Em menos de um mês a Polônia vai às urnas para participar de eleições gerais que decidirão os rumos do país. Governado desde 2015 pelos ultraconservadores do Partido Lei e Justiça (PiS), o país aparentemente não está disposto a mudar de liderança. O PiS apresenta ampla vantagem nas pesquisas de intenção de voto, embalado pelo medo ao novo inimigo público número 1 dos conservadores: a chamada "peste LGBT".
Márcio Damasceno, correspondente da RFI em Berlim
Ataques contra gays e lésbicas estão ocorrendo há meses na Polônia. Em julho, a primeira passeata do orgulho gay na cidade de Białystok, no leste do país, foi atacada brutalmente por centenas de neonazistas. Imagens mostram os extremistas perseguindo e espancando pessoas. Naquele mesmo mês, o semanário polonês Gazeta Polska distribuiu adesivos com a mensagem "Zona Livre de LGBT". A edição da revista foi um sucesso de vendas. Várias localidades no interior do país se declararam “livres de LGBTs”.
O partido governista é tido como um criador dessa onda, e não somente surfa nela, como também a incentiva. Esse governo, que venceu a eleição de 2015 pregando contra os refugiados, agora vê nos homossexuais um novo alvo para conseguir mais votos. A estratégia está funcionando: o Pis deve manter uma maioria parlamentar.
Enquanto o premiê polônes, Mateusz Morawiecki, declara timidamente rejeitar a violência e a intolerância, o chefe do partido, considerado o verdadeiro homem forte do governo, Jaroslaw Kaczynski, diz que a chamada "ideologia LGBT" é uma ameaça para a família e a tradição polonesas. A religião também influencia esse comportamento. A Igreja Católica é especialmente poderosa na Polônia e uma importante aliada do governo. Ela apoia a luta contra essa suposta ideologia LGBT e joga ainda mais lenha na fogueira.
Nova ameaça para o país
Num sermão no mês passado, o arcebispo da Cracóvia, Marek Jedraszewski, afirmou que existe uma nova ameaça no país, que não é mais a vermelha, dos marxistas, mas uma praga neomarxista na cor do arco-íris, se referindo à bandeira do movimento LGBT. As entidades gays realizam regularmente passeatas contra intolerância, mas essas manifestações costumam se restringir a grandes centros urbanos, como Varsóvia, onde geralmente o Pis não faz parte do governo.
E a oposição?
A força do PiS está nas áreas rurais, no interior da Polônia, principalmente no leste do país. Nesses lugares, a resistência é grande, como mostra o que ocorreu em Białystok. Na cidade de Szczecin, perto da fronteira com a Alemanha, a passeata do orgulho gay reuniu milhares de pessoas neste sábado. Foi um recorde de público e muitos viajaram da Alemanha para participar da manifestação. No ano passado, o mesmo evento só conseguiu reunir pouco mais de 100 pessoas e a passeata foi perturbada pela presença maciça de extremistas de direita.
Os liberais e a esquerda criticam a postura do governo, mas também não querem perder a parcela conservadora de seu eleitorado. Quase 90% da população polonesa católica e bastante apegada a valores como tradição e família.
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