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Iraque/Curdistão

Curdos do Iraque votam em referendo de independência

Cerca de 5,5 milhões de curdos do Iraque vão às urnas nesta segunda-feira (25) em um referendo de independência que deve abrir caminho para um Estado, uma reivindicação de quase um século.

Os curdos iraquianos votam em referendo de independência nesta segunda-feira (25) no Iraque.
Os curdos iraquianos votam em referendo de independência nesta segunda-feira (25) no Iraque. REUTERS/Ako Rasheed
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A votação acontece até às 18h no horário local na região autônoma do Curdistão, no norte do Iraque, que inclui as províncias de Erbil, Solimaina, Duhok e as zonas que os curdos disputam com o governo central iraquiano. No total, 12.072 centros de votação foram criados. A consulta popular é um desafio para o primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi, que prometeu adotar "as medidas necessárias" para preservar a unidade nacional. Região autônoma desde 1991, o Curdistão iraquiano agora quer se transformar em um Estado.

Os primeiros resultados serão anunciados 24 horas depois da votação, mas existem poucas dúvidas sobre a provável vitória do "sim". Em entrevista à redação francesa da RFI, Olivier Piot, autor do livro “Le Peuple Curde, clef de voute du Moyen Oriente” (O Povo Curdo, elemento indispensável no Oriente Médio, em tradução livre), diz que, para os curdos iraquianos, continuar autônomos significa, de certa forma, arriscar que, em algum momento, essa autonomia seja extinta, por um motivo qualquer. "Isso já aconteceu no passado. Para eles, obter uma independência é uma forma de se situar na história de maneira mais duradoura”, diz.

No Iraque, os curdos foram perseguidos pelo regime de Saddam Hussein, se rebelaram em 1991 após a derrota do exército iraquiano no Kuwait e estabeleceram uma autonomia de fato, que foi legalizada pela Constituição iraquiana de 2005

Preocupados com a possibilidade de que suas minorias curdas tentem seguir o exemplo, países vizinhos como Turquia e Irã também ameaçaram adotar represálias. A pedido do Iraque, o Irã proibiu os voos para o Curdistão iraquiano mas manteve aberta a fronteira terrestre. Do lado turco, o chefe de Estado Recep Tayyip Erdogan anunciou o fechamento de sua fronteira com o norte do Iraque e ameaçou suspender as exportações curdas de petróleo que passam pelo território turco.

No domingo, o presidente curdo, Massud Barzani, garantiu que será inflexível." Chegamos à convicção de que nossa independência permitirá não repetir as tragédias do passado", disse. Já o primeiro-ministro iraquiano rejeitou a separação em um discurso: "Tomar uma decisão unilateral que afeta a unidade do Iraque e sua segurança, assim como a segurança da região, com um referendo de separação vai contra a Constituição e a paz civil", denunciou Haider al-Abadi.

Sem pátria

Divididos entre Iraque, Síria, Irã e Turquia, os curdos nunca aceitaram o tratado de Lausanne de 1923, que os deixou sem um Estado independente. Em sua maioria muçulmanos sunitas, com minorias não-muçulmanas e muitas vezes formações políticas e laicas, seu número total varia, segundo as fontes, de 25 a 35 milhões de pessoas.

A maioria vive na Turquia (12 a 15 milhões, 20% da população do país), seguido do Irã (cerca de 6 milhões, menos de 10%), Iraque (4,69 milhões, entre 15% e 20%) e Síria (mais de dois milhões, 15%). Existem também importantes comunidades curdas no Azerbaijão, Armênia e Líbano, bem como na Europa, principalmente na Alemanha.

Os curdos, originários da Pérsia antiga, estão divididos em vários partidos e facções muitas vezes antagonistas. No Iraque, os dois principais partidos curdos travaram uma guerra que deixou 3.000 mortos entre 1994 e 1998. Finalmente se reconciliaram em 2003.

Na Síria, as forças curdas lideram a aliança das Forças Democráticas Sírias (FDS), que combatem o grupo Estado Islâmico (EI) com o apoio de uma coalizão dirigida pelos Estados Unidos. Esta aliança lançou em novembro de 2016 a batalha para expulsar o grupo extremista de Raqa, sua "capital" de fato no norte do país. No Iraque, os combatentes curdos peshmergas também participam na luta contra os jihadistas.

Na Turquia, o conflito entre o governo e o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) foi retomado em 2015, acabando com as esperanças de uma resolução para esta crise que causou mais de 40 mil mortes desde 1984. No Irã, confrontos esporádicos opõem as forças de segurança aos rebeldes curdos, cujas bases de retaguarda estão no Iraque. Após a revolução islâmica de 1979, ocorreu uma revolta curda que foi duramente reprimida.

Na Síria, os curdos sofreram décadas de marginalização e opressão pelo regime por reivindicar o reconhecimento de seus direitos. Eles adotaram uma posição de "neutralidade" em relação ao poder e à rebelião no início do conflito em 2011, mas aproveitaram o caos gerado pela guerra para instalar uma administração autônoma nas regiões do norte do país, sob seu controle.

Histórico

A queda do Império Otomano, no final da Primeira Guerra Mundial, abriu caminho para a criação de um Estado curdo, previsto pelo tratado de Sevres de 1920, que o situava no leste da península turca de Anatolia e na atual província iraquiana de Mossul. Mas após a vitória de Mustafa Kemal na Turquia, os Aliados modificaram sua decisão e, em 1923, o tratado de Lausanne instaurou o domínio da Turquia e outros países aliados.

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