Encontro entre os imprevisíveis Trump e Kim merece prudência
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Sir Winston Churchill, velho guerreiro, dizia que era melhor “mais queixo-queixo e menos guerra-guerra”. Há menos de um ano atrás, Donald Trump e Kim Jong-un trocavam insultos pessoais e o mundo inteiro pensava que estávamos à beira de um conflito nuclear.
Hoje, Washington e Pyongyang estão preparando uma cúpula entre os dois dirigentes e aplaudindo o encontro entre os líderes das duas Coreias para abrir caminho a um tratado de paz que ponha fim ao frágil armistício em vigor desde 1953.
A reviravolta é espetacular e inédita. Mas por enquanto, os únicos verdadeiramente entusiasmados – talvez por dever de ofício – são o gorducho norte-coreano, o lourão da Casa Branca e o novo presidente, mais pacifista, da Coreia do Sul.
É que Churchill também sabia que em matéria geopolítica, uma negociação também é uma partida de xadrez em que cada um quer vencer. E quando aparece o xeque-mate, há sempre a possibilidade de virar a mesa e apelar para o confronto físico.
Foco na economia
Prudência portanto, sobretudo com dois interlocutores tão imprevisíveis como Trump e Kim. O número um norte-coreano decidiu abrir a partida com um lance espetaculoso, anunciando a suspensão dos testes de ogivas nucleares e de mísseis intercontinentais que ameaçam os Estados Unidos. E acrescentando que agora, o objetivo era modernizar a “economia socialista” do país.
Os analistas mais otimistas acreditam que finalmente, o regime de Pyongyang está disposto a trocar o próprio desarmamento nuclear por um acordo de paz, garantias de segurança e o fim das pesadas sanções econômicas internacionais que estão estrangulando a já arruinada economia do país.
Só que não é bem assim. Os testes de bombas e mísseis nucleares não são mais indispensáveis: Kim Jong-un declarou que já possui armas e vetores atômicos suficientes para garantir uma devastadora capacidade de retaliação – e portanto a sobrevida do regime.
Mandar destruir um centro de testes não é aceitar um desarmamento nuclear. Na verdade, com esse lance, Kim está simplesmente se apresentando como uma potência atômica militar de pleno direito, com capacidade de ameaçar vizinhos, e até cidades americanas. E reivindicando ser reconhecida como tal.
Japão e China
O Japão, cujo território está diretamente ameaçado pelos mísseis norte-coreanos de curto e médio alcance, foi o primeiro a mostrar abertamente o seu ceticismo. Se não houver verificações internacionais intrusivas, nada pode garantir que Pyongyang vai aceitar um desarmamento nuclear e não vai continuar modernizando o seu arsenal atômico, mesmo sem testes oficiais.
Tóquio também não está a fim de pagar o pato de um futuro acordo entre os Estados Unidos e a Coréia do Norte que proibiria só os mísseis intercontinentais, condenando o arquipélago nipônico à ameaça permanente dos foguetes de médio alcance.
A China, o único grande aliado e fiador do regime norte-coreano, também não está achando muita graça. Claro, Pequim está preocupado com a possibilidade de um conflito na península coreana com os americanos em primeira linha.
Quando Trump bateu na mesa, ameaçou e decretou sanções contra a Coreia do Norte, a China ajudou – um pouco – a bloquear a economia do vizinho e pressionou para que haja negociações. Só que uma Coreia do Norte nuclear, e em caso de acordo, recebendo vantagens econômicas da Coreia do Sul e dos Estados Unidos, seria um país muito mais independente de Pequim.
Sobretudo que Kim Jong-un não fala mais na retirada das tropas americanas da região. As duas Coreias pacificadas e abertas, garantidas por uma presença militar americana permanente é um pesadelo para as ambições de hegemonia regional de Xi Jinping.
Claro, o mais provável ainda é que tudo vai dar errado. Mas Trump precisa de um sucesso diplomático para ganhar as eleições legislativas de 2018, Kim quer sair do laço corrediço das sanções e o presidente sul-coreano viraria herói nacional. Mas Churchill já dizia: “os partidários do apaziguamento dão de comer a um crocodilo esperando ser os últimos a serem comidos”.
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