesa, Wall Street e grandes indústrias e lobistas.

Tanto Trump quanto Sanders agradam os eleitores que querem romper com o que consideram ser uma política viciada de Washington. Já a candidatura de Biden, de modo geral, agrada os atores da capital americana. Muitos políticos republicanos provavelmente não se importariam de lidar com ele pelos próximos quatro anos. Apesar de estar envelhecido e ser famoso por gafes, Biden, com 77 anos, faz parte da política americana há muitas décadas e sua presidência não ameaçaria o status quo.

No entanto, mesmo que Biden saia vitorioso nas eleições primárias desta terça (10), sua candidatura ainda não está garantida. É preciso contar com 1.991 delegados para assegurar a nomeação na convenção do partido, que será realizada em julho. As primárias desta terça (10) respondem por 9% dos delegados. Depois disso, ainda sobrarão 53% de delegados não atribuídos a um candidato.

O estado mais disputado

É grande a expecativa para disputa entre os dois democratas em Michigan. Segundo as pesquisas, Biden tem vantagem sobre Sanders, com 51% dos votos contra 36%. Mas em 2016, Michigan trouxe surpresas. Apesar de as pesquisas favorecerem Hillary, Sanders acabou por levar o estado ficando 2% acima da ex-secretária de Estado.

Para repetir a vitória, Sanders precisa contar com a participação dos jovens que o apoiam e com o não comparecimento às urnas da população negra, de 14% no estado. Mas isso é difícil de acontecer novamente, pois Biden, ao contrário de Hillary, conta com o apoio dos eleitores negros.

O mais provável é que a candidatura de Biden ganhe ainda mais impulso com as eleições desta "Super Tuesday 2.0", apesar de o candidato parecer visivelmente desgastado.

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