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Geopolítica/Nuclear

Teste com míssil americano é endereçado à China, avalia general francês

Estamos testemunhando a um retorno à corrida armamentista? Sim, mas o teste realizado pelos Estados Unidos com um míssil terra-ar de médio alcance, no último domingo (18), é mais direcionado à China do que à Rússia, observa o general Dominique Trinquand, ex-chefe da missão militar francesa na ONU. "Nós falamos muito sobre a Rússia, mas é na verdade para a China que esse alerta é destinado", disse o francês.

Estados Unidos testam míssil de médio alcance após deixar tratado INF.
Estados Unidos testam míssil de médio alcance após deixar tratado INF. Scott HOWE / DoD / AFP
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A Rússia acusou nesta terça-feira (20) o governo dos Estados Unidos por uma "escalada de tensões militares", após o anúncio de Washington de seu primeiro teste de míssil de médio alcance desde a Guerra Fria, consequência do fim do tratado de desarmamento nuclear conhecido pela sigla INF. A China também reagiu dizendo que o teste vai reativar a corrida armamentista.  

A experiência americana, que teve sucesso, aconteceu no domingo na ilha de San Nicolas, na costa da Califórnia, às 14H30 locais (18H30 de Brasília), segundo o Pentágono. O projétil era uma "variação de um míssil de cruzeiro de ataque terra-terra Tomahawk". Imagens publicadas pelo exército americano mostram o míssil disparado a partir de um sistema de lançamento vertical Mark 41.

Rússia e Estados Unidos concretizaram no início de agosto o abandono do tratado sobre armas nucleares de médio alcance (INF), cuja assinatura no período final da Guerra Fria em 1987 acabou com a crise dos mísseis europeus, provocada pelo deslocamento na Europa dos SS-20 soviéticos com ogivas nucleares.

Mensagem para a China

O general Trinquand explica que os americanos utilizaram o "pretexto" de que os russos haviam saído do INF "de fato" para também abandonar o tratado. "Mas desde então, há poderes em ascensão, principalmente a China, que não estão ligados a este texto", nota o militar francês. "O presidente Donald Trump quis romper com este tratado para ter suas mãos livres como os chineses", avalia.

Trinquand considera que "os chineses têm um arsenal relativamente pequeno". Mas os americanos "anunciaram que em um ano eles vão instalar mísseis no Pacífico, o que indiretamente ameaça a China. "Neste momento, os chineses poderiam entrar em uma corrida armamentista", acredita o ex-chefe da missão militar francesa na ONU.

"Não cederemos à provocação"

"Lamentamos tudo isto. O governo dos Estados Unidos toma de maneira flagrante o caminho de uma escalada de tensões militares, mas não cederemos à provocação", declarou o vice-ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Riabkov. Para Riabkov, o "prazo extremamente apertado" que Washington precisou para executar com sucesso o teste demonstra que o governo americano estava preparado para o abandono do tratado assinado pelos dois países. O diplomata afirmou que o uso do Tomahawk e do Mark 41 significa que "estes sistemas serão utilizados para o lançamento não apenas de mísseis interceptores, mas também de mísseis de cruzeiro", que têm longo alcance.

A novidade no teste de domingo foi o sistema de lançamento instalado em terra. O míssil era convencional, mas qualquer míssil pode posteriormente ser equipado com uma ogiva nuclear. O presidente russo, Vladimir Putin, que visitou a França na segunda-feira (19), reiterou que Moscou não vai instalar novos mísseis enquanto Washington não fizer o mesmo. Durante uma entrevista coletiva com o presidente francês, Emmanuel Macron, Putin acusou Washington de "não ouvir" Moscou. "Os europeus devem nos escutar e reagir", disse.

No início do mês, Putin solicitou a Washington um "diálogo sério" sobre o desarmamento para "evitar o caos". Ele propôs uma moratória sobre a instalação das armas nucleares proibidas pelo tratado INF. Agora resta em vigor apenas um acordo nuclear entre os dois países: o tratado Start, que mantém os arsenais nucleares dos dois países abaixo do nível da Guerra Fria e que expira em 2021.

Segundo o posicionamento oficial de Pequim, o lançamento do míssil "prova que o verdadeiro objetivo da retirada americana do INF era avançar no desenvolvimento de mísseis e lutar pela superioridade militar unilateral", afirmou o porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores, Geng Shuang. Em termos muito similares aos utilizados alguns minutos antes pela Rússia, o porta-voz chinês declarou que o gesto de Washington vai "reativar a corrida armamentista e conduzir a uma escalada de confrontos militares, o que terá graves consequências negativas para a segurança regional e internacional".

*Com agências internacionais

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