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O Mundo Agora

Perspectiva de derrota do grupo EI acirra guerra pelo controle da região

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A guerra contra o dito “Estado Islâmico” nem acabou que a guerra pelo futuro da região já começou. Os terroristas islâmicos estão encurralados em Raqqa na Síria e Mossul no Iraque. Vai levar tempo, mas no final serão esmagados. Provavelmente não vai resolver o problema: os atentados terroristas não vão cessar tão cedo. Mas por enquanto, a preocupação é com o futuro a médio prazo. Que potência ou que coalizão de estados vai controlar a região?

Na fase pós-Estado Islâmico, que potência ou que coalizão de estados vai controlar a região?
Na fase pós-Estado Islâmico, que potência ou que coalizão de estados vai controlar a região? REUTERS/Rodi Said
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Na Síria, forças governamentais, apoiadas pelos russos, os xiitas do Hezbollah libanês e a Guarda Revolucionária iraniana estão avançando para impedir que os curdos e as forças sírias antigovernamentais, apoiados pelos americanos, tomem conta da região leste do país.

Pela primeira vez, os aviões da US Air Force bombardearam colunas de tanques e abateram um avião de combate e um drone do regime de Damasco. Não deu outra: os russos – padrinhos do ditador sírio Bashar Al-Assad – cortaram a cooperação militar aérea com os Estados Unidos e declararam que todo avião ocidental que atuasse a oeste do rio Eufrates seria considerado alvo para os caças russos. Ainda não é uma guerra aberta entre Moscou e Washington na Síria, mas o clima está esquentando.

Jogo de potências regionais

Esse ambiente de enfrentamento controlado entre os dois “Grandes” não seria tão angustiante sem o jogo das potências regionais. O objetivo do Irã é garantir o seu arco de influência xiita que vai de Teerã a Beirute, passando pelo governo iraquiano em Bagdá, o regime de Damasco e o Hezbollah libanês. Os iranianos, como os russos, querem manter Al-Assad no poder, mas também as rotas de passagem de armas e ajuda aos seus aliados libaneses, no leste da Síria e nas províncias ocidentais do Iraque.

Portanto, Teerã também ajuda o governo xiita de Bagdá a reconquistar estas regiões povoadas de sunitas e, em parte, controladas pelo grupo Estado Islâmico. Não é por acaso que as milícias xiitas iraquianas, enquadradas por oficiais iranianos, combatem junto com os americanos e a coalizão ocidental na tomada da cidade de Mossul. Na Síria, o Irã é inimigo de Washington. No Iraque é amigo. A Turquia complica ainda mais esse jogo.

O governo islâmico de Erdogan se apresenta como protetor dos sunitas e particularmente do grupo dos Irmãos Muçulmanos, considerados como inimigos figadais por quase todos os regimes autoritários árabes. Ankara vê o futuro da Síria com a oposição sunita no poder, sem Bashar Al-Assad e seus aliados xiitas. Só que para o governo turco, o maior inimigo continua sendo os curdos. Nem pensar em fortalecer os movimentos curdos na Síria, apoiados pelos americanos.

Erdogan bipolar namora os russos contra a política americana que favorece as milícias curdas, mas ao mesmo tempo, continua dentro da coalizão ocidental que patrocina os grupos sunitas anti-Al-Assad, também apoiados pelos americanos. Ninguém entende mais nada!

Novo capítulo da guerra de todos contra todos

O último episódio dessa nova guerra de todos contra todos é o bloqueio do Qatar pelo Egito, Arábia Saudita e seus aliados no Golfo. Esses países sunitas, inimigos absolutos do Irã xiita, não querem ser descartados do futuro da Síria e do Iraque. Bater no Qatar – um país que tem boas relações com Teerã e que apoia abertamente os Irmãos Muçulmanos sunitas – é uma maneira de tentar enfraquecer tanto a influência do Irã xiita quanto a da Irmandade Muçulmana sunita na região.

Hostis à presença iraniana na Síria e no Iraque, e à política turca de apoio à Irmandade, as monarquias do Golfo querem ver a caveira de Bashar Al-Assad e promover seus aliados sunitas mais tradicionalistas, os grupos salafistas. Claro, imediatamente a Turquia saiu ajudando o Qatar. Saia justa para Washington, grande aliado do Qatar e da Arábia Saudita.

A ironia dessas manobras bizantinas é que Rússia e Estados Unidos estão ameaçados pelos nanicos esquizofrênicos de suas coalizões respectivas de serem arrastados para um enfrentamento direto que os dois querem evitar a qualquer custo.

 

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