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Brasil-África

Capoeira reúne homens e mulheres no Egito

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A prática da capoeira ganha adeptos no Egito. As rodas colocam homens e mulheres em contato físico num país que vem lutado contra a escalada do radicalismo. Por iniciativa própria, egípcios e estrangeiros que moram no Cairo mantêm encontros semanais. Maus hábitos, como intolerência e drogas, também estão ficando pra trás, depois do contato com a cultura brasileira.  

Richard Furst
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Richard Furst, correspondente da RFI no Cairo

Os ouvidos confirmam as semelhanças entre as músicas tradicionais do Egito e os batuques da capoeira. De origens africanas, os ritmos seguiram histórias bem diferentes que agora se encontram nas rodas animadas da capital egípcia. Os encontros, realizados três vezes por semana, aocntecem no segundo andar de uma casa que fica atrás dos Jardins de Ezbekiya, centro do Cairo.

Não é apenas mais um grupo da modalidade. Trata-se de uma iniciativa dos próprios egípicios, que começou há quase cinco anos. Basta entrar no salão para escutar diferentes histórias. Além do som de atabaques e berimbaus, o que também está no ar são relatos de que muitos viram a vida se transformar com a prática da capoeira e com o contato com a cultura do Brasil. Tudo isso na maior metrópole árabe do mundo.

Nascido no Cairo, Kamal Anis, pratica capoeira há quatro anos e detalha que se sente uma pessoa mais flexível, não apenas fisicamente, mas também na vida. Tudo por ter se acostumado a ficar com os pés descalços e por considerar a capoeira como o primeiro esporte levado a sério na vida.

"Às vezes, deixamos de fazer apresentações públicas para evitar censuras de policiais nas ruas. O meu país é famoso pela história dos faraós, pela quantidade de mesquitas gigantes, mas não pelos berimbaus", relata Kamal.

Desafio buscando possibilidades

A prática da capoeira é uma oportunidade também de conexão de jovens egípcios com o mundo. O Egito parou de receber os grandes números de turistas interessados em conhecer de perto as riquezas históricas do país, devido aos registros crescentes de atentados e à insegurança que é sentida nas ruas. 

Gingando contra qualquer medo, quem definiu um lugar para os encontros foi Luis Carlos Rodriguez, conhecido como Periquito. Ele saiu do norte do México há três anos, deixou um pouco o sombrero mexicano de lado para entrar na capoeira, mas não abandonou por completo suas raízes. A bandeira mexicana também ocupa parte da sala. 

"Temos visitas de mestres e professores de todo o mundo, mas na verdade são as próprias pessoas e a energia do Egito que mantêm o grupo. É algo maravilhoso que tem mudado a vida das pessoas", desabafa orgulhoso Periquito que quer ampliar ainda mais o número de participantes.

A princípio, Periquito veio para dar uma oficina de capoeira por um mês e acabou ficando no país para fazer mestrado em engenharia. "A capoeira é vista como algo internacional, vindo do Brasil, mas que se tornou do mundo, é algo maravilhoso que muda a vida da gente constantemente. Muitos aqui se deram conta de como é bom não precisar de drogas, por exemplo, para se divertir", completa. 

Nada de segregação

Numa sociedade patriarcal, e onde os direitos das mulheres são uma luta diária, a capoeira chega como uma prática que não impõe divisões. Homens e mulheres treinam juntos num mesmo espaço. E para surpresa, numa parte do salão reservada para os treinos, três garotas ensinam novos passos para os meninos que acabaram de chegar. 

"Tem algo na cultura da capoeira que coloca as pessoas juntas para cantar, para conhecer a cultura, os movimentos do corpo. O mais interessante é que se eu for para outra parte do mundo, sei que vou encontrar mais pessoas que também conhecem esta arte", explica a egípcia Ragye Elmasry, uma amante da capoeira, que afirma se sentir no Brasil ao praticar a modalidade, mesmo sem nunca ter ido ao país.

Quem participa tem que pagar uma taxa simbólica para manter o salão. Dependendo do dia, a quantidade de participantes chega a 50 pessoas. Tudo é derivado do seguimento Capoeira Brasil. "É uma oportunidade de liberdade, não há divisões em times, sempre estamos juntos. As vezes chutamos um ao outro, isso é divertido, gera amizades e vemos o mundo de forma mais ampliada da que muita gente está acostumada no meu país", pontua Ragye que diz ter amigos mais modernos, mas até os de cabeça mais aberta se surpreendem com a participação dela no grupo. Eles esperavam que ela tivessa atitudes tipicamente de uma dona de casa.

Ela sorri ao contar o caso: "as pessoas esperam que eu seja mais "lady", mas estou com pés descalços. Eles me perguntam porque o seu pé está tão machucado, se mostram surpresos, eu logo repondo é o esporte e estou me divertindo".
 

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