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Linha Direta

Jordânia bloqueia 60 mil refugiados na fronteira com a Síria

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A nova ofensiva militar do governo sírio, iniciada há três semanas, levou 320 mil pessoas a fugirem do país, boa parte para a fronteira com a Jordânia. Amã recusa, no entanto, a entrada de refugiados desde 2016, e bloqueia neste momento cerca de 60 mil pessoas em sua divisa com a Síria.

Criança síria recebe tratamento em um posto médico militar jordaniano na cidade de Mafraq, perto da fronteira conjunta Jordânia-Síria.
Criança síria recebe tratamento em um posto médico militar jordaniano na cidade de Mafraq, perto da fronteira conjunta Jordânia-Síria. REUTERS/Muhammad Hamed
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Danielle Ferreira, correspondente da RFI em Amã

Em 17 de junho, o governo da Síria iniciou uma ofensiva militar em Dara’a. A província fica no sudoeste do país, próxima do norte da Jordânia, e das Colinas de Golã, ocupadas por Israel. Com a intensificação dos bombardeios, ao menos 320 mil pessoas foram deslocadas, segundo estimativa da Organização das Nações Unidas (ONU).

Muitas pessoas estão se dirigindo para as fronteiras com Israel e Jordânia. Os dois países não estão permitindo a entrada dos refugiados, mas trabalham para entregar assistência humanitária. Cerca de 60 mil sírios estão na fronteira ao norte da Jordânia, perto da cidade de Nasib. A Jordânia fechou sua divisa com a Síria em 2016, quando um ataque suicida matou sete guardas jordanianos.

Na quinta-feira (5), o alto-comissário da ONU para refugiados, Filippo Grandi, pediu em comunicado que a Jordânia abra as fronteiras e ofereça refúgio temporário para os sírios. Além dos escassos recursos, a segurança é uma das justificativas da Jordânia para não receber mais refugiados.

A porta-voz do governo, Jumana Ghunimat, afirmou que o país está ciente do sofrimento dos sírios, mas que sua segurança e economia devem ser prioridades. “Todos sabem que há grupos armados dentro da Síria e que a Jordânia não pode arriscar receber mais refugiados”, afirmou em comunicado.

As condições para as pessoas deslocadas de Dara’a são muito ruins. Elas estão uma área desértica que não tem estrutura para recebê-las. A ONU afirma que há relatos de que ao menos 12 crianças, duas mulheres e um homem morreram nos últimos dias. Entre as causas das mortes estão picadas de escorpião, desidratação e doenças contraídas por água contaminada. Algumas pessoas em caso crítico foram levadas para tratamento médico na Jordânia.

Assistência humanitária

O governo jordaniano lançou uma campanha para arrecadar doações. Os moradores das cidades próximas estão se mobilizando para entregar água, comida, cobertores e colchões para os sírios. Comboios com suprimentos estão sendo enviados em coordenação entre a ONU e as Forças Armadas da Jordânia. No entanto, nem todos os itens puderam ser entregues por questões de segurança.

A guerra civil na Síria já deixou mais de 5,6 milhão de refugiados, segundo a agência da ONU para o tema. Oficialmente, o número de refugiados sírios na Jordânia é de mais de 660 mil pessoas. No entanto, a estimativa pode ser maior, pois nem todos estão registrados.

Os primeiros protestos contra o governo de Bashar al-Assad começaram em Dara’a em 2011.  A região estava sob um acordo de cessar-fogo negociado em julho de 2017 pelos Estados Unidos, Rússia e Jordânia. Agora, o objetivo do governo sírio é retomar o controle da área. Além de Dara’a, Idlib, no noroeste da Síria, ainda está sob controle de grupos de oposição.

Os Estados Unidos criticaram a quebra do cessar-fogo promovida pela Síria e Rússia. No entanto, não providenciaram resposta militar. O ministro de Relações Exteriores da Jordânia, Ayman Safadi, viajou à Rússia na quarta-feira (04) para discutir a situação com o ministro Serguei Lavrov.

Um trabalhador humanitário que não quis se identificar falou com a RFI sobre o fechamento das fronteiras. Para ele, a falta de recursos da Jordânia e a possível atuação desses novos refugiados em grupos extremistas na Síria são fatores a serem considerados. Em sua opinião, no momento, pela impossibilidade de realizar uma checagem do perfil das pessoas, o melhor é providenciar assistência humanitária dentro do território sírio.

Nos últimos dias, a Jordânia vem sofrendo pressão de órgãos internacionais para abrir as fronteiras. A Human Rights Watch afirmou que as autoridades jordanianas e israelenses devem oferecer asilo e proteção aos sírios fugindo do conflito. O Conselho Norueguês de Refugiados afirmou que, junto com outras entidades, está pronto para receber novas chegadas. O campo de Azraq, o segundo maior da Jordânia para refugiados sírios, tem mais de 53 mil pessoas registradas. É possível expandi-lo para receber outros 80 mil refugiados.

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