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Síria

Le Figaro explica os interesses por trás do martírio dos sírios de Guta Oriental

Esta zona rebelde é o último espinho no pé do presidente sírio, Bashar Al-Assad. A ofensiva militar para reconquistá-la, que já custou a vida a mais de 350 civis em quatro dias, esconde uma disputa maior entre países da região.

Mohammed Abu Anas corre com um garoto ferido após bombardeio em Guta Oriental.
Mohammed Abu Anas corre com um garoto ferido após bombardeio em Guta Oriental. ©REUTERS/Bassam Khabieh
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No auge da revolta contra o regime, os rebeldes controlavam 15.000 quilômetros dessa imensa zona agrícola, a leste de Damasco. Atualmente, os anti-Assad controlam apenas 110 quilômetros quadrados. "Como em outras regiões do país, são radicais islâmicos que dominam a cena. Mas eles estão divididos.

Algumas facções, como o Exército do Islã, formado por fundamentalistas próximos da Arábia Saudita, negociam com o regime, com mediação da Rússia. Outros, como o grupo Faylaq Al-Rahman, ligados à Irmandade Muçulmana e ao Catar, 'flertam' com o braço local da Al Qaeda e rejeitam qualquer negociação com Damasco", esclarece nesta quinta-feira (22) o jornal Le Figaro.

"Há três semanas, os mais radicais lançam dezenas de foguetes em bairros da capital, provocando mortes. Bashar responde com bombardeios incessantes sobre Guta. O regime alega que os civis são usados como escudos humanos. No comando das operações, está o general Suhail Al-Hassan, de codinome 'O Tigre', disposto a dar uma lição aos habitantes de Guta", relata Le Figaro.

Por trás dos bombardeios diários, Rússia e Egito patrocinam negociações. De acordo com uma fonte ouvida pelo jornal francês, uma das soluções em estudo seria resgatar um acordo para a evacuação dos rebeldes jihadistas de Guta. "Mas por pressão do Catar, os 150 rebeldes do grupo Faylaq Al-Rahman e suas famílias, cerca de 900 pessoas, preferiram continuar com os combates", conta um diplomata da ONU à reportagem. A pressão de Damasco visa provocar a redenção dos jihadistas. Mesmo se o preço a pagar implica cenas cruéis e a morte de centenas de civis.

Outras fontes, segundo Le Figaro, citam negociações para um acordo mais amplo. O regime ficaria com Guta e, em troca, Moscou deixaria seu aliado turco conquistar Afrin. Enquanto um acerto não é encontrado, tanques e artilharia pesada permanecem ao redor de Guta Oriental, aguardando o sinal para uma operação terrestre, diz Le Figaro.

Impotência do Ocidente é latente

A incapacidade do Ocidente de negociar o fim dos massacres contra civis e da guerra na Síria como um todo é tema do editorial do jornal. O diário, que reúne um time de jornalistas experientes na análise dos conflitos internacionais, afirma que "Bashar prossegue de maneira implacável rumo à reconquista de todo o território sírio, deixando para trás um mar de sangue e de ruínas".

"Primeiro foi Aleppo. Hoje, é em Guta Oriental e Afrin que Bashar traça seu caminho, com o apoio das forças russas e iranianas. Os países ocidentais exprimem sua revolta com a brutalidade extrema do regime - a França evoca um cataclismo humanitário na Síria -, mas atrás dessas condenações se esconde a mesma falta de vontade de se opor ao campo pró-regime. Com as mãos livres, Moscou e Teerã avançam", escreve Le Figaro.

Segundo o jornal de tendência conservadora, o governo francês sabe que o pior ainda está por vir na Síria. "À rivalidade desenfreada entre atores políticos locais, entre minorias, entre sunitas e xiitas, se agregou um um outro fator de degeneração: os enfrentamentos diretos entre grandes potências", observa o editorial.

Citando a recente incursão iraniana no céu israelense, que levou o primeiro-ministro de Israel a reagir aos avanços do país xiita, e a ofensiva da Turquia contra os curdos de Afrin, Le Figaro destaca que o Oriente Médio ficou ainda mais explosivo. "A Turquia já ameaça Damasco de graves consequências, por enviar milícias xiitas pró-regime para defender os curdos de Afrin", exemplifica o diário. Para Le Figaro, nesse quebra-cabeças, a Rússia é quem manda no jogo e só o Kremlin pode impor aos demais atores sua vontade.

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