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Linha Direta

Turquia divulga imagens de agentes sauditas suspeitos da morte de jornalista

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A polícia turca já identificou sete suspeitos pelo desaparecimento do jornalista saudita Jamal Khashoggi, de 59 anos. Há oito dias, ele entrou no consulado da Arábia Saudita em Istambul e nunca mais foi visto. Os indícios são de que eles fazem parte de um grupo de 15 pessoas dos serviços de inteligência sauditas que chegaram à Turquia em dois aviões particulares na data do sumiço do dissidente.

Militantes de direitos humanos exibem cartazes com a imagem de Jamal Khashoggi, desaparecido desde 2 de outubro em Istambul.
Militantes de direitos humanos exibem cartazes com a imagem de Jamal Khashoggi, desaparecido desde 2 de outubro em Istambul. REUTERS/Osman Orsal
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Fernanda Castelhani, correspondente em Istambul

O jornal turco pró-governo "Sabah" publicou nesta quarta-feira (10) os nomes de 15 agentes dos serviços de inteligência da Arábia Saudita suspeitos de envolvimento no caso. As autoridades turcas chegaram a eles analisando gravações de câmeras de segurança localizadas na rua do consulado – uma vez que os sauditas afirmam que, justamente daquele dia, não há registros internos. O canal turco 24 TV também exibiu hoje as imagens captadas pelas câmeras.

Na gravação, aparecem os sete suspeitos ingressando no complexo uma hora antes de Khashoggi e saindo de carro quase três horas depois em direção à casa do cônsul saudita – a 200 metros dali, de acordo com os policiais turcos.

De acordo com o editor do diário "Aksam", Murat Kelkitlioglu, entrevistado durante a apresentação das imagens pelo canal 24 TV, é "certo" que Khashoggi foi transportado naquele carro, "vivo ou morto".

As investigações também apontam que funcionários turcos do consulado tiveram um dia de folga exatamente na data em que o jornalista desapareceu.

Um dos nomes citados pela imprensa local como integrante da "equipe de assassinato" do jornalista é o de Salah Muhammed Al-Tubaigy, tenente-coronel do Departamento de Medicina Legal saudita.

Jornalista criticava o regime

Jamal Khashoggi deixou seu país no ano passado para se exilar nos Estados Unidos. Por anos, foi visto como alguém próximo da família real saudita. Mas, com a ascensão do príncipe Mohammed, filho do rei Salman, colegas de trabalho de Jamal acabaram presos e ele chegou a declarar que temia pela própria vida. Em território americano, passou a escrever artigos para o "Washington Post", com críticas ao príncipe herdeiro.

No dia 2 de outubro, o jornalista foi à representação diplomática em Istambul obter documentos para o seu futuro casamento com a noiva, que é turca. Policiais locais acreditam que o governo de Riad sabia que o jornalista visitaria novamente a repartição na terça-feira da semana passada porque ele já havia estado lá anteriormente e foi orientado a voltar neste dia em que acabou desaparecido. Pouco antes de entrar, Jamal deixou seu celular com a noiva, que ficou do lado de fora do consulado, e pediu que ela entrasse em contato com as autoridades caso ele não retornasse, segundo depoimento dela.

As autoridades turcas pediram, e, num gesto de cooperação da Arábia Saudita, a polícia foi autorizada a iniciar em breve buscas dentro da missão diplomática. A avaliação turca é de que Jamal foi assassinado no local num crime premeditado pelo regime saudita e que o corpo foi retirado do prédio – acusação que, segundo o regime saudita, não tem nenhum fundamento.

Arábia Saudita teme retaliação dos EUA

A Turquia, um dos países que mais aprisionam jornalistas no mundo, está sendo colocada na curiosa posição de brigar pela causa justamente de um comentarista dissidente. Mas todas as informações-chave do processo, até agora, foram divulgadas por meio de vazamentos e declarações anônimas.

Além de parceiros do conflito na Síria, onde apoiam os opositores sunitas contra o regime xiita do presidente sírio Bashar Al-Assad, Turquia e Arábia Saudita são grandes parceiros comerciais. O território saudita está entre os principais destinos das exportações turcas e mais de meio milhão de turistas sauditas visitam as cidades turcas todos os anos. Por isso, Ancara tem sido bem cautelosa em não direcionar ataques diretos à dinastia amiga e analistas acreditam que este caso, talvez, estremeça um pouco o relacionamento entre os países, mas não vá gerar nenhum rompimento.

O receio da Arábia Saudita é, na verdade, de sofrer retaliação de outro parceiro diplomático: os Estados Unidos, país de residência do jornalista desaparecido. Esta é uma grande oportunidade para a Turquia se reaproximar da Casa Branca. Está nas mãos do governo de Ancara se mostrar empenhado em solucionar com clareza o caso que, apesar de envolver um domínio estrangeiro em solo turco, ocorreu dentro do país.

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