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Linha Direta

Apesar da crise da carne, churrascarias continuam na moda em Pequim

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A capital chinesa já conta com 30 churrascarias, sendo que apenas duas são comandadas por brasileiros na cozinha. A carne servida nesses restaurantes em geral é importada da Austrália e do Uruguai. A maior parte da carne produzida no Brasil costuma abastecer as grandes redes de supermercados. Desde a deflagração da Operação Carne Fraca, o governo chinês suspendeu as importações brasileiras de carne, mas o movimento nas churrascarias ainda não foi afetado.

O churrasqueiro brasileiro Ceará reside na China há 17 anos.
O churrasqueiro brasileiro Ceará reside na China há 17 anos. V. Oswald
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Há 17 anos morando na China, o churrasqueiro Ceará conta que os chineses gostam do ambiente das churrascarias, da maneira como as carnes são preparadas e das porções bem-servidas. Ele conta que a principal diferença entre os dois tipos de estabelecimento é o rodízio, típico das churrascarias brasileiras. Os proprietários chineses preferem servir as carnes nos tradicionais bufês. Os churrasqueiros brasileiros também são essenciais no momento de ensinar os chineses a fazer o corte da picanha.

Desde que a China suspendeu as importações da carne brasileira na terça-feira passada, os gerentes desses estabelecimentos foram treinados para responder a eventuais dúvidas dos clientes. Foi da Ásia que saíram as primeiras reações ao escândalo provocado pela operação "Carne Fraca" realizada pela Polícia Federal.

A Coreia do Sul foi a primeira a suspender as importações, mas um dia depois voltou atrás porque não havia sinais de que a carne dos 21 frigoríficos investigados tivesse ido parar no país. A China e a cidade de Hong Kong foram mais radicais e pararam de importar. A mercadoria que já estava a caminho, ficou retida nos portos até segunda ordem.

Chineses podem trocar o produto ou receber o dinheiro de volta

Os efeitos do escândalo da carne adulterada vão além das operações de importação. Supermercados na China e em Hong Kong tiraram o produto brasileiro das prateleiras e avisaram aos clientes que, quem tiver comprado, pode ter o dinheiro de volta ou trocar as mercadorias por outros produtos.

A China comprou o equivalente a US$ 2 bilhões em carnes brasileiras no ano passado, entre bovinos, suínos e frangos. É o maior mercado para o Brasil no exterior. Hong Kong é o segundo maior comprador de frangos brasileiros no mundo. Uma coisa é certa: se as pessoas ficarem com medo de comprar, o Brasil levará tempo para recuperar a sua imagem entre os consumidores chinês.

Até hoje, a população não se recuperou de dois escândalos sucessivos envolvendo o leite, em 2009 e 2011. As fraudes provocaram mortes de crianças e adultos, além de gerar condenações à pena de morte. O produto adulterado causou intoxicações fatais. Até hoje, muitos consumidores chineses resistem a comprar leite, mesmo de marcas famosas. Volta e meia os fabricantes vão atrás de atletas para promover o produto em campanhas na mídia.

Pouca repercussão nas redes sociais

Curiosamente, o escândalo da carne brasileira ainda tem pouca repercussão. Na principal rede social do país, a Weibo, havia apenas 36 comentários sobre o assunto. Os jornais não têm dado destaque à notícia. Quando fazem, limitam-se a contar como foi a operação da polícia, mas evitam comentar a qualidade da carne importada. Há quem diga que uma das reações para isso está no fato de as autoridades chinesas temerem críticas às suas próprias inspeções.

Um técnico de exportação chinês deu algumas razões para o desinteresse. Em primeiro lugar, segundo ele, o governo não divulga informações detalhadas e poucas mídias estão acompanhando o caso. Além disso, ele destaca que o público já está bem acostumado com escândalos relacionados a má qualidade da comida na China. Recentemente, retiraram do mercado caldos de carnes e de legumes falsificados.

O técnico chinês ainda destacou que o público está mais preocupado neste momento com a questão do "Thaad", o sistema antimísseis que está sendo construído em conjunto pelos americanos e sul-coreanos no quintal da China. O tema é o sexto no ranking da rede social Weibo, mas o primeiro sobre assuntos estrangeiros, com 380 mil comentários.

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