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Execução

Japão executa guru responsável pelo ataque no metrô de Tóquio de 1995

Shoko Asahara, guru da seita Aum responsável pelo ataque com gás sarin que deixou 13 mortos no metrô de Tóquio, em 1995, foi executado nesta sexta-feira (5). Além dele, outros seis dirigentes do grupo implicados no massacre tiveram a pena de morte cumprida.

Shoko Asahara, guru da seita Aum, em imagem de 1990.
Shoko Asahara, guru da seita Aum, em imagem de 1990. AFP
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Com informações do correspondente da RFI em Tóquio, Frédéric Charles

Asahara e os outros seis executados foram condenados à morte por enforcamento. Outras cinco pessoas que faziam parte da seita devem ter o mesmo destino em breve.

Na manhã de 20 de março de 1995, no horário de pico, alguns integrantes do grupo espalharam gás sarin no metrô de Tóquio, um atentado que matou 13 pessoas e deixou 6.300 intoxicados. Desde então, Asahara se tornou o inimigo público número 1 do Japão.

O crime é considerado o mais monstruoso da história do país. Nos tribunais, a maratona para julgar e condenar os membros da Aum durou mais de 20 anos. Asahara sempre se negou a falar, enquanto os outros integrantes do grupo rejeitaram o caráter terrorista da seita.

Embora o guru e parte do grupo tenha sido executado, a Aum continua a existir e a atuar, ainda que tenha mudado de nome em 2000 e expulsado Asahara. 

Mistério continua até hoje

Até hoje, os motivos que levaram o grupo a perpetrar o ataque continuam sendo um mistério. A seita também é responsável por um primeiro atentado com gás sarin, em 1994, contra pessoas que consideravam inimigas, na prefeitura da cidade de Nagano, deixando sete mortos. No total, Asahara foi acusado pela morte de 27 pessoas.

Os japoneses também nunca conseguiram compreender como parte de sua juventude, a maioria vinda das melhores universidades do país, se deixou seduzir pela seita e pelo guru quase cego, cujo principal sonho era de destruir o Estado japonês.

Carisma e misticismo

Shoko Asahara ou Chizuo Matsumoto - seu nome verdadeiro - é até hoje considerado um verdadeiro "iluminado" para alguns e um temível manipulador de massas com sede de poder para outros. De cabelo comprido e barba, Asahara conseguiu atrair, com uma mistura de carisma e misticismo, quase 10 mil fiéis, incluindo engenheiros e médicos que produziram agentes químicos para a seita.

Nascido em 2 de março de 1955, filho de um fabricante pobre de tatame na ilha de Kyushu, no sudoeste do Japão, em uma família de nove filhos, Asahara sofria de uma cegueira quase total, vítima de um glaucoma congênito. Frequentou a partir dos seis anos uma escola para deficientes visuais.

De acordo com testemunhas, desde cedo ele era movido pela ambição e tinha uma sede de poder muito forte, assim como uma tendência para dominar e manipular, características que marcaram os 13 anos que passou no centro de ensino.

Asahara deixou a escola aos 19 anos com um diploma de acupunturista. Prestou o exame para a prestigiosa Universidade de Tóquio, mas não foi aprovado. Após uma tentativa de se tornar médico, tentou entrar para a política. Em 1978 casou com Tomoko, com quem teve quatro filhas e dois filhos.

Antes de casar, abriu uma clínica de acupuntura na periferia de Tóquio e ganhou muito dinheiro vendendo plantas medicinais. Mas a comercialização do que era apresentado como um "produto milagroso" rendeu seus primeiros problemas com a polícia em 1982 e o fechamento de sua clínica.

Em 1984, fundou uma primeira seita religiosa em Tóquio, mas o culto só mudou de nome, para "Aum Verdade Suprema", em 1987. Desde então, o "profeta", adorador de Shiva, deus da destruição na mitologia hindu, não hesitava em apresentar-se como Cristo ou Buda reencarnados.

"Asahara era bom na lavagem cerebral", afirma Kimiaki Nishida, professor de Psicologia Social na Universidade japonesa Rissho de Tio. Segundo ele, o guru "mostrou habilmente seu carisma e seduziu os jovens que sentiam uma forma de vida distinta na sociedade japonesa em um período de grande consumo".

Rigidez e luxo

Corpulento, o "mestre espiritual" vestia uma túnica diante de seus fiéis que, exceto aqueles mais importantes, não podiam olhar para o rosto do "sábio", por deferência. Seus devotos discípulos, submetidos a uma dura disciplina, eram obrigados a usar uma espécie de capacete especial com eletrodos que, supostamente, difundiam as ondas cerebrais do "mestre".

Mas seu discurso não o impediu de preferir a riqueza à rigidez. Amante dos carros de luxo e das mulheres, não hesitava em viajar de primeira classe e teria tido filhos fora do casamento.

Em fevereiro de 1990, participou sem sucesso das eleições legislativas japonesas. Um fracasso que o levou a uma "descida ao inferno", para a qual arrastou os discípulos da seita.

Prevendo o apocalipse, afirmou que "matar pode ser útil às vezes". De modo paralelo, admitia sentir admiração pelo sarin, o gás de combate inventado pelos nazistas, como demonstram artigos publicados em suas revistas.

A seita, que adotou o nome Aleph em 2000, o expulsou oficialmente, mas analistas consideram que sua influência continua importante. Preso em 16 de maio de 1995, a pena capital só foi confirmada em 2006 e, desde então, aguardava pela execução no corredor da morte.

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