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Iraque/EI

"Existe um desprezo total pelas vidas humanas na batalha de Mossul", diz especialista

Em entrevista à RFI,  Loulouwa Al Rachid, pesquisadora da faculdade Sciences Po, a coalizão formada para retomar a cidade não levou em conta as perdas humanas na organização da batalha para vencer o grupo Estado Islâmico.

Les troupes des peshmergas kurdes font route vers Mossoul le 17 octobre 2016.
Les troupes des peshmergas kurdes font route vers Mossoul le 17 octobre 2016. REUTERS/Azad Lashkari
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A coalizão fala de uma batalha longa e decisiva . É isso mesmo?

Sim, a batalha será longa, mas o resultado não deixa dúvidas. Basta observar o equilíbrio de forças. A coalizão, que é bastante heterogênea, sai em franca vantagem e tem o apoio das forças aéreas da comunidade internacional que combatem na Síria. Não há a menor dúvida de que os 5.000 combatentes do grupo Estado Islâmico presentes em Mossul não poderão reverter o resultado dessa batalha.

Por que Mossul é uma cidade estratégica?

Para a coalizão, há razões simbólicas. Foi de uma mesquita de Mossul, por exemplo, que Abou Bakr al-Baghdadi al-Husseini al-Qurashi (líder do grupo EI) proclamou seu califado islâmico. É uma grande cidade sunita e estrategicamente importante porque faz fronteira com a Turquia e a Síria. Historicamente, culturalmente, economicamente e religiosamente também é fundamental. Para Baghdadi, é inadmissível que a cidade saia do controle do grupo EI.

E quanto à população? O que se pode esperar dessa ofensiva do ponto de vista humanitário?

O grande temor dessa batalha é justamente esse: combatentes vão lutar até o fim e provocar a destruição total da cidade de Mossul? Ainda é cedo para saber se essa ofensiva vai provocar um movimento de “pânico” na população. Mas a verdade é que não há preparativos para evitar uma catástrofe humanitária. Por enquanto, o governo iraquiano está sobrecarregado e não tem meios financeiros ou logísticos para enfrentar essa eventualidade. A coalizão internacional tem um desprezo total pelas vidas humanas, pelos civis e pelos habitantes de Mossul. Eles podem acabar no meio do fogo cruzado e o destino deles parece não preocupar ninguém – nem o grupo Estado Islâmico e nem aqueles que lutam contra ele.

A exemplo de Fallujah, existe o risco de centenas de milhares de pessoas acabarem nas estradas, desabrigadas, e ainda por cima em pleno inverno?

Sim. Fallujah ainda tinha muito menos habitantes, contrariamente a Mossul, que tem uma população entre 1 milhão e 1,5 milhão de pessoas. É uma área urbana, com grande densidade demográfica.
Sob bombardeios constantes, que durem semanas, haverá destruição humana e material, e em seguida, uma fuga em massa da população. Hoje, ninguém está preparado para essa emergência. As agências das Nações Unidas estão alertando para essa tragédia há semanas, mas a dimensão humanitária não foi levada em conta nos preparativos para essa batalha.

E a complexidade dessa coalizão, formada por diferentes elementos com interesses diversos, como curdos, polícia iraquiana, os pershmergas, milícias xiitas, os EUA, outros países ocidentais, inclusive a França? O que acontecerá depois da tomada de Mossul?

Por hora, o único objetivo é declarar a derrota do grupo EI. Em seguida, não há nenhum consenso. Cada um tem um interesse particular. Os curdos querem aumentar seu território, o mundo sunita está mais dividido do que nunca e nós provavelmente assistiremos a uma batalha sangrenta entre todas as partes que pretendem representar esse mundo sunita. Em nível regional, EUA, Turquia, Irã e os membros da coalizão têm opiniões totalmente diferentes sobre o que será feito de Mossul com a queda do grupo Estado Islâmico. Quanto ao governo turco, ele se diz defensor do sunismo diante da hegemonia do Irã. É uma região que pertenceu aos otomanos, e existe essa ideia do neotomanismo.
 

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