A Turquia suspendeu as relações diplomáticas de alto escalão com a Holanda. A medida é uma retaliação do presidente turco, Recep Tayyp Erdogan, à decisão holandesa de impedir que ministros turcos participem de comícios políticos, no território holandês, dentro da campanha para o referendo constitucional de 16 de abril na Turquia.
Sandro Fernandes, em Istambul para a RFI
A crise diplomática com os europeus tornou-se um pretexto para Erdogan incitar o patriotismo em casa e convencer os turcos a endossar seu projeto de reforma constitucional, que amplia os poderes presidenciais. Ontem, o governo turco declarou que não vai permitir que o embaixador da Holanda, atualmente em férias, retorne a Ancara. O vice-premiê turco declarou que a Turquia está fazendo a mesma coisa que foi feita pelos holandeses.
Além disso, Erdogan, anunciou que vai à Corte Europeia de Direitos Humanos. Ele ficou furioso com o cancelamento da autorização de aterrissagem do chanceler turco, que pretendia participar de um comício pró-referendo na Holanda, e com a expulsão, no sábado (11), da ministra da Família turca. Ela também faria um comício político em Roterdã, mas foi escoltada pelas forças holandesas até a fronteira com a Alemanha, para onde foi mandada de volta. O presidente turco também considerou "desproporcional" a ação policial que dispersou uma manifestação turca no sábado, em Roterdã.
Nesta segunda-feira (13), o governo turco enviou duas notas diplomáticas à embaixada da Holanda em Ancara condenando energicamente o tratamento dado aos seus ministros. Erdogan chegou a dizer que a Holanda é uma "república de bananas". O chanceler turco afirmou que o país é a capital do fascismo. A Turquia exige de Haia um pedido de desculpas oficial, por escrito. O país adverte ainda que vai reavaliar o acordo com a União Europeia para conter o fluxo de refugiados para o bloco.
Europeus tentam acalmar o jogo, mas Turquia endurece ameaças
A Holanda avalia a crise sob outro ângulo. O governo holandês lembra que havia avisado que os comícios turcos estavam proibidos em seu território por questões de segurança e estima que cabe à Turquia se desculpar em primeiro lugar. O primeiro-ministro do país, Mark Rutte, já esclareceu que só vai negociar com a Turquia quando acabarem as ameaças. Rutte sublinha que a Turquia tem que pedir desculpas por ter chamado os holandeses de nazistas. Para o premiê, essas declarações são inaceitáveis, especialmente porque a Holanda também foi ocupada pelo regime nazista.
A União Europeia tenta acalmar a situação e pede que a Turquia não agrave ainda mais a crise diplomática, e que deixe de lado "as declarações e ações excessivas". Mas o Ministério das Relações Exteriores da Turquia reagiu afirmando que a declaração europeia "não tem nenhum valor" e acusou os europeus de "alimentar a xenofobia e sentimentos antiturcos".
Quem pegou carona nessa crise foi a extrema-direita. Na véspera das eleições legislativas desta quarta-feira (15) na Holanda, em que o partido xenófobo de Geert Wilders pode ter uma votação expressiva, o líder populista disse que os turcos não são e nunca serão europeus. Ele declarou que os turcos que moram na Holanda e apoiam o governo de Erdogan devem voltar à Turquia. A crise com Ancara pode despertar o patriotismo de muitos holandeses, aumentando o apoio ao partido nacionalista e anti-imigração de Wilders.
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