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Linha Direta

Eleições na Turquia: quem são os cinco candidatos que vão enfrentar Erdogan?

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A dois dias da eleição mais importante da história moderna da Turquia, observadores internacionais ainda questionam a liberdade no país e os turcos vivem a incerteza de como retomar a credibilidade externa e a estabilidade interna. Para enfrentar Erdogan, cinco candidatos contam com o apoio das redes sociais para ganhar visibilidade num país onde a imprensa é severamente controlada pelo Estado.

O presidente Recep Erdogan disputa novo mandato com poderes reforçados pela revisão constitucional de 2017.
O presidente Recep Erdogan disputa novo mandato com poderes reforçados pela revisão constitucional de 2017. REUTERS/Umit Bektas
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Fernanda Castelhani, correspondente da RFI em Istambul

O presidente turco Recep Tayyip Erdogan, no poder desde 2014, já cumpriu três mandatos consecutivos como primeiro-ministro e ainda é o favorito para o pleito de domingo (24). Para garantir sua vitória, as autoridades usaram o estado de emergência, em vigor há quase dois anos, para fechar canais de televisão, controlar grande parte da imprensa e prender artistas, professores e opositores.

Mas Erdogan, mesmo com vantagem, deverá enfrentar uma oposição viva, mais unida e fervorosa pela primeira vez em mais de uma década. Ao todo, são seis candidatos à presidência, sendo que três partidos formaram uma aliança para apoiar a reeleição de Erdogan. Já os outros quatro da oposição, apesar de competirem individualmente pela presidência, formaram uma aliança para concorrer às vagas do parlamento. Somente o partido que apoia os curdos está sozinho na disputa.

Muharrem Ince, o principal candidato da oposição, é líder do Partido Republicano do Povo (CHP) e integra uma ideologia laica. Ex-professor de física, Ince é conhecido por sua forte retórica nos debates com Erdogan. Meral Aksender, chamada de “dama de ferro” turca, é uma professora de história de 62 anos que foi ministra do Interior de 1996 a 1997. Atualmente é chefe do partido nacionalista laico Iyi Parti (“Bom partido”, em turco), criado há apenas oito meses.

Selahattin Demirtas, do Partido Pró-Curdos (HDP), é talvez o candidato mais controverso, já que ele se encontra em prisão preventiva desde novembro de 2016, acusado de “atividades terroristas”. Dermitas faz campanha nas redes sociais com ajuda de seus advogados e denuncia o que chama de “encarceramento político”. Apesar de ter tido permissão para se candidatar, Dermitas não atuou diretamente na campanha de seu partido.

Por fim, restam duas outras alternativas ao povo turco. Temel Karamollaoglu, do Partido Saadet (“Partido da Felicidade”), que tem uma ideologia próxima à de Erdogan, inspirada do Islã político encarnado pelo ex-chefe de governo Necmettin Erbakan, morto em 2011. E Dogu Perincek, dirigente do Partido Vatan, da esquerda patriota. Doutor em direito, Perincek foi preso repetidas vezes e se tornou inimigo número um de Erdogan após suspeitas de ter favorizado a tentativa de golpe militar na Turquia.

Repressão é tão forte quanto a oposição

Entretanto, é flagrante a disparidade entre as campanhas dos candidatos. Na televisão, o tempo de exposição do atual presidente em canais privados, como a CNN local, no mês passado, por exemplo, foi três vezes maior que o do candidato do principal partido de oposição, Muharrem Ince (CHP).

Além disso, um relatório prévio da OSCE, a organização da União Europeia que fiscaliza as eleições pelo mundo, cita preocupação no processo democrático incluindo restrições na liberdade de associação e de expressão, como na prisão de Selahattin Dermitas.

Oito organizações internacionais vão monitorar a votação e a contagem dos votos no domingo. A oposição também está bem alerta e, nessa corrida, apesar de desigual, os rivais do atual governo contam com a grande probabilidade de um segundo turno e recorreram às novas mídias para conseguir espaço.

Mudanças de última hora

Para essas eleições, houve uma mudança no sistema de governo, que passará de parlamentarista para presidencialista, por vontade do próprio Erdogan. Emendas foram feitas na Constituição para dar ao futuro presidente mais poderes, acabar com o cargo de primeiro-ministro e reduzir o papel do parlamento. A eleição, originalmente marcada para novembro de 2019, também foi antecipada em mais de um ano.

Um número recorde de turcos que vivem fora do país compareceu às urnas de 7 a 19 de junho, de acordo com o Conselho Superior Eleitoral da Turquia (YSK). A votação internacional foi realizada em 51 países e, conforme os dados oficiais, alcançou 48,78%. O número representa quase a metade dos 3 milhões de cidadãos turcos morando no exterior. As cédulas de votação serão mantidas na capital Ancara até o fim da eleição feita em território turco, no próximo domingo, e todas serão contabilizadas na mesma noite.

Curdos e refugiados continuam a ser tema decisivo para as eleições na Turquia  

Economia, refugiados, curdos e União Europeia: esses são os temas mais sensíveis das eleições na Turquia. A economia turca está passando por um período difícil. A falta de independência do Banco Central, por ordem do atual presidente, e a decisão tardia de elevar as taxas de juros para manter o dinheiro em circulação e garantir o crescimento interno, tem criado problemas sérios – o dólar fecha a semana negociado acima de 4,70 liras turcas.

No que se refere aos sírios, a Turquia é o país que recebe a maior população de refugiados no mundo. Dos 5 milhões que deixaram a Síria nos últimos sete anos, 4 milhões estão na nação turca. Enquanto Tayyip Erdogan foca sua retórica no objetivo de derrubar o ditador Bachar el-Assad, a candidata da oposição, Meral Aksener, fala em mandar de volta os refugiados para usar o dinheiro em prol do desenvolvimento interno.

Já os curdos, um quinto da população do país, são questão determinante para todos os candidatos. Alguns prometem diálogo e até a volta da língua curda em escolas públicas, enquanto o atual presidente se limita a abordar o combate ao terror do grupo armado curdo, o PKK.

Sobre a União Europeia, a relação já estagnada não deve mudar a não ser que haja sinais de progressos no que se refere à liberdade e transparência. Todo candidato hoje afirma, por exemplo, que vai encerrar o estado de emergência, mas vai levar muito mais tempo para a Turquia reconstruir a confiança nas instituições.

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