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Brasil-Mundo

Rockeiro punk brasileiro conquista a parada de sucessos da China

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Zhao Zi Long é o nome do baterista de uma das bandas de rock punk mais famosas de Pequim neste momento: a “Dirty Fingers”. Quem o conhece, no entanto, se surpreende: Zhao Zi Long, mais conhecido no Brasil como Alexandre Almeida, é curitibano, filho de cearenses.

Zhao Zi Long: nome de figura histórica adotado por Alexandre Almeida.
Zhao Zi Long: nome de figura histórica adotado por Alexandre Almeida. Arquivo Pessoal
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Vivian Oswald, correspondente da RFI em Pequim

Para facilitar sua vida na China, o imigrante Alexandre se permitiu ser rebatizado Zhao Zi Long, nome que lhe foi dado pela avó de um amigo, com quem bebeu uma garrafa inteira de Baijou (a bebida destilada tradicional chinesa). O nome, de um heróico general chinês, e a cara de ocidental fazem sucesso entre os locais, que frequentam a noite punk nos subterrâneos da capital.

A trajetória do brasileiro é daquelas histórias de transformação que só se ouve na China. Alexandre chegou, e se reinventou. Em 2102, chegou ao país para aprender o idioma e trabalhar com comércio exterior. Chegou a abrir a própria empresa com uma sócia, mas, depois de um ano, sentiu falta da música (que toca desde os 14 anos), da arte e das atividades criativas em sua vida.

“Aí, eu chutei o balde, saí fora e comecei a tocar com bandas punks e produzir festivais de cinema, filmes, coisas associadas com os chineses”, conta Alexandre.

Dedos Sujos

A banda surgiu quando o músico, trabalhando como auxiliar num museu de Xangai, conheceu um chinês, que se tornaria seu parceiro na futura “Dirty Fingers”. Alexandre e ele conversaram, ficaram amigos, começaram a tocar e fundaram o grupo.

“A gente gravou um álbum independente, colocou na internet para download e…”boom”. Teve gente que começou a falar que nós éramos a nova esperança do rock chinês, uma nova onda do rock chinês. Que, em 10 anos, nunca tinha surgido nada como isso aí”, lembra.

Animados com o sucesso, os músicos saíram em turnê pela China. Visitando de trem 35 províncias em quatro meses.

“Nesse período a gente conseguiu 70 mil downloads, sendo uma banda independente, e aí o jogo virou complemente. E a minha vida mudou. Comecei a virar profissional da música”, conta Alexandre.

Foi neste giro pela China que o brasileiro entendeu as dimensões desse país continental, como o Brasil, e passou a desconstruir os estereótipos que carregava. Viu, por exemplo, que não é em todo lugar que se come inseto no país, assim como não é em todo lugar que se come buchada de bode no Brasil.

“São vários países dentro de um só. Foi uma miscelânea de informação ‘overloaded’, que mudou completamente a minha perspectiva de mundo”, diz, maravilhado pelo país de adoção.

Coisas da máfia

A aventura da turnê rendeu ao músico muitos amigos, admiradores e causos que Alexandre narra com a competência de um contador de histórias.

“A gente estava em uma cidade lá do Sul, não era nem capital, era bem no interior. A gente tocou numa casa de show que era para gente mais velha, tipo um clube de meia idade. E o nosso público é jovem. Não tinha nenhum jovem naquele show especificamente. Depois do show, os caras vieram e me disseram: ‘ah, você é brasileiro, você não quer dar um rolê com gente numa casa de show?’ Aquela coisa, amigo gringo, né?”, conta. “Eles me colocaram na mesa VIP na casa de show. A chinesada toda bebendo, dançando, VIP, com o estrangeiro na mesa e tal. E eu, olhando para a pista de dança, vejo um cara atravessar a pista com uma faca na mão. Ele pula na outra mesa VIP e esfaqueia a sangue frio um sujeito, na frente de todo mundo. Gritaria e tal, vem a segurança. O pessoal da minha mesa fala: ‘não olha para lá, não. Isso não tem nada a ver com gente. É negócio da máfia deles’. Eu virei as costas e, cinco minutos depois, olhei para lá, já estava tudo limpo, sem sangue, todo mundo tinha ido embora e a música rolando naturalmente como se nada tivesse acontecido”.

Sete dias na cadeia

O sucesso deu visibilidade à banda, que é monitorada de perto pelas autoridades   como outras   e por um fã clube de 300 meninas. Mas a celebridade também criou problemas para o brasileiro e os seus amigos. Uma das moças se apaixonou pelo guitarrista sem ser correspondida. Depois de muitas cartas de amor, presentes tão estranhos como uma faca, roupas de inverno e pantufas, ela lhe mandou uma ameaça de morte. Assustado, o guitarrista foi à polícia, que lhe recomendou ignorar as ameaças.

“Fã psicopata, sabe?”, conta Alexandre. “Em retaliação, ela contratou um serviço da máfia, que, telefonando de dez números diferentes, informou a polícia que a gente estava fazendo festas de drogados. A polícia baixou lá na nossa casa como se fosse uma megaoperação contra as drogas, tipo operação do BOPE. Levaram a gente para estação policial. Fizeram exame de urina e descobriram que a gente tinha fumado maconha. Basicamente uma banda de moleques punks fumando maconha”, relata Alexandre, que ficou preso por sete dias.

Salvos pela fã

Mas isso já é coisa do passado. Hoje, a “Dirty Fingers” se prepara para alçar voos longos. O brasileiro tem muitos projetos. Acaba de se mudar para Pequim e garante que pretende ficar na China o quanto for possível.

“Na verdade, eu tenho que agradecer a essa fã psicopata, porque ela botou a banda em ordem. O barraco estava desarrumado. Essa é a verdade. A coisa estava em desordem naquela época. Depois da cadeia, gravamos um novo álbum, assinamos com uma gravadora. Recebi oferta de emprego em Pequim para tocar num espaço artístico, e ainda tocamos no maior festival de rock da China. Então, a banda ficou muito mais profissional e séria. Não nos envolvemos com drogas, não criamos associações perigosas. Estamos limpos, foco na banda, na arte. Ela basicamente nos tirou da molecagem para virarmos artistas profissionais”, conclui Alexandre, ou Zhao Zi Long.

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