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Rússia/África

Rússia entra na batalha pela conquista do continente africano

O presidente russo Vladimir Putin recebe a partir deste quarta-feira (23) em Sochi, às margens do Mar Negro, cerca de quarenta líderes africanos. Esta é a primeira vez que o país organiza uma cúpula Rússia-África, inspirada em encontros realizados entre a França ou a China com o continente, com o objetivo de estimular as trocas comerciais e relançar sua economia.

O presidente russo, Vladimir Putin.
O presidente russo, Vladimir Putin. Sputnik/Aleksey Nikolskyi/Kremlin via REUTERS
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O evento deve marcar a « grande volta” da Rússia no continente africano. Em 20 anos, Vladimir Putin só visitou à África subsaariana três vezes. Mas a partir de agora, a Rússia acordou para a importância da região e quer conquistar novos mercados e criar novas parcerias estratégias e diplomáticas.

Para isso, Moscou tenta apagar das memórias o fato de ter abandonado o continente após o fim da União Soviética, em 1991. O discurso russo também tenta se diferenciar de seus concorrentes ocidentais ressaltando seu passado não colonialista e sua defesa do princípio de soberania. A enviada especial da RFI a Sochi, Florence Morice, relata que o país tenta reconquistar espaço lembrando a relação histórica que tinha com vários países, principalmente o papel da ex-União Soviética nas suas batalhas pela independência, como em Angola em 1975.

Cooperação econômica e formação de elites

O diretor do Observatório franco-russo de Moscou, Arnaud Dubien, afirma que esta relação era real e concreta. “A URSS investiu muito na África em termos financeiros, militares e de influência. Entre os ocidentais, que têm um passado colonial, e a China, que é um pouco invasora, a Rússia tem espaço em termos de cooperação econômica e formação de elites”, analisa Dubien.

Na segunda-feira (21), Vladimir Putin acusou na imprensa algumas ex-potências coloniais de "intimidar" e "chantagear" para manter sua influência no continente. O presidente russo garante que “não pede nenhuma contrapartida” a seus parceiros africanos.

A Rússia também lembra com frequência aos chefes de Estado e de governo da África que possui um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU que ela usou, por exemplo, para proteger o aliado sírio, Bashar Al-Assad.

Cancelamento da dívida

Provavelmente para se diferenciar da China, acusada de endividar os países do continente, Moscou promove sua política de cancelamento das dívidas, herdadas da época soviética de um valor superior a US$ 20 bilhões, e sua vontade de estabelecer uma cooperação bilateral equilibrada. Este discurso tenta esconder a fragilidade financeira russa, diante do gigante chinês.

O interesse russo pela África voltou a todo vapor em 2014, depois que a Rússia anexou a Crimeia e sofreu sanções econômicas ocidentais. Cinco anos depois, o país precisa de novos parceiros e mercados para estimular seu lento crescimento.

O comércio bilateral entre a Rússia e a África registra aumento constante e atinge hoje US$ 20 bilhões anuais. No entanto, ele é 10 vezes menor do que as trocas com a China.

Venda de armas

No centro desta ofensiva russa, está a venda de armas. Mas o país também vende cereais para o continente africano e quer ampliar seus negócios nos setores de hidrocarbonetos e de energia nuclear para fins civis. “Ao contrário dos chineses e europeus que se interessam pelas matérias primas africanas, nós queremos antes de mais nada desenvolver nossas exportações para a África”, detalha Andreï Maslov, especialista de relações entre as duas regiões.

Além do interesse econômico, há também o interesse político. Depois de seu retorno diplomático no Oriente Médio, graças a seu papel na Guerra da Síria, Putin quer consolidar sua influência global neste momento de divergências com as potências ocidentais.

A cúpula de Sochi acontece até esta quinta-feira (24). A expectativa é que vários contratos sejam assinados.

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