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“Trump fez a coisa certa. De que lado os europeus querem estar?”, diz general israelense

Para o general da reserva Yossi Kuperwasser, ex-chefe de pesquisa da divisão de inteligência militar do exército israelense e ex-diretor-geral do ministério de Assuntos Estratégicos, foi acertada a decisão do presidente americano, Donald Trump, de abandonar o Plano de Ação Conjunta Global (JCPOA, na siga em inglês), o acordo internacional de 2015 entre seis potências ocidentais e o Irã. Kuperwasser, que atualmente diretor do Centro Jerusalém de Assuntos Públicos (JCPA), não entende como os europeus não seguem a decisão de Trump diante de todas as provas de que os iranianos não deixaram para trás suas ambições nucleares e estão numa corrida armamentista na Síria para ameaçar Israel e se estabelecer como potência hegemônica regional.

O general da reserva de Israel, Yossi Kuperwasser, defendeu a decisão de Trump de retirar os Estados Unidos do acordo nuclear com o Irã.
O general da reserva de Israel, Yossi Kuperwasser, defendeu a decisão de Trump de retirar os Estados Unidos do acordo nuclear com o Irã. Foto: Media Central
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Daniela Kresch, correspondente da RFI em Tel Aviv,

O que o senhor pensa da decisão de Trump de se retirar do acordo?
Trump fez o certo porque o acordo era muito perigoso. Os iranianos querem mudar o Oriente Médio e transformá-lo em uma região sob sua hegemonia e há elementos radicais que querem também mudar a ordem internacional. Permitir isso através do acordo está errado. Sabemos a que esse acordo vai levar: a um arsenal nuclear nas mãos de pessoas radicais e perigosas. Talvez não hoje, mas daqui a 15 anos. Acho que Trump deu o passo certo para impedir isso, o que pode ser feito através de sanções e uma clara determinação de impedir que o Irã tenha a capacidade de produzir uma arma nuclear.

A medida de Trump muda alguma coisa?
Sim. Estamos agora em uma nova situação. Trump concluiu que o Irã não é força positiva na região e sim, negativa. Outras medidas devem ser tomadas para forçar o Irã a desistir de suas aspirações nucleares e outras atividades problemáticas que ele realiza no Oriente Médio. O JCPOA estava fazendo exatamente o oposto. Estava dando ao Irã um horizonte para obter um arsenal nuclear, permitindo que ele cruze esse limiar daqui a pouco mais de uma década, quando eles teriam capacidade para isso.

Que outras atividades o Irã está realizando na região?
Há uma grande e perigosa batalha sendo travada sobre a presença do Irã na Síria e a construção de uma infraestrutura que permita ao país atacar diretamente Israel. O Irã tenta há tempos prejudicar e atacar Israel através de “proxies”. Mas agora eles querem fazer isso sozinhos, da Síria. Já tentaram algumas vezes e Israel conseguiu impedir com ações abertas e encobertas. Uma delas foi ontem à noite. Israel conseguiu frustrar uma tentativa dos iranianos de realizar um ataque contra o país.

Como Teerã vai reagir à decisão de Trump?
Apesar de estarem muito aborrecidos e frustrados, suas opções são muito limitadas. Eles podem reiniciar o projeto nuclear e continuar desafiando Israel na fronteira com a Síria, mas isso seria muito perigoso para eles. A melhor maneira de lidar com essa frustração será eventualmente a prontidão para reconsiderar suas políticas e ações. Eles não estão acostumados a uma política externa americana forte. Não era assim com o ex-presidente (Barack) Obama. Mas terão que se adaptar a essa nova situação. Haverá muito debate dentro do Irã sobre qual é a melhor maneira de reagir e os mais radicais exigirão uma reação violenta imediata. Mas acredito que as abordagens mais sofisticadas e mais realistas serão mais proeminentes na liderança iraniana.

Não há o perigo de uma guerra?
Ninguém quer guerra, mas é claro que há um risco de escalada. No final das contas, no entanto, acho que os iranianos vão admitir que não são tão fortes militarmente quanto gostam de parecer.

Por que líderes europeus criticaram a decisão de Trump de abandonar o acordo com o Irã?
Isso está além do meu entendimento. Eles preferem estar do lado do Irã do que dos Estados Unidos? Algo está errado aqui. Você ouve a (Federica) Mogherini (chefe da diplomacia europeia) e todos os outros e coça a cabeça... De que lado vocês querem estar? Que mais provas precisam de que este acordo é um desastre?

Há provas concretas de que o Irã não está cumprindo com o acordo?
Sim. Não há monitoramento do acordo, só nos sítios declarados. E os iranianos não farão algo errado nos locais visitados, não são burros. Mas, como o primeiro-ministro (Benjamin) Netanyahu mostrou, na semana passada, os iranianos guardam os esboços e plantas de suas armas nucleares em locais secretos. Se não fosse o Mossad (o serviço secreto israelense), ninguém saberia. Certamente, os iranianos estão certos de que construirão armas nucleares assim que o acordo chegar ao fim e terão a capacidade de fazê-lo porque terão centrífugas avançadas. Pelo acordo, eles podem ter 90% de urânio enriquecido a grau militar em qualquer quantidade até o 15º ano do acordo. Eles também serão capazes de construir reatores de água pesada baseados em plutônio.

Qual é a posição da Rússia nessa realidade? Afinal, os russos são aliados tanto de Israel quanto do Irã...
É uma incógnita. Acho que Netanyahu deve tentar engajá-los e é por isso que ele está em Moscou agora. Os russos, por um lado, querem desafiar os EUA, mas eles também estão preocupados com o potencial nuclear do Irã e não querem que os iranianos prejudiquem seus interesses na Síria. Netanyahu deve certamente pedir que o presidente russo, Vladimir Putin, passe uma mensagem aos iranianos para não agirem contra Israel na Síria.

Trump está agindo em coordenação com Netanyahu?
Acho que, enquanto suas políticas se alinharem, elas vão trabalhar juntos. Ao contrário da situação com Obama, na qual os dois líderes tinham visões de mundo totalmente diferentes, mesmo com interesses semelhantes, aqui temos um presidente americano e um primeiro-ministro israelense que têm uma visão de mundo muito semelhante. Eles acham que, em vez de fortalecer muçulmanos radicais realistas como os da Irmandade Muçulmana, no Egito, e o presidente Hassan Rohani, do Irã, é preciso fortalecer os líderes árabes mais pragmáticos, como os da Arábia Saudita.

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