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Brasil-Mundo

Aumentam pedidos de visto para estudantes brasileiros em Portugal

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Há cada vez mais estudantes brasileiros em Portugal. Os pedidos de visto para estudar no país aumentaram 148% nos primeiros cinco meses de 2017 face ao mesmo período do ano passado, segundo informações do consulado português em São Paulo. E os dados vai além: o número de vistos de residência para estudar por um período superior a um ano aumentou 320%.

ISCTE: uma das instituições procuradas pelos estudantes brasileiros em Lisboa.
ISCTE: uma das instituições procuradas pelos estudantes brasileiros em Lisboa. L. Quaresma
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Luciana Quaresma, correspondente da RFI em Lisboa

O vice-reitor do departamento de Ciências e Tecnologias da Informação do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE), o professor Nuno Guimarães, acredita que a língua e a qualidade das universidades portuguesas estão entre os principais fatores para este fenômeno.

“A língua é um fator determinante. Independentemente disso, as próprias universidades portuguesas em geral, e o ISCTE em particular, têm se tornado cada vez mais visíveis pelo mundo afora. Neste momento, o ISCTE aparece no ranking do Times Higher Education. Aliás, das 13 universidades públicas portuguesas, 8 estão no ranking do Times Higher Education. Portanto, se levarmos em conta a língua, o preço, a qualidade de vida e o selo de qualidade das universidades portuguesas, Portugal deve ser, realmente, um dos melhores lugares do mundo para o estudante.”

Márcio Amaral, membro da comissão executiva do ISCTE, acredita que, entre outros fatores, a grave crise no Brasil tenha impulsionado esta corrida pelos vistos de estudantes.

“Eu vejo três fatores que têm impulsionado essa procura feita pelo estudante brasileiro. Em primeiro lugar, claramente, a crise no Brasil. Essa é uma crise diferente. Antes de mais nada, uma grave crise econômica. Mas também há a crise política, muito complexa – muitas pessoas não vislumbram uma solução a curto prazo, enquanto outras descrevem uma crise de valores. Então, a combinação desses fatores cria uma predisposição para que as pessoas busquem alternativas. A esse respeito eu diria que tem havido uma fuga de talentos como há muito tempo não se via, ao contrário dos fluxos migratórios mais recentes. São jovens altamente qualificados em busca de outras oportunidades. E há, ainda, o movimento de médio ou longo prazo das pessoas que querem viver noutros países. A crise tem criado esses efeitos em primeiro lugar”, explica Amaral.

Márcio Amaral, membro da comissão executiva do ISCTE.
Márcio Amaral, membro da comissão executiva do ISCTE. Divulgação

“O segundo fator, na minha opinião, tem a ver com a própria atratividade de Portugal, e sobretudo de Lisboa, como destino para estudantes. Lisboa tem sido consecutivamente premiada como um dos melhores destinos europeus, oferece boa qualidade de vida, um clima ameno, custo de vida relativamente baixo, um ambiente altamente internacionalizado e, acima de tudo, o próprio idioma. O fato de se falar português facilita a vida das pessoas vindas do Brasil e torna Lisboa um destino muito atrativo. O terceiro efeito é a própria movimentação das universidades portuguesas que já perceberam que têm nisso uma grande oportunidade. Algumas delas já aceitam o ENEM como critério de seleção para os cursos portugueses”, diz Amaral.

Estudo de caso

O carioca Marcelo Caldas, de 37 anos, faz parte desta estatística. Trocou o Rio de Janeiro por Lisboa, em 2016, para fazer um mestrado na Universidade Nova de Lisboa.

“A minha ideia de vir estudar em Portugal passou, principalmente, pela situação do Brasil, mas também por um certo incômodo com a minha situação. Há 18 anos fazia a mesma coisa e, de repente, achei que era hora de fazer uma mudança substancial na minha vida. A isso se somou a realidade brasileira, a questão da violência, principalmente na minha cidade, o Rio de Janeiro. Digamos que a situação do Brasil antecipou uma decisão que eu já estava amadurecendo havia dois anos, e que eu não via a hora de concretizar”, desabafa Marcelo.

Marcelo Caldas: "Não tenho plano algum de voltar ao Brasil".
Marcelo Caldas: "Não tenho plano algum de voltar ao Brasil". Arquivo pessoal

Vivendo em Lisboa, há menos de um ano, Marcelo diz estar muito satisfeito com a decisão de vir para Portugal. Criar raízes é o próximo passo.

“A experiência tem sido incrível! Eu gosto muito da cidade, eu acho que funciona muito bem, tem tudo o que uma cidade desenvolvida precisa oferecer mas com as características de uma cidade pequena. Para quem sai do caos e daquela vida muito hardcore do Rio de Janeiro, Lisboa é um bálsamo, uma alegria só. E, sinceramente, eu não tenho plano algum de voltar ao Brasil. O mestrado foi, no fundo, a justificativa perfeita para eu começar a construir uma vida aqui”.

Cidade da moda

Larissa Abbud, de 33 anos, também deixou o Rio de Janeiro para estudar em Lisboa e encontrou na cidade o que buscava. Estudante de mestrado em Ciências Gastronômicas, Larissa adora viver na capital portuguesa e já se sente em casa.

"Eu já queria fazer esse curso fazia muito tempo e só tinha em Portugal ou na Dinamarca e não tive dúvidas em optar por vir estudar em Lisboa. Vai fazer um ano que estou aqui e me sinto super adaptada. Lisboa é uma cidade que está na moda, tem gente do mundo inteiro, recebo muitos amigos sempre e isso ajuda muito", explica.

Assim como o conterrâneo Marcelo Caldas, a carioca também não tem planos para voltar à morar no Brasil. Sentir segurança e estar longe da violência do Rio de Janeiro é mais um motivo para querer ficar.

"No momento, não tenho intenção de regressar. Além de estar feliz em Portugal, tenho projetos no país e, no Brasil, não tenho nada em vista", conclui a estudante.

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