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"Um açougueiro não corta sua carne no chão": detalhes de conversa entre assassinos de jornalista saudita são revelados

A um dia do aniversário de um ano da morte do jornalista saudita Jamal Khashoggi, detalhes das conversas entre seus assassinos vêm à tona. Segundo responsáveis pelas investigações, durante o crime, a vítima, ainda viva, era descrita como "um animal destinado ao sacrifício".

Jamal Khashoggi, jornalista saudita crítico ao reino, foi assassinado em 2 de outubro de 2018.
Jamal Khashoggi, jornalista saudita crítico ao reino, foi assassinado em 2 de outubro de 2018. DR
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Em 2 de outubro de 2018, Jamal Khashoggi, jornalista saudita crítico ao reino, foi ao consulado de seu país de origem em Istambul, na Turquia, para regularizar seus documentos e poder se casar nos Estados Unidos, onde vivia e trabalhava. No entanto, ele nunca deixou o local e seus restos mortais jamais foram encontrados.

Riad primeiramente indicou que Khashoggi foi morto no consulado em Istambul durante uma briga. Nesta semana, o príncipe herdeiro Mohamed Bin Salman admitiu que o jornalista foi assassinado e esquartejado por funcionários do reino sem seu conhecimento.

Detalhes "aterrorizantes"

Helena Kennedy, uma advogada britânica que participou da investigação da ONU sobre o crime, ouviu uma gravação fornecida pelas autoridades turcas, registrada no consulado saudita no momento do crime. Em entrevista à BBC, ela contou que os responsáveis pela morte de Khashoggi comentam, em tom de brincadeira, que "um açougueiro não corta sua carne no chão", pouco antes de executá-lo.

"Eles avaliavam 'se o corpo e o quadril entrariam dentro de uma bolsa'", afirma ela em um documentário veiculado na segunda-feira (30) pela emissora britânica. Parte das conversas ocorreram diante do jornalista, quando ainda estava vivo.

"Você ouve Khashoggi passar do sentimento de confiança ao medo, depois a uma agonia crescente, ao terror e, finalmente, à certeza de que algo vai acontecer", conta Kennedy.

O médico legista, principal suspeito de ter cortado o corpo em pedaços, diz, segundo Kennedy: "Costumo ouvir música ao cortar cadáveres. Às vezes, com um café e um cigarro na mão". "Você os ouve rir, é arrepiante", contou a advogada.

Registro da morte

A relatora especial da ONU Agnès Callamard também teve acesso à gravação. Segundo ela, Khashoggi chega a perguntar a seus carrascos: "Vocês vão me dar uma injeção?".

"O que ouvimos depois mostra que ele está sendo sufocado, provavelmente com um saco plástico na cabeça", acrescentou ela. A sequência da conversa, segundo Callamard, dá a entender que o jornalista foi decapitado.

Os diálogos fazem parte de uma gravação de 45 minutos que a Turquia entregou à ONU. O assassinato teria envolvido cerca de 15 agentes sauditas.

A CIA e Agnès Callamard apontaram o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman como o mandante do crime. Apesar de ter assumido "total responsabilidade como líder da Arábia Saudita", ele alegou que não estava a par do assassinato. Segundo ele, é impossível conhecer todos os passos de seus funcionários.

Na tentativa de restaurar sua imagem, o reino saudita levou 11 suspeitos à Justiça. Cinco deles podem ser sentenciados à morte.

Manequins desmembrados

Para lembrar um ano do assassinato de Khashoggi, a ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) espalhou nesta terça-feira (1°) vários manequins desmembrados em frente do consulado saudita em Paris, exigindo que as circunstâncias do crime sejam esclarecidas.

De acordo com o secretário-geral da RSF, Christophe Deloire, a ação também tem o objetivo de chamar a atenção para todos que buscam a liberdade de imprensa na Arábia Saudita. A ONG indica que cerca de 30 jornalistas e blogueiros estão atualmente presos no reino.

(Com informações da AFP)

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