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Síria

Queda de Raqa não diminui risco de atentados do grupo EI, afirmam especialistas

Raqa, a autoproclamada capital do grupo Estado Islâmico (EI), foi libertada do jugo dos jihadistas nesta terça-feira (17), após uma longa e dura batalha, que começou em 8 de junho, mas o futuro da cidade é uma incógnita. O que é certo, segundo analistas, é que mesmo após a derrota militar, o grupo jihadista continua atuante.

Soldados das Forças Democráticas da Síria celebram a vitória em Raqa,na Síria, em 17 de outubro de 2017.
Soldados das Forças Democráticas da Síria celebram a vitória em Raqa,na Síria, em 17 de outubro de 2017. 路透社。
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Segundo Michel Duclos, ex-embaixador da França na Síria, não se pode falar em derrota definitiva a derrota do EI, pois restam focos do grupo na região. “Isso não quer dizer que o movimento não vá continuar de outra forma”, afirma.

De acordo com Duclos, a liberação de Raqa é mais que a queda de um símbolo; as forças restantes do EI estão atingidas e, “num plano territorial, o grupo esta próximo do fim”, diz ele em relação à perda de estimados 87% do territórios conquistados em 2014 no Iraque e na Siria, segundo a Coalizão Internacional.

“O jogo segue aberto para a Síria, tudo depende de saber se as forças que liberaram Raqa vão continuar a controlar o resto do vale do Eufrates ou se é o regime e seus aliados russos e iranianos que vão se beneficiar do território liberado. Há um risco de divisão, a Síria deve continuar dividida em diferentes zonas de influência”, analisa.

Fim de um período

Romain Caillet, pesquisador do Instituto Francês do Oriente Médio (IFPO, na sigla em francês), especialista em questões relacionadas ao islamismo radical, afirma que “com certeza não é o fim do EI, mas é o fim de um período “estadista”, no sentido do termo “Estado Islâmico”. As estruturas não são mais eficientes em razão dos bombardeios. Pelos próximos anos, o EI vai para a clandestinidade e vai virar um grupo jihadista clássico”.

Ele prevê que o grupo se manterá na Síria em acampamentos, com mudanças regulares, e constantes ataques contra as forças iraquianas e sírias.

Segundo o pesquisador, é difícil saber quantos jihadistas ainda existem nas proximidades de Raqa, pois “houve tantos ataques e eles recrutaram muitos combatentes locais que viraram jihadistas”.

“Em relação aos extremistas franceses que foram capturados no mês passado, poucos vão retornar à França. Alguns vão ser condenados à morte, outros cumprirão longas penas no Iraque e na Siria. Talvez alguns poucos voltem à França”, acredita.

De acordo com sua previsão, há uma pequena parte de jihadistas de nacionalidade francesa que não serão mortos nem capturados e vão ficar no grupo. “Haverá uma parte de franceses mais resistentes, os mais aptos a viverem em condições difíceis; estes vão sobreviver à passagem à clandestinidade. Mas a maioria deve morrer ou ser capturada”, conclui.

Foi em Raqa que foram planejados vários atentados recentes, como o de Paris em 2015. Para o pesquisador, a liberação da cidade, porém, não vai baixar o risco de novos ataques, porque o EI já trabalha na clandestinidade. “Não há verdadeiramente uma mudança com a tomada de Raqa, apesar da importância histórica”, salienta.

Saldo pós-combates

De acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, os combates resultaram em 3.250 mortes, dos quais 1.130 civis, e cerca de 270 mil pessoas que fugiram da cidade e da sua região ainda têm "uma necessidade crítica de ajuda", diz Sonia Khush, diretora da organização Save the Children na Síria, em um comunicado.

Os desafios são enormes. Quase quatro meses de combates, bombardeios e ataques aéreos transformaram esta próspera cidade de 220 mil habitantes, antes da guerra em 2011, em uma pilha de ruínas.

De acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, 80% de Raqa está destruída. Quase nenhum edifício foi poupado. A infra-estrutura foi devastada, não há mais água nem eletricidade.

Reconstrução

A última batalha ocorreu na madrugada de terça-feira (17) no Hospital Nacional, o maior da cidade, onde foram mortos 22 jihadistas estrangeiros, de acordo com fontes curdas das Forças Democráticas da Síria, apoiadas por Washington. A cidade é inabitável no estado atual, e a reabilitação de serviços básicos requer meses de trabalho e recursos financeiros significativos.

Não é o governo de Damasco que irá reconstruir esta cidade que escapou do seu controle. A mídia da Síria próxima da oposição informou, na terça-feira, uma visita do enviado dos EUA à Coalizão internacional, Brett McGurk, à cidade de Aïn Issa, ao norte de Raqa. Ele foi acompanhado pelo ministro saudita para o Golfo, Thamer al-Sabhane. O objetivo da visita foi precisamente discutir a reconstrução da antiga capital autodeclarada do grupo EI.

Esta cidade, cuja maioria esmagadora de habitantes é formada por árabes, foi liberada por milícias curdas. Os árabes dificilmente aceitarão ser administrados pelos curdos. E os últimos, que pagaram um preço considerável pela libertação – quase 500 mortos –, vão querer receber dividendos políticos em troca de seus sacrifícios.

Um "conselho civil", formado por notáveis, líderes tribais e representantes da oposição, sob a égide da Coalizão Internacional, é apontado para gerenciar Raqa. Mas essa estrutura provavelmente será impedida, desde o início, pelas contradições entre os árabes e os curdos.

Com o correspondente em Beirute, Paul Khalifeh

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