Apenas demissão de ministro põe fim à crise religiosa no Paquistão
Sete mortos e mais de 200 feridos em três semanas: este é o resultado da onda de protestos que tomou as ruas do Paquistão. Na origem das manifestações, uma emenda constitucional que modificava o juramento de candidatos às eleições.
Publicado em:
Os manifestantes islâmicos, que ocupam há três semanas o principal acesso à capital do Paquistão, Islamabad, começam a se dispersar nesta segunda-feira (27) após terem obtido êxito em sua principal exigência: a demissão do ministro da Justiça paquistanês.
A demissão é resultado de um acordo negociado durante a noite com a ajuda do poderoso exército paquistanês, e, na opinião dos analistas internacionais, representa uma verdadeira capitulação para o governo do Paquistão. Visivelmente envergonhado, o Estado paquistanês ainda não havia reagido oficialmente nesta segunda-feira.
O fim da manifestação, anunciada nesta manhã pelo líder do movimento islâmico, Khadim Hussain Rizvi, começou no período da tarde de segunda-feira, permitindo que a vida retomasse lentamente seu curso na periferia de Islamabad, ocupada durante três semanas por cerca de 2.000 manifestantes.
Os primeiros grupos de manifestantes começaram a se dirigir às estações de ônibus. As lojas próximas reabriam gradualmente e motocicletas ziguezagueavam na multidão.
Paz com garantias do Exército do Paquistão
"Todas as nossas reivindicações serão honradas", proclamou o mulá [líder religioso paquistanês] com a longa barba cinza, assegurando que obteve "garantias" do exército paquistanês.
A demissão do ministro Zahid Hamid era o principal requisito dos manifestantes, membros de um grupo religioso pouco conhecido, o Tehreek-i-Labaik Yah Rasool Allah Pakistan (TLYRAP).
Hamid apresentou sua demissão ao primeiro-ministro Shahid Khaqan Abbasi para tirar o país da crise, segundo informou a agência de notícias APP, citando fontes oficiais.
Causa do conflito
Na origem das manifestações que causaram sete mortos e mais de 200 feridos, uma emenda constitucional que modificava o juramento dos candidatos paquistaneses às eleições, que sempre reconheceram que Maomé é o “último profeta”.
Os fundamentalistas denunciavam uma manobra para modificar a polêmica lei sobre a blasfêmia, permitindo que os Ahmadis, membros de uma seita muçulmana não reconhecida oficialmente, também prestassem juramento.
Perseguidos durante muito tempo, os Ahmadis acreditam que Maomé não seria, como diz a lei islâmica, o “último dos profetas”.
NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.
Me registro