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Saúde em dia

É preciso quebrar o silêncio sobre a depressão de pilotos, afirma psiquiatra

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Centenas de pilotos de vôos comerciais podem estar clinicamente sofrendo de depressão, alerta um novo estudo publicado pela Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard. A maioria dos profissionais, no entanto, prefere não procurar ajuda por medo de um possível impacto negativo em suas carreiras. Especialistas afirmam que é preciso quebrar o pacto de silêncio na categoria e enfrentar o estigma da doença.

Estudo diz que um em cada oito pilotos de avião é atingido por depressão.
Estudo diz que um em cada oito pilotos de avião é atingido por depressão. REUTERS/Benoit Tessier
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Segundo o estudo de Harvard, publicado em 14 de dezembro, 1 em cada 8 pilotos demonstra sinais claros de depressão, o que corresponde a cerca de 13% dos 1.850 pilotos de mais de 50 países entrevistados pelos especialistas. Para Gérard Arnoux, ex-piloto e comandante de bordo da Airfrance, e porta-voz do Comitê francês de Segurança Aérea, uma solução seria melhorar a fiscalização.

"Existem pilotos que vão tentar esconder porque eles têm medo de perder seu emprego. Evidente que isto deve acontecer, é humano. Os pilotos não são máquinas, são seres humanos. Acredito que seja importante melhorar o sistema de fiscalização médica dos pilotos e sobretudo não fazer como a Comissão Europeia, que deseja adotar o sistema anglo-saxão, ou seja, suprimir os centros independentes de perícia médica de pessoal, porque custam muito caro. Isso seria um grave erro", afirma Arnoux.

Segundo o relatório da pesquisa da Universidade de Harvard, cerca de 4% dos pilotos relataram ter tido pensamentos suicidas nas duas últimas semanas anteriores à sua participação no questionário, realizado sob anonimato. Para o ex-piloto da Airfrance, o problema exige investimento das companhias aéreas.

Segundo o psiquiatra Deyvis Rocha, tentar esconder sintomas da depressão não é privilégio dos pilotos. "Recebo muitos pacientes que temem revelar, até mesmo para os seus familiares, que têm problemas psiquiátricos, porque isso hoje é encarado como uma falha de caráter, como uma fraqueza moral, as pessoas geralmente se culpam por estarem com um problema psiquiátrico, e eu creio que na seara dos pilotos isso não deva ser diferente. A depressão é uma doença muito democrática, ela atinge todas as pessoas, em todos os níveis sociais, em todos os países", declarou.

O psiquiatra afirma, no entanto, que é necessário enfrentar o estigma da depressão. "Acho que os pilotos devem procurar ajuda. O tratamento psicológico e psiquiátrico para a depressão está altamente disponível e em poucas semanas a pessoa pode estar plenamente recuperada. É preciso que se supere esta barreira do estigma, que acomete não só os pilotos, mas muitas classes, acomete a sociedade como um todo", finalizou o psiquiatra.

A ANAC, a agência nacional da aviação civil brasileira, informou, através de sua assessoria de imprensa, que é a própria agência o órgão responsável por fiscalizar a saúde dos pilotos no Brasil. O controle é realizado por uma rede credenciada de médicos e clínicas, que por sua vez; também é fiscalizada pela Anac. Segundo a agência, os médicos credenciados participam anualmente de um evento de atualização periódica, onde recebem as diretrizes de saúde emanadas pela Organização de Aviação Civil Internacional (OACI).
 

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