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Linha Direta

Assessores de campanha de Trump são indiciados por conspiração contra EUA

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O ex-chefe de campanha de Donald Trump e outros dois assessores foram indiciados por conspiração contra os Estados Unidos no âmbito das investigações sobre a interferência da Rússia na corrida presidencial de 2016.

Em uma audiência judicial, os dois assessores de campanha de Trump foram indiciados por conspiração contra os Estados Unidos. 30/10/17
Em uma audiência judicial, os dois assessores de campanha de Trump foram indiciados por conspiração contra os Estados Unidos. 30/10/17 REUTERS/Bill Hennessey
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Ligia Hougland, correspondente da RFI em Washington

A acusação formal contra Paul Manafort, gerente da campanha de Donald Trump, e seu assessor, Rick Gates, era para ter sido mantida em sigilo até a manhã de segunda-feira (30). Mas Washington é também a capital do vazamento e, durante todo o fim de semana passado, a notícia foi divulgada e esperada com enorme antecipação. Os defensores de Trump diziam não estar preocupados, pois acreditavam que o promotor especial não tinha nada contra o presidente republicano. Já o grupo da resistência ao governo se vangloriava do que acreditava ser o fim da presidência de Trump.

Manafort e Gates foram acusados de 12 crimes, mas nenhum deles têm ligação com a campanha de Trump. Eles se dizem inocentes. As acusações estão relacionadas a atividades como agentes de governo estrangeiro entre os anos de 2006 e 2014 e envolvem principalmente crimes de lavagem de dinheiro, evasão fiscal e infração à Lei de Registro de Agentes Estrangeiros (FARA, sigla em inglês). A FARA determina que lobistas para governos estrangeiros se registrem e divulguem suas atividades.

As atividades de lobby desempenhadas por Manafort e Gates foram pagas pelo Centro Europeu por uma Ucrânia Moderna, uma entidade hoje extinta que tinha sede em Bruxelas e promovia o governo pró-Rússia na Ucrânia. A acusação que soa mais grave é a de "Conspiração contra os Estados Unidos". Nesse caso, apenas implica que Manafort e Gates conspirarão contra os departamentos de Justiça e Tesouro devido a lavagem de dinheiro e falha em se registrarem como agentes de governos estrangeiros.

As acusações formais apresentadas por Mueller de certa maneira confirmaram a parcialidade tantos dos Trumpistas como dos viúvos da sonhada presidência de Hillary. Mas no mundo do partidarismo fatos podem ser moldados e os dois grupos ainda continuam a viver sua fantasia intensamente nas redes sociais.

Campanha não está comprometida com a Rússia, afirma Trump

Assim que os detalhes do processo foram divulgados, Trump tuitou que isso provava que sua campanha não estava comprometida com a Rússia. O presidente americano também aproveitou para dizer que sua rival Hillary e o Comitê Nacional do Partido Democrata (DNC, sigla em inglês) é que deviam ser o foco da investigação do promotor especial.

A Casa Branca realizou uma coletiva de imprensa para tentar se distanciar dos acusados e lembrar que Manafort só tinha trabalhado por poucos meses na campanha e que, logo que ficou sabendo do trabalho dele para o movimento pró-Rússia na Ucrânia, o candidato republicano pediu o afastamento do gerente. No entanto, pode-se concluir que Trump, no mínimo, é negligente e/ou incompetente nas contratações.

É um bom sinal para Trump que, depois de meses de investigação, Mueller ainda não tenha conseguido reunir provas definitivas do comprometimento de sua campanha com a Rússia. Por outro lado, Mueller está se mostrando agressivo e disposto a intimidar Manafort e Gates para conseguir informações e provas. Há poucos meses, agentes federais chegaram a invadir a residência de Manafort para obter documentos para a investigação, uma medida desnecessária já que havia cooperação do investigado.

Apenas seis casos na justiça americana

Outro indício de que o promotor especial está seguindo uma linha dura é que, nos últimos 50 anos, ocorreram apenas seis casos de processo na justiça americana contra quem não se registrou como agente de governo estrangeiro. Além disso, segundo as estatísticas, o estado ganha 93% dos casos julgados na justiça federal dos Estados Unidos. Isso significa que as probabilidades não estão a favor de Manafort e de Gates e, certamente, Mueller está contando com isso para conseguir possíveis informações incriminadoras contra a campanha de Trump.

Outro personagem que pode incomodar Trump é George Papadopoulos, consultor de política externa da campanha que foi preso em julho e assumiu culpa por ter mentido ao FBI sobre suas comunicações com um professor residente do Reino Unido que prometeu conseguir uma aproximação com o governo russo, além de dizer que poderia compartilhar e-mails de Hillary com a campanha de Trump.

Ao que se sabe, a campanha não mostrou interesse nas ofertas de reuniões com o governo russo, nem essas reuniões seriam necessariamente ilegais. No entanto, agora que Papadopoulos está nas mãos de Mueller, ele deve dar todas informações que tiver sobre qualquer ligação entre Trump e Vladimir Putin. Os democratas provavelmente também estão sendo investigados por Mueller e podem, de fato, acabar como réus dessa investigação que assumiu um amplo escopo.

Para promover junto ao governo americano a imagem do Kremlin em relação à Ucrânia Manafort usava os serviços de Tony Podesta, irmão de John Podesta, que foi chefe da campanha de Hillary. No início desta semana, Tony se afastou da empresa Podesta Group que fundou com o irmão.

Além disso, o dossiê com alegações de envolvimento de Trump com pessoas e entidades russas foi obtido pela Fusion GPS, uma firma de inteligência estratégica que tem na sua lista de clientes agentes russos que atuam na capital americana e a empresa Derwick Associates, da Venezuela, que já conduziu negócios com estatais russas sob sanções dos Estados Unidos por causa do seu envolvimento na Ucrânia. Em 2016, a Fusion GPS foi contratada pelo escritório de advocacia que representava a campanha de Hillary.

A firma recebeu cerca de 6 milhões de dólares da campanha para obter informações comprometedoras contra Trump, o que deu origem ao dossiê preparado por Christopher Steele, ex-agente secreto britânico, com fontes dos serviços de inteligência da Rússia. Segundo Steele, as informações do dossiê não foram verificadas.

James Comey, ex-diretor do FBI que foi demitido por Trump e amigo de longa data de Mueller, recebeu o dossiê das mãos do senador republicano e opositor ao presidente, John McCain. A investigação do promotor especial ainda pode revelar muitos crocodilos no pântano de Washington.

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