Ódio expressado por políticos justifica aumento de violência contra jornalistas em 2018
Após três anos em queda, a violência contra os jornalistas voltou a crescer em 2018. Os países com o maior número de profissionais de mídias mortos são Afeganistão, Síria e México. Para a ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF), o ódio expressado por políticos e religiosos, disseminado principalmente nas redes sociais, justifica o aumento.
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No total, 80 profissionais e colaboradores de empresas de mídia morreram no mundo em 2018, segundo balanço anual da RSF divulgado nesta terça-feira (18). Em 2017, foram registradas 65 mortes de jornalistas no exercício de sua profissão, contra 55 no ano passado - o que representa um aumento do 15%.
Segundo o relatório, o mundo tem hoje 348 profissionais presos e 60 mantidos como reféns, a metade deles na Síria. A ONG lamenta essa violência inédita: nos últimos 10 anos, mais de 700 jornalistas profissionais morreram.
De acordo com a RSF, mais da metade dos jornalistas mortos foram "visados deliberadamente e assassinados". É o caso do saudita Jamal Khashoggi, executado no consulado da Arábia Saudita em Istambul em 2 de outubro, e do eslovaco Jan Kuciak, morto em 21 de fevereiro.
"O ódio contra os jornalistas, inclusive reivindicado por líderes políticos, religiosos ou empresários sem escrúpulos, tem consequências dramáticas no trabalho e se traduz em um preocupante aumento dessas violências", lamenta Christophe Deloire, secretário-geral da RSF. Segundo ele, o sentimento de raiva, multiplicado nas redes sociais, legitima as agressões e enfraquece não apenas o jornalismo, mas também a democracia.
Afeganistão é o pior país para jornalistas
O Afeganistão foi o país mais violento para os jornalistas este ano com 15 mortes, à frente da Síria, que ocupava o primeiro lugar desde 2012 e que registrou 11 assassinatos de jornalistas em 2018.
No dia 30 de abril, um atentado em Cabul matou 12 profissionais da imprensa, incluindo o fotógrafo da AFP Shah Marai Fezi, repórteres da Radio Free Europe e da agência Tolo News.
A RSF também ressalta que quase metade dos jornalistas morreram em países em paz, como México (terceiro país mais violento, com nove jornalistas assassinados), Índia (seis mortos) e Estados Unidos (seis), que entrou no ranking sombrio após o tiroteio contra a redação do jornal Capital Gazette, em junho deste ano.
Aumento das detenções
O número de jornalistas detidos também aumentou, destaca o relatório, com 348 detenções em 2018 contra 326 em 2017 (+7%), o que afeta especialmente os jornalistas não profissionais.
Mais da metade dos jornalistas detidos em todo o planeta estão em apenas cinco países: Irã, Arábia Saudita, Egito, Turquia e China, a maior penitenciária de repórteres do mundo com 60 jornalistas presos, 75% deles não profissionais.
"Com o endurecimento da regulamentação para a internet, estes jornalistas são detidos, geralmente em condições desumanas, após uma simples postagem ou uma informação publicada nas redes sociais ou em aplicativos de mensagens privadas", afirma a ONG.
O número de reféns também aumentou, 11%, com 60 jornalistas sequestrados atualmente, contra 54 no ano passado. Entre eles, 59 - incluindo seis estrangeiros - estão em cativeiro no Oriente Médio (Síria, Iraque e Iêmen). A ONG também registrou três novos casos de jornalistas desaparecidos ao longo do ano, dois na América Latina e um na Rússia.
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