Putin é a grande incógnita do próximo presidente dos EUA, aponta semanário francês
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A revista Courrier International, que traz destaques da imprensa mundial, tem na capa desta semana uma charge do presidente russo, de torso nu, em pose de caçador, com o pé em cima de um Bambi estatelado no chão. A manchete é: “Putin reacende a Guerra Fria”.
A matéria da revista americana Foreign Policy, assinada por Dan de Luce e Reid Standish, fala sobre "o dilema Putin", que vai ser o grande quebra-cabeça do(a) próximo(a) presidente dos Estados Unidos. “Putin ignora as velhas regras nucleares, atordoando Washington”, diz a manchete. “Antes Washington e Moscou mantinham a questão de controle de armas separada das crises mundiais. Mas essa era acabou e o novo presidente vai ter de decidir como lidar com isso”, abre o artigo.
A recente decisão de suspender um acordo crucial feito com os EUA, em 2009, sobre a reciclagem de plutônio militar e a transferência a Kaliningrado, no mar Báltico, de mísseis que podem ser equipados de ogivas nucleares são provas de como o líder russo pode levar a Rússia a novas e imprevisíveis demonstrações de força. Outros sinais são a anexação da Crimeia, os ataques aéreos em apoio ao regime sírio e as suspeitas de hackers perturbando a eleição presidencial americana.
Putin não respeita acordos tácitos
A administração Obama não conseguiu “ajustar” uma política com o Kremlin, analisa o texto republicado por Courrier, e fortalecida com a volta de Putin à presidência em 2012, “a Rússia ataca em frentes variadas, recusando-se a cooperar até mesmo em áreas de interesse comum, a fim de pressionar Washington em outras disputas”. Ou seja, o contrário dos acordos tácitos observados nos anos 1970, durante a Guerra Fria, quando as duas superpotências obedeciam limites claros e regras não escritas.
Principalmente as decisões nucleares, lembram os jornalistas americanos, ficavam à margem de outras querelas ao redor do globo. A recusa em discutir investidas de Obama sobre mais reduções nucleares põe em perigo os avanços conseguidos nos últimos 25 anos, uma vez que o novo acordo START, assinado em 2010, expira em 2021.
Candidatos divergem em relação a Putin
As posições dos dois candidatos à Casa Branca são diferentes. Enquanto Clinton bate de frente, Trump adota um tom mais ameno com a Rússia. O republicano vem pedindo uma colaboração mais estreita com o Kremlin no combate ao grupo Estado Islâmico na Síria, mas não é muito específico em relação a Putin, observa o artigo. Já a democrata tem a vantagem de ter sido secretária de Estado por quatro anos e ter assim lidado com a questão russa diretamente.
“Estamos vendo as táticas de Putin para se inserir em várias crises globais”, diz Julianne Smith, ex-funcionária sênior do Pentágono, citada pelo artigo. “Mas não sabemos até que ponto ele quer chegar”, acrescenta.
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