Empresária brasileira aposta em brigadeiros para conquistar consumidores israelenses
Publicado em:
Ouvir - 03:28
A empresária paulista Meire Nussbacher, de 38 anos, não podia imaginar que algum dia venderia brigadeiros, os clássicos doces brasileiros, para israelenses. Mas é exatamente o que ela está fazendo, dois anos depois de se mudar para o país do Oriente Médio com o marido e três filhos.
Daniela Kresch, correspondente da RFI em Tel Aviv
Formada em moda no Brasil, Meire trabalhou em startups e grandes multinacionais. Mas, depois que se mudou para Israel, buscou uma nova carreira. E por que não apresentar aos israelenses o mais famoso doce nacional, uma novidade para eles e uma maneira para que ela se sentisse próxima ao Brasil?
Mas, para isso, teve que começar do básico: buscar os melhores ingredientes locais e as melhores receitas, conta Meire, em entrevista à RFI.
“O que eu fiz? Como aqui não tem o leite condensado tradicional que tem no Brasil, eu peguei o que tem por aqui e levei para o Brasil para fazer um curso de brigadeiros gourmet”, conta Meire. “Não adiantava fazer o curso com leite condensado do Brasil, que é famoso, sendo que eu não ia trabalhar com esse lá. Então, eu levei daqui e a gente fez testes para poder chegar no ponto que seria o ideal do brigadeiro.”
Novidade “esquisita”
Depois de criar as receitas e todo o layout do primeiro quiosque com o nome de “Brigaderia” no maior centro comercial de Israel, o Shopping Azrieli em Tel Aviv, Meire descobriu que o doce tão amado no Brasil era realmente uma novidade esquisita para os consumidores locais.
Os israelenses achavam os brigadeiros muito bonitos e até tiravam fotos com eles – alguns com o tradicional chocolate granulado, outros com confeitos coloridos. Mas nem todos tinham coragem de experimentar.
“No primeiro mês, a gente teve uma reação muito surpreendente, mas pendendo para o lado negativo. As pessoas aqui têm uma mania muito grande de cheirar, de cheirar o brigadeiro, e colocar na boca com medo. Com medo de achar uma coisa nojenta”, conta a empresária. “No segundo mês, eu comecei a ver que a tendência começou a inverter, que os israelenses começaram a gostar, a curtir o brigadeiro e ver que ele não é tão ruim como imaginavam”, relembra.
A resposta dos israelenses levou a empresária paulista a planejar a abertura de um café na cidade onde ela mora, Raanana, ao norte de Tel Aviv. O local tem uma das maiores comunidades de brasileiros em Israel e a Brigaderia Café é, segundo ela, uma demanda dos compatriotas locais. O espaço, com 120 metros quadrados, abrirá as portas no final deste mês.
Choque cultural
Além dos brigadeiros, ela vai servir café, pão de queijo e açaí, certa de que os gostos do Brasil vão agradar também os israelenses. A brasileira ainda está se habituando aos costumes e gostos locais. Mas, segundo ela, o choque cultural é inevitável.
“É um país muito difícil. As pessoas são fechadas. A cultura também é um pouco diferente da nossa. Nós temos uma cultura muito alegre, muito bonita, muito sorridente. Mas acho que a gente vai se acostumando”, avalia.
Meire decidiu deixar o Brasil há dois anos, na esperança de criar um futuro melhor para os filhos. A primeira opção era os Estados Unidos, mas o marido sempre havia sonhado em tentar a vida em Israel, país onde a mãe nasceu.
“Quando ele era mais jovem, a mãe dele, que nasceu aqui, dizia que Israel era um país muito pobre, que não era um país para se trabalhar, para se ganhar dinheiro. E nunca deixou ele vir”, conta Meire.
Mas o cenário mudou, salienta a brasileira. “Israel é o país do high-tech, do Waze, tem grandes empresas, muito fortes. Por isso a gente tomou a decisão de vir para cá e não para os Estados Unidos. Foi quando a gente percebeu uma luz, uma oportunidade de trazer um gostinho brasileiro aqui para Israel. Agora a gente vê que a aceitação está ‘mea ahuz’, ou seja, está 100%.”
NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.
Me registro