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Linha Direta

Protestos contra padre acusado de abuso sexual marcam visita do Papa aos países bálticos

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O papa Francisco embarca neste sábado (22) para uma viagem de três dias à Letônia, Estônia e Estônia. A viagem acontece em um momento em que o Vaticano mantém o silêncio diante de uma série de casos de abuso de menores.

Papa viaja para celebrar a liberdade dos países Bálticos em meio à crise envolvendo abusos
Papa viaja para celebrar a liberdade dos países Bálticos em meio à crise envolvendo abusos REUTERS/Dylan Martinez
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Rafael Belincanta, correspondente da RFI em Roma

A visita do papa gerou protestos na Lituânia e na Letônia, sobretudo em relação aos custos da visita ao país, que durará somente 8 horas e custará aos cofres públicos cerca de € 800 mil, aproximadamente R$ 2,4 milhões.

Isso reflete a influência política da Igreja Católica na Lituânia que, assim como na Letônia, exerce pressão contrária à ratificação da Convenção de Istambul promovida pelo Conselho da Europa para diminuir os casos de violência contra a mulher. A Igreja católica considera esse um discurso de “ideologia de gênero” que “ameaça a família tradicional”. Sem contar o fato que Lituânia e Letônia fazem parte do grupo de seis países da União Europeia que ainda não reconhecem as uniões civis entre pessoas do mesmo sexo.

Além dos custos para receber o papa, organizações independentes da sociedade civil também criticaram o parlamento por ter decretado feriado nacional no dia da visita do papa. Isso porque, em março, após dois anos de investigações, a Igreja católica da Lituânia admitiu um caso de abuso sexual nos anos 70.

Abuso de jovem deficiente gera revolta

Já na Letônia, na última semana, o caso de um suposto abuso de um jovem portador de necessidades especiais por parte de um padre católico de 73 anos gerou indignação e protestos entre a população. Se for confirmado, será mais um caso de abuso por parte de religiosos católicos como recentemente foi divulgado nos Estados Unidos e na Holanda.

Irá somar-se aos cerca de mil casos de abuso de menores cometidos por mais de 300 padres ao longo de 70 anos na Pensilvânia e às recentes denúncias de abuso na Holanda. Mas isso provavelmente não será recordado no momento da visita, uma vez que os católicos dos países bálticos darão mais atenção a emoções e sentimentos pessoais ao encontrarem o papa.

Vilnius será base do papa

O único país báltico de maioria católica é a Lituânia: 78% da população se declara fiel a Roma. Tanto é que a capital Vilnius será a base do papa e de lá ele se deslocará para os demais países. Já a Letônia conta uma maioria luterana: aproximadamente 60% da população.

Na Estônia, 75% da população considera-se sem religião e os católicos são somente 6 mil habitantes. Mesmo assim, essa minoria católica da Estônia espera que a visita do papa possa ajudar a abrir caminhos para o país ter seu primeiro santo católico: Eduard Profittlich, bispo que morreu numa prisão soviética durante a Guerra Fria.

Centenário da fundação dos três Estados

O papa chega aos países bálticos para o centenário da fundação dos três Estados. A entrada da Letônia, Lituânia e Estônia na União Europeia em 2004 decretou a ligação permanente com Bruxelas e o Ocidente, deixando Moscou mais à leste.

Após a restauração da independência, a Letônia e a Estônia organizaram-se como Repúblicas parlamentaristas. Já na Lituânia o sistema de governo é semipresidencialista, com um dos chefes de Estado eleito pelo voto direto. Porém, os anos de anexação soviética marcaram profundamente a sociedade báltica, que ainda tenta cicatrizar profundas feridas deixadas pela ocupação soviética, assim como aquelas da invasão nazista com suas perseguições e deportações aos campos de concentração.

Apesar disso, os países do Báltico alcançaram importantes conquistas nas últimas duas décadas, sobretudo no desenvolvimento humano, com excelentes indicadores econômicos mesmo que ainda apresentem desigualdades sociais. Ao visitar os países Bálticos, geograficamente o papa estará muito perto do território russo, terra ambicionada pelo Vaticano por nunca ter sido pisada por um papa, assim como a China.

 

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