Campanha antinuclear ICAN vence o Prêmio Nobel da Paz
A coalizão internacional de Ongs ICAN – Campanha Internacional para Abolir as Armas Nucleares – venceu o Prêmio Nobel da Paz de 2017 por seu trabalho para estimular a proibição das armas atômicas.
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"A organização recebe o prêmio por seu trabalho para chamar a atenção sobre as consequências humanitárias catastróficas do uso de armas nucleares e por seus esforços pioneiros para obter um tratado de proibição destas armas", afirmou a presidente do Comitê Norueguês do Nobel, Berit Reiss-Andersen.
O comitê destacou que as potências nucleares devem iniciar "negociações sérias" de desarmamento. "O Prêmio da Paz deste ano é também um apelo para que estes Estados iniciem negociações sérias destinadas à eliminação gradual, equilibrada e cuidadosamente supervisionada das quase 15.000 armas nucleares que existem no mundo", disse Berit Reiss-Andersen.
Poucos minutos após o anúncio, a ICAN lançou um apelo à comunidade internacional para que se proíba "agora" este armamento. "É um momento de grande tensão global, no qual as declarações exaltadas podem levar todos nós, muito facilmente, inexoravelmente, a um horror inenarrável. O espectro de um conflito nuclear volta a nos cercar. Se há um momento para que as nações declarem sua firme oposição às armas nucleares, esse momento é agora", declarou sua diretora, Beatrice Fihn, em comunicado.
Tensão nuclear na península coreana
Mais de 70 anos depois das bombas atômicas americanas lançadas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, e em um momento de grande tensão a respeito da crise norte-coreana, o comitê do Nobel deseja ressaltar os incansáveis esforços da ICAN para livrar o mundo das armas nucleares.
Fundada em 2007 em Viena, durante uma conferência internacional sobre o tratado de não proliferação nuclear, a ICAN tem sede em Genebra, nos prédios do Conselho Ecumênico das Igrejas, outra organização internacional. Esta coalizão de mais de 300 ONGs conseguiu mobilizar desde então ativistas e personalidades para defender sua causa.
ICAN apoiou iniciativa diplomática brasileira na ONU
A ICAN estimulou a iniciativa que resultou na assinatura de um tratado histórico de proibição das armas nucleares em setembro, à margem da Assembleia Geral da ONU. O presidente Michel Temer foi o primeiro dirigente a assinar o documento, elaborado a partir de um intenso esforço diplomático de Brasil, México, África do Sul, Áustria, Irlanda e Nigéria.
Em julho, o tratado, que demorou mais de um ano para ser negociado, recebeu o apoio de 122 países das Nações Unidas. Seu alcance é sobretudo simbólico pela ausência das nove potências nucleares entre os signatários – Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia, China, Índia, Paquistão, Israel e Coreia do Norte –, mas vai na direção de outras iniciativas pacifistas.
A organização, que tem um orçamento anual de US$ 1,2 milhão, funciona graças às ajudas financeiras de vários governos, como Noruega, Suíça, Holanda, Alemanha ou a Santa Sé, assim como de doadores privados, da União Europeia e várias fundações.
Reações
A chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, elogiou a homenagem. "É bom ver o Prêmio Nobel da Paz 2017 (concedido) à ICAN. Compartilhamos um forte compromisso para conseguir o objetivo de um mundo livre de armas nucleares", tuitou a Alta Representante, depois do anúncio do Comitê Norueguês do Nobel.
A ONU também aprovou a escolha. "Acho que é um bom sinal (...) para que o tratado seja assinado e, sobretudo, se ratifique", declarou a porta-voz da ONU em Genebra, Alessandra Vellucci.
A coalizão receberá o prêmio, que consiste em uma medalha de ouro, um diploma e um cheque de 9 milhões de coroas suecas (US$ 1,1 milhão) durante uma cerimônia em Oslo no dia 10 de dezembro, a data do aniversário da morte em 1896 do criador do prêmio, o filantropo sueco e inventor da dinamite, Alfred Nobel.
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