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Índia/Mulheres

Mulheres desafiam ortodoxos e visitam templo sagrado hindu na Índia

Em 2019, as indianas decidiram protestar contra “a dominação patriarcal” em seu país. No primeiro dia do ano, elas realizaram um protesto com uma gigantesca corrente humana de milhões de mulheres em Kerala (Sul). Batizado de “Muro das Mulheres”, a manifestação de 620 quilômetros foi organizada pelo governo local. Nesta quarta-feira (2), as indianas voltaram a enfrentar as ameaças de tradicionalistas e penetraram em um dos santuários mais importantes da Índia.

Bindu Ammini, 42, e Kanaka Durga, 44, são escoltadas pela polícia após saírem do templo de Sabarimala, na Índia.
Bindu Ammini, 42, e Kanaka Durga, 44, são escoltadas pela polícia após saírem do templo de Sabarimala, na Índia. REUTERS/Stringer
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Duas mulheres entraram com proteção policial nesta quarta-feira (2) em um dos santuários indianos mais sagrados do hinduísmo, sem o conhecimento dos fiéis tradicionalistas, hostis a uma decisão da Suprema Corte do país que anula a proibição de entrada de mulheres entre 10 e 50 anos de idade.

A visita das duas mulheres ao templo de Sabarimala, em Kerala, provocou protestos, inclusive em frente à sede do Parlamento, Thiruvananthapuram, e confrontos com a polícia, quando muitos fiéis ortodoxos ficaram feridos. As duas mulheres entraram no templo pouco antes do amanhecer e saíram sem serem detectadas, segundo as autoridades indianas.

Este templo tem sido nas últimas semanas um polo de confrontos entre tradicionalistas hindus, a favor da manutenção da proibição da entrada das mulheres, e defensores da decisão do Supremo Tribunal da Índia, incluindo associações de defesa dos direitos das mulheres.

Imagens filmadas mostraram as duas mulheres, Kanaka Durga e Bindu, entrarem no templo vestidas de preto, com suas cabeças inclinadas. "Nós não subimos os 18 degraus sagrados, mas passamos pela entrada de serviço", disse uma das duas mulheres, que permanecem sob proteção policial.

Purificação após “intrusão”

O ato provocou protestos na capital do estado de Thiruvananthapuram, com dezenas de tradicionalistas cantando slogans e exigindo a renúncia do governador Pinarayi Vijayan. Em frente ao parlamento local, a polícia usou gás lacrimogêneo, granadas de efeito moral e canhões de água contra manifestantes, informou a mídia local. Alvo de arremesso de pedras, as forças de ordem expulsaram os manifestantes que tentavam fechar as lojas. Outras manifestações aconteceram em outras cidades de Kerala.

Cinco manifestantes que tentaram invadir o parlamento de Thiruvananthapuram foram presos, assim como jornalistas. O maior templo hindu de Sabarimala, o Ayyappa, foi objeto de vinte anos de batalha legal até que, em 28 de setembro de 2018, o Supremo Tribunal considerou discriminatório o fato de que o templo banisse mulheres em idade fértil, entre 10 e 50 anos. Mulheres que menstruam são frequentemente consideradas impuras na sociedade indiana, conservadora e patriarcal.

Enquanto a maioria dos templos hindus não permite que as mulheres entrem quando ainda menstruam, Sabarimala foi uma das poucas a proibir todas aquelas entre a puberdade e a menopausa. "Observar as fotos mostrando-as entrando no santuário me fez chorar de alegria, demorou muito tempo para conseguirmos nosso lugar", observou a escritora feminista Meena Kandasamy no Twitter.

Muitos grupos hindus tradicionalistas e o Partido Bharatiya Janata (BJP), do primeiro-ministro, Narendra Modi, denunciaram a decisão do Supremo Tribunal. Nesta quarta-feira, autoridades locais do BJP anunciaram que realizariam dois dias de manifestações no estado, lideradas por uma aliança de esquerda, para protestar contra a invasão das duas mulheres. Desde a decisão do Supremo Tribunal, várias mulheres tentaram entrar no santuário, mas foram impedidas pelos tradicionalistas.

Assim que as informações da invasão feminina vazaram, os funcionários do templo ordenaram seu fechamento para um ritual de purificação. O local reabriu uma hora depois.

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