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Linha Direta

Da Argentina, Evo Morales lançará candidatos e inaugurará campanha eleitoral na Bolívia

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Como chefe de campanha do partido e refugiado na Argentina, ex-presidente vai definir os candidatos que lhe podem permitir voltar à Bolívia sem ser preso e manter o poder nas sombras.

O ex-presidente boliviano Evo Morales em outubro de 2019.
O ex-presidente boliviano Evo Morales em outubro de 2019. REUTERS/Manuel Claure
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Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

O ex-presidente Evo Morales vai definir no domingo os candidatos a presidente e a vice para as próximas eleições bolivianas de 3 de maio com os quais pretende unir um partido fraturado e ganhar as eleições num esquema em que o herdeiro político vá ao governo enquanto Morales represente o verdadeiro poder.

Pela primeira vez em 18 anos, a Bolívia irá às eleições sem Evo Morales como candidato. Mesmo em refúgio político na Argentina, o líder indígena que governou o país nos últimos 14 anos foi designado chefe de campanha do seu partido, o Movimento Ao Socialismo (MAS). Presidirá uma convenção em Buenos Aires, onde reside desde 12 de dezembro, dois dias depois da posse do presidente argentino Alberto Fernández, um aliado. O anúncio implicará, na prática, o começo da corrida eleitoral na Bolívia.

"Em jogo está a vigência de Evo Morales como líder, tornando-se o referente central da campanha eleitoral mesmo sem ser candidato. Quanto ele vai influir ou mandar depois de uma campanha que se dividirá entre pró e anti Morales? O escolhido pode atrair mais ou menos votos de forma pessoal, mas será a sombra de Evo a que vai realmente condicionar o eleitorado", explica à RFI o cientista político Diego Ayo, da Universidade Mayor de San Andrés.

O grau de adesão dos dirigentes e militantes será importante para saber o nível de influência de Morales dentro da própria tropa. Vários setores do partido avisaram que não participarão da convenção, antecipando um possível racha no partido.

O novo calendário eleitoral boliviano procura reencaminhar as anuladas eleições de 20 de outubro passado, marcadas por denúncias de fraude por parte da oposição e da Organização dos Estados Americanos (OEA), auditora do processo. Depois de três semanas de protestos e de greves, Morales renunciou em 10 de novembro ao perder apoio dos sindicatos, da Igreja e das Forças Armadas.

Depois de um mês asilado no México enquanto aguardava a volta do peronismo ao poder na Argentina, Evo Morales começou a traçar a estratégia de retorno ao poder. A ausência do líder na Bolívia permitiu que uma série de vozes dentro do próprio partido viessem à luz para pedir uma renovação.

Entre os nomes do cardápio político de Morales aparecem o líder do cultivo de coca, Andrónico Rodríguez, a ex-senadora Adriana Salvatierra, o ex-ministro da Economia, Luis Arce, e os ex-chanceleres, David Choquehuanca e Diego Pary. Desses, Andrónico Rodríguez e David Choquehuanca aparecem com vantagem.

Segundo sondagens recentes, o MAS lidera a corrida no primeiro turno, mas seria derrotado num segundo. A sondagem da rede Unitel, por exemplo, indica que um candidato de Evo Morales partiria de uma base de 23% dos votos enquanto 47% dos eleitores anunciam que votariam num candidato opositor a Morales. Com a oposição também fragmentada, o ex-presidente Carlos Mesa aparece com vantagem: 21% das intenções de voto.

Manifestações a favor

No próximo dia 22 de janeiro e já com os candidatos de Evo Morales escolhidos, os setores que apoiam o ex-presidente anunciaram uma série de manifestações na Bolívia em comemoração do chamado Dia do Estado Plurinacional, uma data que marca a posse do líder indígena em 22 de janeiro de 2006 e que representaria o final do seu terceiro mandato se não tivesse renunciado.

Para essa data, Evo Morales convocou um comício no estádio do Clube San Lorenzo, em Buenos Aires, com capacidade para 50 mil pessoas. No entanto, a Polícia e as Forças Armadas preparam uma operação para conter as manifestações em meio a rumores de que o próprio Evo Morales poderia aparecer na Bolívia, mesmo que na fronteira com a Argentina, para um discurso com um balanço de uma gestão de 14 anos.

Uma ordem de prisão rege contra Morales, acusado dos delitos de sedição, terrorismo e financiamento ao terrorismo. A prisão de Morales, caso entre na Bolívia, poderia ser uma poderosa estratégia eleitoral. Do exterior, Evo Morales tem perdido protagonismo. Se for preso, pode posar de vítima e reforçar o relato de golpe, segundo analistas.

"O objetivo de Evo Morales é retornar ao país, mesmo que preso, desde que seja o referente central da campanha. Do exterior, Evo faz um enorme esforço por aparecer nos meios de comunicação, em média, em três programas de rádio e TV por dia. Para os opositores, o cenário mais perigoso é que Evo volte", adverte Diego Ayo.

A situação teria um paralelo semelhante na situação do ex-presidente brasileiro Lula, quem, da prisão coordenava a campanha e tentava transferir os seus votos ao herdeiro, o então candidato Fernando Haddad. No caso boliviano, uma vitória do candidato de Evo Morales também seria um escudo de imunidade para encarar depois as acusações perante a Justiça.

Milícias populares armadas

Os rumores de um eventual retorno de Evo Morales ganharam força após o anúncio, nesta semana, de que o ex-presidente pretende organizar milícias populares armadas, a exemplo das que existem na Venezuela e que funcionam como a tropa de choque de Nicolás Maduro, aliado de Morales.

"Quero que saibam: se daqui a pouco tempo, se eu voltar (à Bolívia) ou alguém voltar, é preciso organizar, como na Venezuela, milícias armadas do povo", indicou Morales a militantes em Buenos Aires.

O anúncio gerou rejeição interna e internacional que levou o próprio Morales, pressionado pelo governo argentino que o abriga, a publicar uma retratação. O governo boliviano anunciou um novo processo contra Morales por incitar a violência.

"O anúncio de milícias armadas caiu péssimo. Serve para os setores radicais do MAS porque reforça o caminho pela revolta e pela violência. São minorias, mas que podem condicionar maiorias. Para a maioria da população, é um péssimo sinal que faz perder votos", avalia o cientista político Diego Ayo.

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