Acessar o conteúdo principal
O Mundo Agora

Numa perspectiva temporal mais larga, as coisas não são tão desesperadoras para 2017

Publicado em:

Já virou até chavão: em 2017, é apertar os cintos! A mídia, os políticos, os analistas, boa parte dos economistas e também dos cidadãos só enxergam nuvens e tempestades pela frente. Pudera: 2016 não foi fácil.

DR
Publicidade

A Síria afundou numa guerra com 400.000 mortos e milhões de refugiados. Montes de pessoas fugindo da violência ou da miséria arriscaram tudo para encontrar asilo na Europa, provocando uma preocupante crise política e social no Velho Continente. Outros milhões de refugiados estão apodrecendo em acampamentos sórdidos nos países vizinhos do Oriente Médio ou nos países pobres da África.

O terrorismo – islamita ou não – virou notícia quotidiana, criando um sentimento de insegurança no mundo todo. Regiões inteiras afundam na violência urbana e no tráfico de drogas, sem solução à vista. Enquanto isso, o crescimento econômico mundial continua pífio, jogando milhões de pessoas no desemprego.Tudo mundo sente que o planeta está no meio de uma nova revolução tecnológica de dimensões históricas que está enterrando os velhos modelos de produção e consumo. Sem que ninguém saiba o que virá no lugar.

E cavalgando essa angústia geral, uma nova raça de políticos populistas que vendem receitas autoritárias e xenófobas, assustando os cidadãos e inventando ameaças só para ganhar votos. Muita gente anda apavorada, com medo de novas guerras, tão mortíferas e generalizadas quanto as do século passado. O pessimismo, hoje, é fácil. Só que pessimismo e otimismo tem muito a ver com o tempo. Não há dúvida de que Donald Trump, agora chefe da maior potência mundial, é uma incógnita perigosa. Que a negociação da saída do Reino Unido da Europa pode deslocar a União Europeia.

Que Vladimir Putin pode desestabilizar o Velho Continente. Ou que o poder chinês acabe escorregando numa aventura militar no mar da China meridional. E que as próximas eleições gerais na França e na Alemanha podem favorecer partidos extremistas e chauvinistas. Todas essa catástrofes – e algumas outras mais – estão no horizonte de 2017. Porém, numa perspectiva temporal mais larga, as coisas não são tão desesperadoras. Desde que mundo é mundo quem anuncia o apocalipse nunca tem razão.

Era da super informação

Uma das causas do pessimismo ambiente vem do fato de que as pessoas estão super-informadas. As redes sociais e as televisões globais anunciam uma notícia ruim por minuto – não que haja mais tragédias, mas notícias ameaçadoras vendem mais. Se ainda por cima os políticos populistas sobem em cima, o medo se espalha. Mas um pouco de sangue frio não faz mal a ninguém.

Basta olhar para as estatísticas mundiais para constatar que nunca a humanidade viveu numa época tão próspera e pacífica. Nas últimas décadas, a esperança de vida da humanidade aumentou espetacularmente, enquanto a mortalidade infantil despencou. Desde 2005, a extrema pobreza no mundo (e até na África ou na Ásia do sul) diminui pela metade.

Globalização fez um mundo mais rico

A globalização fez um mundo muito mais rico, mesmo se a ascensão de uma pequena parte da classe média dos países desenvolvidos marcou passo. Claro, como em todos os grandes períodos de transição, as desigualdades aumentaram em várias regiões, mesmo se diminuíram globalmente. Mas pela primeira vez na história da humanidade, o aumento da riqueza dos ricos não provocou um aumento da pobreza dos pobres.

Todo mundo aproveitou o crescimento: uns mais, outros bem menos. Mas aproveitou. Quanto ao número de mortos em conflitos armados – e apesar do recente aumento devido à guerra na Síria – continua sendo o mais baixo desde 1945. Claro, não basta alinhar números mostrando que a médio prazo as coisas tem mais chances de melhorar do que piorar.

A onda de notícias horríveis, o oportunismo dos políticos autoritários e o sofrimento imediato daquela parte da população que paga o preço do ajuste e da mudança de época, criam um clima de angústia que está sendo aproveitado por demagogos irresponsáveis. Mas é melhor ser otimista. O otimista só sofre no fim, enquanto o pessimista sofre o tempo inteiro. Feliz e próspero 2017 para todos!

*Alfredo Valladão, do Instituto de Estudos Políticos de Paris, faz uma crônica de política internacional às segundas-feiras para a RFI

 

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.