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Linha Direta

Israel recua e autoriza visita de deputada americana “por razões humanitárias”

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A grande polêmica criada após decisão de Benjamin Netanyahu de barrar na quinta-feira (15) a entrada de duas deputadas democratas americanas a Israel fez o governo israelense recuar na manhã desta sexta-feira (16). Uma das duas parlamentares, que tem família na Cisjordânia, Rashida Tlaib, foi autorizada a viajar ao país como previsto neste final de semana. Mas a outra deputada muçulmana, Ilhan Omar, continua impedida de entrar em Israel.

Fotomontagem com o presidente Donald Trump, as duas deputados muçulmanas,Ilhan Omar e Rashida Tlaib, e o primeiro-ministro israelense Benyamin Netanyahu.
Fotomontagem com o presidente Donald Trump, as duas deputados muçulmanas,Ilhan Omar e Rashida Tlaib, e o primeiro-ministro israelense Benyamin Netanyahu. REUTERS/File Photos
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Ligia Hougland, correspondente da RFI em Washington

Na última noite, Rashida Tlaib, a primeira deputada americana de origem palestina, escreveu às autoridades israelenses para pedir a autorização de visitar sua família, e principalmente sua avó, que mora em um vilarejo perto de Ramallah, na Cisjordânia. Ela "prometeu não estimular a causa do boicote a Israel durante sua estada" e o ministro do Interior, Aryeh Dery, autorizou sua entrada "para uma visita humanitária a sua avó", afirma um comunicado divulgado pelo ministério. Israel é a porta de entrada para os Territórios Palestinos ocupados.

Pouco antes, a Organização para a Libertação Palestina havia denunciado a decisão de Israel de impedir a entrada das duas parlamentares como um ato hostil e um ataque contra o direito do povo palestino de dialogar com o resto do mundo. Críticos israelenses questionam a proximidade entre Donald Trump e Benjamin Netanyahu.

A decisão do governo de Israel de barrar a entrada das deputadas, recebeu destaque dos noticiários americanos, por ser uma medida bastante incomum de ser tomada por estados democráticos contra políticos de nações aliadas. Além disso, a decisão foi tomada logo depois de Donald Trump ter se manifestado, pelo Twitter, contra a visita, indicando que o presidente americano possa ter influenciado a ação do governo israelense.

Israel já havia concordado com a visita das deputadas, mas depois de o presidente americano tuitar que achava que recebê-las seria um “sinal de fraqueza” de Israel, pois, Omar e Tlaib “odeiam Israel e os judeus”, anunciou que não permitiria a entrada delas no país. Benjamin Nentanyahu seguir o conselho - ao mesmo tempo velado e público - de Trump não é surpreendente, uma vez que, não apenas Israel e EUA são aliados leais, como os dois chefes de estado são amigos pessoais de longa data.

Cálculo político?

É possível que isso tenha sido uma jogada combinada por Trump e Nentanyahu, pois o presidente americano também tuitou que as deputadas eram “a cara do Partido Democrata”, associando o partido da oposição ao antissemitismo.

Mesmo com a autorização para a viagem de uma das parlamentares e a sólida lealdade entre os dois líderes, a decisão de impedir a entrada das parlamentares a Israel gera grandes consequências. Ao tomar essa medida, Nentanyahu se indispôs com os democratas no Congresso americano, além de ser contestado também por republicanos. Os candidatos democratas às primárias, Bernie Sanders e Elizabeth Warren, criticaram duramente a decisão do governo israelense.

O primeiro-ministro justificou sua decisão dizendo que havia uma lei que proíbe a entrada em Israel de pessoas que promovam boicote ao país. Segundo eles, as deputadas tinham interesse em fazer ativismo e promover o boicote a Israel, pois não haviam solicitado nenhuma reunião com representantes do governo israelense, nem de sua oposição. Além disso, o itinerário se referia ao destino da viagem como Palestina, e não como Israel.

Netanyahu havia, no entanto, indicado que se Tlaib se comprometesse não fazer campanha pelo boicote ao país durante sua visita, sua viagem à Cisjordânia poderia ser autorizada. Foi o que a parlamentar fez na carta enviada ao governo israelense, conseguindo o sinal verde para seu desembarque.

Decisão rara em democracias

A lei que o governo israelense citou como base para a decisão de proibir a entrada das deputadas foi aprovada em 2017 e é pouco conhecida. A decisão de barrar a entrada de críticos às políticas de um país é polêmica, especialmente sendo tomada por uma democracia e contra políticos de uma nação aliada. Por outro lado, há 13 países muçulmanos que proíbem a entrada de cidadãos israelenses, e oito deles proíbem até mesmo a entrada de pessoas que tenham visitado Israel.

A deputada Omar, que continua impedida de ir a Israel, disse que a decisão era “um insulto aos valores democráticos” e que Netanyahu estava impedindo a entrada de muçulmanos, algo que, segundo ela, Trump gostaria de fazer nos Estados Unidos. Antes de ter sido autorizada finalmente a viajar ao país, a Tlaib tuitou uma foto de sua avó palestina, dizendo que ela merecia viver com dignidade e que a decisão de não permitir sua visita seria um sinal de “fraqueza de Israel”.

Alguns opositores às parlamentares apontaram uma viagem planejada justamente com o intuito de colocar Nentanyahu em uma situação difícil, pois elas são abertamente contra o governo do primeiro-ministro e apoiam o movimento BDS (Boicote, Desinvestimentos e Sanções) contra Israel. A viagem seria financiada pela Miftah, uma organização que é grande promotora da campanha de boicote ao país.

As duas políticas muçulmanas fazem parte do novo grupo progressista do Partido Democrata. O grupo promove políticas consideradas bastante de esquerda para os padrões convencionais de Washington, recebendo destaque nos noticiários e fazendo com que seja visto como a nova cara da sigla. Os democratas têm pouco tempo para decidir se adotam as plataformas da nova ala progressista ou se devem voltar ao estilo moderado de Bill Clinton para conseguir novamente conquistar a Casa Branca nas eleições de 2020.

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