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Linha Direta

Clima e crise econômica deixam quase metade da população do Zimbábue com fome

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Enquanto o ex-ditador Robert Mugabe, que morreu em setembro, deixou US$10 milhões no banco e uma lista de propriedades, a ONU anunciou que precisa aumentar o número de pessoas atendidas pelo Programa Mundial de Alimentos (PMA) no Zimbábue. O país foi governado por Mugabe durante 37 anos e atualmente se encontra afundado em uma crítica situação financeira, com hiperinflação oficialmente declarada.

Mulher inspeciona plantação de milho atingida pela seca em Bindura, nos arredores de Harare (Zimbábue). (01/03/2019)
Mulher inspeciona plantação de milho atingida pela seca em Bindura, nos arredores de Harare (Zimbábue). (01/03/2019) REUTERS/Philimon Bulawayo/File Photo
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Hoje são 2,7 milhões de pessoas assistidas pelo programa do escritório da ONU para o tema. O objetivo é aumentar este número para 4,1 milhões, fornecendo itens considerados básicos para sobrevivência delas. A preocupação é maior ainda com dois grupos considerados críticos.

"Estamos profundamente envolvidos em um ciclo vicioso de desnutrição que atinge as mulheres e crianças com mais força e será difícil de quebrar", disse David Beasley, diretor executivo do PMA. Para conseguir saciar a fome de mais pessoas, em caráter emergencial, o escritório da ONU para o tema diz que precisa de US$ 293 milhões.

Mugabe não deixou testamento, de acordo com o advogado da família Terrence Hussein. Por lei, o patrimônio deve ser dividido entre a viúva, Grace Mugabe, e os quatro filhos. Sempre houve rumores a respeito da fortuna de um dos governantes africanos mais polêmicos. Diz a lenda que o ditador que vivia em uma gigantesca mansão com telhado azul estilo chinês em Harare – onde a reportagem esteve cobrindo seu funeral – tinha um castelo na Ásia avaliado em US$1 milhão.

Crise climática agrava situação

Na contramão deste estilo de vida nababesco, o país que já foi considerado o celeiro da África hoje tem 7,7 milhões de pessoas passando fome. O Zimbábue atravessa a pior crise em mais de dez anos e tem quase metade da população encarando diariamente a face mais cruel de uma realidade econômica agravada pelos drásticos efeitos das mudanças climáticas.

Há quem culpe o ex-ditador Robert Mugabe pela atual situação econômica do país, mas isso também é parte de um desastre sem precedentes que atinge a África Austral, causado pelo clima. As temperaturas na região estão aumentando mais do que o dobro da taxa global média e as chuvas, cada vez mais irregulares, afetam fortemente os agricultores de subsistência.

A seca extrema tem inviabilizado a produção agrícola no Zimbábue e também matou de sede e fome mais de 200 elefantes – desde outubro - no Parque Nacional Hwange, ao noroeste do país. Esta é uma das maiores reservas do continente. Por outro lado, nas últimas semanas, enchentes causadas pelas chuvas têm castigado províncias do sul do país.

O diretor executivo do PMA demonstrou preocupação com a situação emergencial de fome crônica enfrentada por quase metade da população, mas também quer ajuda para planejar o futuro dos zimbabuanos. "Incitamos a comunidade internacional a aumentar o financiamento para abordar as causas da fome de longo prazo no Zimbábue”, disse.

África sofre com fenômenos naturais

A poucas semanas da Cúpula do Clima, que se iniciou nesta semana em Madri, agências ligadas à ONU divulgaram que 45 milhões de pessoas passam fome atualmente nos 16 países da África Austral. Deste grupo, 11 milhões habitantes de nove países vivem níveis alarmantes de insegurança alimentar.

Nas últimas semanas, enchentes também mataram dezenas de pessoas na República Democrática do Congo. O mesmo problema assola a Somália, onde mais de 370 mil pessoas tiveram que deixar as áreas onde viviam porque foram completamente alagadas.

Outro país africano que está na lista dos mais preocupantes em relação a este assunto é Moçambique, que este ano foi parcialmente devastado por dois ciclones (o Idai, em março, e o Kenneth, em abril). Centenas de corpos foram encontrados após essas duas tragédias, que destruíram casas e alagaram gigantescas plantações, comprometendo a segurança alimentar do país. Na cidade portuária de Beira, a mais afetada pelo ciclone Idai, ainda é possível ver sinais da pior tragédia de sua história. Muitos habitantes ainda nem puderam reformar suas casas ainda destelhadas e cobertas por lonas.

Autoridades moçambicanas monitoram – desde a semana passada – um sistema de baixa pressão atmosférica que pode se transformar em uma tempestade tropical a qualquer momento. Havia a expectativa de que essa possível tempestade atingisse a província de Cabo Delgado, região no norte de Moçambique destruída em abril pelo ciclone Kenneth. Mas de acordo com o boletim divulgado pelo Instituto Nacional de Meteorologia Direção de Análise e Previsão do Tempo, o país não corre mais este risco. Porém, ganhando força, a tempestade tropical pode atingir Madagascar nos próximos dias.

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