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Japão fica marginalizado após cúpula de Trump e Kim Jong-Un

O Japão ficou marginalizado nas negociações da cúpula de Singapura entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte, que aconteceu na terça-feira (12). O país, diretamente ligado à situação norte-coreana em razão de sua proximidade geográfica, tem dificuldade em se posicionar a respeito dos acordos entre o presidente americano Donald Trump e o líder norte-coreano Kim Jong-Un.

O primeiro-ministro japonês Shinzo Abe e o presidente americano Donald Trump
O primeiro-ministro japonês Shinzo Abe e o presidente americano Donald Trump REUTERS/Joe Skipper
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Com informações do correspondente da RFI em Kyoto, Alexandre Barbe

A reação japonesa quanto ao acordo entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte foi menos entusiasmada que a de outros países. O primeiro-ministro japonês Shinzo Abe afirmou que a cúpula foi um “primeiro passo” importante e elogiu o fato de que Trump abordou a questão dos japoneses sequestrados pela Coreia do Norte entre 1970 e 1980. Mas a falta de uma posição mais rígida por parte do Japão coloca o país em retaguarda em comparação com a China e a Coreia do Sul, por exemplo.

Shinzo Abe comemorou a “coragem” de Trump de se encontrar com Kim Jong-Un mas, logo após o anúncio do cancelamento da primeira tentativa de organizar uma cúpula, o primeiro-ministro se mostrou aliviado. Pouco tempo depois, entretanto, Abe manifestou interesse no sucesso da reunião dos dirigentes que, por fim, aconteceu em Singapura.

“Se Tóquio muda de opinião o tempo todo em função das orientações americanas, perderemos toda credibilidade como protagonistas da estabilização da região”, criticou o jornal japonês Asahi Shimbum, pouco antes da cúpula. Além disso, existe a delicada questão das “mulheres do reconforto” – as coreanas que foram obrigadas a se prostituir para o exército imperial japonês –, que causa recorrente de conflito entre as duas nações.

O armamento nuclear da Coreia do Norte é outro assunto prioritário para as autoridades japonesas. Kim Jong-Un anunciou que desativaria uma base de mísseis de longa distância apontados para os Estados Unidos, mas nem chegou a mencionar as armas que visam o Japão. Tóquio, sob a ameaça dos mísseis norte-coreanos, depende dos Estados Unidos para sua defesa – a anulação dos exercícios militares americanos na região parece, portanto, ter irritado as autoridades japonesas.

Para o presidente do centro de pesquisa Asia Pacific Initiative, o Japão corre dois riscos: o diplomático e o da segurança. Marginalizado nas negociações, o país será um alvo certo para a Coreia do Norte em caso de aumento da tensão na região.

Japoneses permanecem desconfiados

A RFI conversou com moradores da cidade de Kyoto, no Japão, para saber o que eles pensavam sobre a o acordo assinado entre Trump e Kim Jong-Un. Takuya Kubo reconhece que o encontro é um marco histórico, mas lembra que “a Coreia do Norte traiu o Japão até hoje, então não sei se ela vai respeitar suas promessas”. Já Satoshi Shikata se diz aliviado que a questão nuclear tenha sido abordada. “No plano geopolítico, a situação está calma e o risco foi reduzido, se compararmos com o ano passado. Mas ainda é cedo para comemorar”, afirma.

Hiroko Honjo estima que a menção ao sequestro de japoneses pela Coreia do Norte foi extremamente importante. “Quando eu vi na televisão que o assunto estava sendo discutido, disse para mim mesmo: ‘Até que enfim! É algo histórico!’. Mas ainda é preciso que as discussões continuem e que encontremos uma solução o mais rápido possível”, declara. As famílias das vítimas aguardam há quarenta anos o retorno de seus parentes.

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